Regulamentação de smart grids
Por Octavio Brasil*
Embora a palavra crise seja negativa, no dinâmico mercado de tecnologia ela pode, muitas vezes, ser sinônimo de desafio. Desafio à inovação. E é justamente isso que vem provocando uma grande transformação no setor de energia elétrica.
O aumento da demanda e o crescimento das fontes de energias renováveis – com preços competitivos – na matriz energética já estão alterando a tradicional lógica da geração e da distribuição, que vêm deixando de ser atividades centralizadas e burocráticas para atividades cada vez mais democráticas e dinâmicas, já que pequenos empresários e até mesmo indivíduos podem assumir o papel de microgeradores de energia elétrica, seja para consumo próprio ou para obter créditos/descontos na sua conta. Para se ter uma ideia, mais de 30 mil casas e empresas brasileiras já produzem hoje grande parte da energia de que precisam.
Mesmo com iniciativas inovadoras de algumas concessionárias que já utilizam soluções avançadas em redes inteligentes, mais um passo decisivo para essa ‘necessária’ e ‘urgente’ transformação do setor de energia elétrica foi dado recentemente, quando a Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI) do Senado aprovou um projeto de lei que incentiva a modernização das instalações do serviço público de distribuição de energia elétrica com possível massificação dessas novas arquiteturas de redes inteligentes (smart grids). A proposta, que segue agora para decisão final da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT), prevê uma série de possibilidades para o consumidor, que poderá ter informações em tempo real do seu consumo de energia, da tarifa e da qualidade do serviço, assim como maior facilidade para gerar a própria energia e utilizar a rede elétrica como um acumulador para uso posterior.
Com a integração de medidores eletrônicos inteligentes, a interação distribuidora x residência torna-se de fato uma interação em tempo real. Isso significa um mundo de possibilidades para as concessionárias, que vão desde um controle mais assertivo dos ativos e de previsão de demanda, a possibilidade de parametrização remota de equipamentos de campo e o combate a todos os tipos de perdas e desperdícios.
É bem verdade que, para consumidores de grandes volumes de energia, as smart grids já são uma realidade nas maiores utilities do Brasil há algum tempo. A captação, a gestão, a análise e a integração com sistemas de grandes lotes diários de faturamento já utilizam infraestrutura de TI com grande capacidade de armazenamento e processamento. Contudo, a possibilidade de medir e analisar, em tempo real, dados de milhões de consumidores de energia na baixa tensão, por meio de medidores inteligentes e novas tecnologias de comunicação, certamente representa uma revolução em toda a cadeia.
As smart grids, é importante ressaltar, também servirão de base para a implementação de uma plataforma maior de Internet das Coisas (IoT), ou seja, a tendência de conectar diversos dispositivos, de eletrodomésticos até postes de luz, à web. Estima-se que a IoT chegará a 50 bilhões de conexões em 2023, sendo que a América Latina terá o maior crescimento de todas as regiões, com 26,7%, totalizando 995,5 milhões de acessos.
*Octavio Brasil é gerente da CAS Tecnologia