Segurança e estética urbana: vale a pena investir no enterramento de redes elétricas?

As redes elétricas subterrâneas são um tema quente nas discussões sobre a modernização das cidades brasileiras, impulsionadas pela necessidade de aumentar a resiliência elétrica e melhorar a estética urbana. O enterramento das redes traz benefícios claros em termos de segurança e confiabilidade, reduzindo riscos de interrupções e acidentes em regiões sujeitas a quedas de árvores e tempestades intensas. Mas a viabilidade do projeto exige um olhar atento sobre os custos e a logística complexa dessa implantação.

“É inegável que o enterramento das redes elétricas contribui para a segurança pública e traz um impacto visual positivo nas cidades, mas trata-se de uma decisão que impacta diretamente a conta de energia do consumidor”, afirma Sidney Simonaggio, engenheiro eletrotécnico e advogado.

“Entretanto, o investimento inicial é alto e, por isso mesmo, requer uma participação equilibrada entre a concessão de energia elétrica, a municipalidade e o contribuinte. A insistência ao longo de todos esses anos passados em fazer com que tal investimento fosse suportado exclusivamente ou pela concessionária ou pela tarifa de energia elétrica, acabou tornando o assunto aparentemente sem solução, pois não remunera o investidor ou eleva demasiadamente o custo da energia”, comenta o especialista.

Dados recentes mostram que o enterramento das redes pode ser entre 10 e 20 vezes mais caro que as redes aéreas. Estudos conduzidos pela Emergency Preparedness Partnerships, em junho de 2018, nos Estados Unidos, confirmam que, enquanto o custo inicial é elevado, a resiliência das redes subterrâneas compensa, especialmente em áreas de alta densidade onde interrupções podem causar impactos econômicos severos, como atrasos e perda de produtividade para os negócios locais.

Simonaggio aponta que o sucesso em outras cidades ao redor do mundo, como em algumas regiões da Europa e nos Estados Unidos, dependeu de uma combinação de financiamento adequado, planejamento técnico detalhado e, principalmente, de um gestor para impulsionar o projeto e coordenar todos os agentes envolvidos.

Na maioria dos casos de sucesso, a municipalidade exerceu esse papel importante. “A grande vantagem das redes subterrâneas é sua maior imunidade a problemas climáticos, como ventos fortes; ambientais, como vegetação; e sociais, como vandalismo, comuns em redes aéreas, além do impacto visual e de segurança em áreas urbanas. Além disso, durante a fase de construção, poderá haver impacto significativo no trânsito das grandes cidades em função da interdição de ruas para abertura de valas e instalação de dutos.”

Além das questões de custo e de manutenção, o enterramento de redes elétricas demanda uma coordenação cuidadosa com outras infraestruturas já presentes no subsolo, como sistemas de água, gás e telecomunicações.

“Enterrar a rede elétrica é custoso, mas não é difícil. O verdadeiro desafio prático do enterramento está em promover o enterramento da rede de telecomunicações”, diz Simonaggio. “O modelo de negócio desse setor, onde cada operador pode colocar sua própria rede de fibra óptica, faz com que o enterramento seja praticamente impossível, uma vez que haverá rapidamente a saturação do espaço subterrâneo, assim como hoje está o espaço aéreo,” complementa o especialista.

Em regiões densamente povoadas, essa integração se torna um desafio adicional, como apontam especialistas. A cidade de Londres, por exemplo, relatou desafios significativos ao coordenar sua infraestrutura subterrânea, buscando minimizar os custos e o tempo de interrupção para a população.

Sidney finaliza com uma reflexão importante sobre o papel do poder público nesse processo: “O enterramento das redes elétricas no Brasil é um movimento de longo prazo, que exigirá políticas públicas bem estruturadas e planejamento financeiro. É uma inovação necessária, mas que demanda comprometimento dos setores público e privado para realmente gerar valor para a sociedade e justificar o investimento.”

Sobre Sidney Simonaggio 

Sidney é um renomado especialista em energia com 45 anos de experiência no setor elétrico, incluindo atuação como CEO, COO, CRO, consultor e conselheiro de diversas empresas brasileiras do ramo, e contribuições significativas para o desenvolvimento e regulação da distribuição, transmissão e geração de energia no Brasil.

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