O Surgimento das Novas Economias

Muitos conhecem marcas como Ford, GM, Shell, GE. Ainda outros conhecem marcas como Microsoft, Apple, Google e Amazon. No entanto, já vamos diminuindo o número de pessoas que passam a conhecer empresas como Tesla, Salesforce, Nobank e Oyo.

Se você não conhece algumas dessas últimas que citei, não se preocupe, muita gente também não conhece, mas se me perguntar se seria bom conhecer, eu diria que sim.

No passado os cases que se estudavam nas escolas de administração e economia, muito com base nas empresas citadas no início, eram fonte de conhecimento por muitos anos. Ao passo que estudar empresas da nova economia já não garante que não tenha que rapidamente ter que estudar outros novos modelos de negócio que surgem o tempo todo. Por isso a importância do aprendizado rápido nesses casos.

E isso se deve ao fato de que mudanças tecnológicas têm mudado não apenas o que estudamos nas escolas de negócios, mas principalmente as bases da economia. O fato de tais mudanças estarem ocorrendo com uma frequência cada vez maior tornou o exercício de aprender e de prever a economia uma tarefa quase premonitória.

Desde o início da história de humanidade, há cerca de 10.000 anos, até o surgimento do comércio (a primeira das atividades econômicas, surgida nos últimos séculos antes de Cristo), a economia se desenvolveu com base na troca de mercadorias, consequência do homem ter se organizado em sociedades e sobrevivido da caça, da pesca, do extrativismo e, posteriormente, da agricultura de subsistência.

Durante os primeiros 1.000 anos depois de Cristo, a humanidade, que segue com a mesma base econômica de troca, potencializava o comércio por meio das estradas, muito desenvolvidas no período do Império Romano, que criaram as rotas romanas, estradas que conectavam todo os territórios sob seu domínio, permitindo não só o tráfego de mercadorias, mas também de ideias.

Em 1453, com a queda de Constantinopla pelo Império Otomano, liderada por Maomé II, o ocidente, tendo sua principal rota comercial de acesso às especiarias do oriente, aprimorou as técnicas de navegação, a primeira tecnologia que mudou as bases da economia vigente, pois a partir delas, Bartolomeu Dias, português, em 1488, chegou ao Cabo das Tormentas, sul da África, passando a se chamar Cabo da Boa Esperança, o que abriu caminho para outro português, Vasco da Gama, ser o primeiro a chegar à Índia pelo mar em 1497.

As grandes navegações tornaram Portugal e Espanha as maiores potências da época, que depois resultou no período do Imperialismo Colonial, e em seguida no desenvolvimento do metalismo, base para a economia financeira, que surgiria séculos depois.

O surgimento da economia financeira, somado à máquina a vapor de James Watt em 1777, e da máquina elétrica, de Werner Von Siemens, de 1886, inaugurou uma outra mudança tecnológica que novamente mudou as bases da economia, criando a economia industrial.

Ocorre que do início da economia financeira, para a economia industrial, passaram-se 250 anos, e para a mudança seguinte, que abriu caminho para os equipamentos eletrônicos que dominam a indústria e o consumo de hoje, passaram-se apenas pouco mais de 100 anos. A próxima mudança que viria a mexer novamente com as bases da economia foi a criação do transistor, em 1947, percursor do microprocessador de silício, que permitiu a difusão dos computadores pessoais (PC) na década 80.

Da máquina elétrica ao transistor foram cerca de 60 anos, e daí para o PC foram apenas 15 anos, e então vimos outra mudança tecnológica que transfomou novamente a economia, a internet, que passou a ser utilizada de forma massiva por volta de 1995.

Apenas 5 anos depois da internet iniciamos o século XXI, e novas tecnologias têm mudando as bases econômicas em questão de meses, como é o caso do 3G, 4G, 5G, Internet das Coisas (IOT), Big Data, Inteligência Artificial (IA), a ainda mais recentemente o 6G e a computação quântica.

O aumento exponencial do impacto das novas tecnologias na economia e a velocidade com que elas acontecem tornou a vida do homem comum da era moderna tão imprevisível quanto a vida do homem da era medieval, que convivia com a situação de a qualquer momento ter sua casa invadida por bárbaros ou ter toda sua colheita arruinada pelo tempo.

Em resumo, temos deixado para trás cada vez mais a economia tangível baseada em produtos e serviços e migrado cada vez mais para uma economia intangível baseada em dados, e isso está recriando as bases da economia de tal maneira que o caminho que trilhamos até aqui não será mais o caminho que devemos trilhar para chegar ao futuro.

E justamente por isso é que passamos a não falar mais de economia financeira, ou de serviços, e passamos a falar de economia colaborativa, compartilhada, circular, dentre outras que surgem a todo momento, pertencentes ao movimento das novas economias, baseadas em dados e na internet.

Em 2017 uma capa da revista The Economist simbolizou a transição para essa nova economia ao afirmar que o dado passou a ser o recurso mais valioso do mundo, colocando as novas empresas de tecnologia como Google e Facebook como se fossem as novas exploradoras de petróleo, mas ao invés de extrair o “ouro negro” extraíam dados.

O dado como o novo petróleo muda profundamente as bases econômicas da economia tradicional.  Na era do petróleo dependemos de um recurso escasso, limitado, não renovável e com materialidade. Já na era do dado o recurso é abundante, ilimitado, renovável e imaterial.

As consequências disso são imensas e se refletem no comportamento das gerações, impactando todas as organizações sociais, sejam públicas ou privadas, inclusive nas empresas.

A partir dessa mudança passamos a viver na economia da abundância, enquanto antes vivíamos na economia da escassez. Segundo um dos maiores sociólogos de nosso tempo, Zygmunt Bauman, estamos saindo do capitalismo pesado e entrando na era do capitalismo leve.

Nos próximos artigos vamos detalhar as características e os efeitos dessas mudanças trazidas pela nova economia que tanto têm determinado o sucesso de algumas empresas e a ruína de outras.

Por hora, tenhamos em mente que entender as novas economias, suas origens e seus caminhos é fundamental para que possamos inovar na prática.

Autor do artigo:
BRUNO MARANHÃO
Especialista em Inovação e Consultor fundador da Ventana Consultoria.

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