COBRECOM alerta para os riscos da utilização de cabos de alumínio cobreado

Nos últimos anos, a busca por alternativas mais econômicas em instalações elétricas tem levado muitos consumidores a optarem por fios e cabos elétricos de qualidade duvidosa como, por exemplo, os de alumínio cobreado.

Embora pareçam uma escolha atraente devido ao seu menor custo e peso reduzido, esses cabos assim como os demais condutores elétricos irregulares e os ‘desbitolados’ (que possuem menor quantidade de cobre) escondem uma série de riscos que podem comprometer a segurança e a eficiência das instalações elétricas.

Recentemente uma operação do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) por meio da 3ª Delegacia de Investigações sobre Crimes Patrimoniais Contra Órgãos e Serviços Públicos (Disccpat), em conjunto com o 4º Batalhão de Ações Especiais da Policia (Baep) apreendeu na zona leste de São Paulo/SP mais de 14 mil rolos de cabos elétricos irregulares, entre outros materiais.

A ação, que também teve a participação do corpo técnico do Sindicato da Indústria de Condutores Elétricos, Trefilação e Laminação de Metais Não Ferrosos do Estado de São Paulo (Sindicel) e da Associação Brasileira pela Qualidade dos Fios e Cabos Elétricos (Qualifio), resultou no fechamento da fábrica onde estavam os produtos irregulares e na prisão dos três responsáveis pelo local e que responderão por crimes contra relação de consumo, lavagem de dinheiro e associação criminosa.

O que são os cabos de alumínio cobreado?

De acordo com o professor e engenheiro eletricista Hilton Moreno, que também é consultor técnico da COBRECOM, esses produtos são cabos elétricos que têm o condutor metálico formado por fios de alumínio revestidos por uma fina camada de cobre, também conhecidos popularmente no mercado como “alucobre”, destacando que esse não é um termo normalizado.

“Porém, nenhuma das normas técnicas de instalações elétricas de média e baixa tensão no Brasil permite o uso de cabos de alumínio cobreado, resultando que tais condutores são proibidos nas instalações elétricas brasileiras”, alerta Hilton Moreno.

O profissional lembra que os cabos elétricos de baixa e média tensão no Brasil devem atender às normas técnicas de instalações elétricas correspondentes, que são, respectivamente, a ABNT NBR 5410 e ABNT NBR 14039.

Tais normas indicam que os condutores elétricos para uso nas instalações devem estar de acordo com as normas ABNT NBR NM 247-3 (cabos isolados em PVC – 450/750 V), ABNT NBR 7286 (cabos isolados em EPR – 0,6/1 kV e acima), ABNT NBR 7287 (cabos isolados em XLPE – 0,6/1 kV e acima), ABNT NBR 7288 (cabos isolados em PVC – 0,6/1 kV e acima) e ABNT NBR 13248 (cabos não halogenados – 450/750 V e 0,6/1 kV).

Hilton Moreno ressalta que, sob o ponto técnico, antes de falar do cabo de alumínio cobreado, é preciso lembrar que os cabos com condutores de alumínio, sem revestimento de cobre, podem ser utilizados nas instalações de baixa tensão, porém com severas restrições devido à complexidade para se realizar as conexões elétricas com este tipo de material.

“Neste sentido, o condutor de alumínio revestido de cobre tem as mesmas particularidades e exigências em relação às conexões elétricas, que, se não realizadas com as ferramentas, procedimentos e mão de obra especializada, representam sério perigo de incêndio e perda de energia nas instalações. Pelo aspecto da lei, os cabos de alumínio cobreado para uso em instalações elétricas de baixa e média tensão não possuem nenhuma norma técnica de fabricação nem de instalação, o que os torna terminantemente proibidos para estas utilizações”, atesta o consultor técnico da COBRECOM.

Por que o material é irregular?

Hilton Moreno esclarece que os cabos com condutores de alumínio cobreado não possuem normas técnicas apropriadas de fabricação e ensaios, nem normas técnicas de instalação que permitam seu uso.

“Além disso, dentre outras irregularidades, produtos fabricados com esses materiais ao serem utilizados nas instalações elétricas violam o Código de Defesa do Consumidor, em seu Artigo 39, que é uma lei federal. Portanto, sua fabricação, comercialização e utilização configuram um crime contra o consumidor”, completa o consultor técnico da COBRECOM.

O profissional ainda comenta que há vários casos de cabos elétricos fabricados com condutores cobreados à venda no mercado brasileiro, particularmente nas revendas de materiais elétricos e de construção, além de várias notícias de condutores deste tipo que são comprados diretamente por instaladoras e construtoras.

“E como é muito difícil, quase impossível, que um consumidor leigo consiga identificar visualmente um condutor de alumínio cobreado, uma dica importante é desconfiar de preços muito baixos de uma determinada marca em relação a outras marcas que seguem as normas técnicas. Neste caso, o preço muito baixo pode ser porque aquele cabo foi fabricado com condutor de alumínio cobreado, ou também o cabo é de cobre ‘desbitolado’, que utiliza matérias-primas inadequadas e não atende as normas”, orienta Hilton Moreno.

Outra dica é o consumidor final estar atento às informações da embalagem dos fios e cabos elétricos, em particular, o pedaço dela que mostra o selo do Inmetro e, nele, os dados que permitem verificar no site da instituição, se aquele selo é verdadeiro e está válido.

Tão importante quanto isso é o consumidor somente adquirir cabos de marcas que tenham boa reputação no mercado. Uma maneira de garantir a compra de marcas idôneas é consultando a lista de associados da Qualifio no site da entidade (qualifio.org.br).

Riscos de utilizar cabos de alumínio acobreado

O principal risco do uso desse material é a ocorrência de incêndios devido a problemas de sobreaquecimento nas emendas e terminações de cabos elétricos.

Outro problema sério com este produto é que ele é criminosamente apresentado como tendo seções nominais iguais às dos cabos com cobre.

“Acontece que as características técnicas de um condutor de alumínio cobreado são praticamente as mesmas de um condutor de alumínio, que, por sua vez, são bem diferentes e inferiores às do condutor de cobre”, alerta Hilton Moreno.

Segundo ele, fabricantes inescrupulosos que adotam essa prática se aproveitam do fato de a camada externa do condutor ser na cor do cobre e enganam os consumidores desavisados, que acham que aquele cabo é de cobre.

Hilton Moreno ainda explica que, além do mau contato resultante de conexões feitas de forma inadequada, o uso de um cabo de alumínio cobreado de uma dada seção nominal como se fosse a mesma seção nominal de um cabo de cobre pode levar à sobrecargas, que podem evoluir para curtos-circuitos e incêndios, além de representar aumento nas perdas energéticas e, consequentemente, no consumo de energia.

Como denunciar produtos irregulares

O caminho mais efetivo que existe para encaminhar denúncias sobre suspeita de fraude nos fios e cabos elétricos é entrar em contato com a Qualifio (Associação Brasileira pela Qualidade dos Fios e Cabos Elétricos).

A entidade, criada há 30 anos pelo próprio segmento de fios e cabos elétricos tem como objetivo principal fiscalizar e combater a comercialização de produtos irregulares, identificando os fabricantes desonestos e encaminhando o assunto para as autoridades competentes.

A Qualifio inclusive testa e avalia os fios e cabos de seus associados com o mesmo rigor que os das empresas não associadas.

E, caso seja encontrada alguma irregularidade, o fabricante associado é denunciado ao Inmetro e ao Órgão Certificador, podendo ser até mesmo desligado da entidade.

O site da associação é www.qualifio.org.br e tem um canal direto para que seja feita a denúncia anônima.

“Também é importante destacar que, dependendo da natureza do problema causado pelo uso dos fios e cabos elétricos irregulares, o lojista que comercializou o produto também pode ser denunciado no processo”, conclui Hilton Moreno.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.