Inovação sem Medo
Diferente do que percebe o senso comum, inovação não é apenas uma tecnologia, software, ou a automação de processo. Trata-se de um conceito amplo, mas que basicamente pode ser entendido como a soma da invenção com o resultado.
Bruno Maranhão – Consultor e diretor-executivo da Abreme
O assunto inovação tornou-se finalmente tema do senso comum. O que antes estava restrito às universidades, departamentos de tecnologia ou P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) das empresas, em cerca de dez anos passou a frequentar os corredores de corporações, palestras, campanhas políticas, conversar em torno do bebedouro, chegando a mais de 44 milhões de resultados ao se pesquisar no Google.
Diante da importância e popularidade do tema, a Revista Potência lança esta coluna, com minha colaboração, na qual buscaremos trazer a inovação para mais perto dos negócios.
A partir dela, o objetivo não será tratar da inovação tecnológica, como também foi papel desta revista durante todos esses anos de sua existência, mas trazer outro prisma para o assunto e dedicar-se à inovação como conceito, buscando seu aspecto estratégico, abordagem esta que tem sido fonte de oportunidades, mas também dúvidas e preocupações de empresas, governos e profissionais.
Desta forma, a melhor maneira de iniciar esta coluna é localizando o que de fato é inovação para nós nesta coluna.
Diferente do que percebe o senso comum, não é apenas uma tecnologia, um software, ou uma automação de processo. Muito além disso, trata-se de um conceito amplo, mas que basicamente pode ser entendido como a soma da invenção com o resultado.
A invenção por si só, sem que traga valor prático para quem se utiliza dela, não é inovação, assim como o resultado que não foi obtido de forma nova, tampouco pode ser considerada uma inovação. Nesta linha, Geoff Nicholson, considerado o pai do Post-it, afirma que a “inovação é transformar conhecimento em dinheiro”.
Há outras definições mais acadêmicas, assim como é possível classificar a inovação em: disruptiva ou de sustentação; aberta ou fechada; de marketing, produto, serviço, organizacional, processo ou de modelo de negócio, mas ao final continua sendo uma invenção que traz resultado.
A partir deste conceito abordaremos a aplicação prática da inovação, trazendo temas e discussões de forma a desmistificar o medo do novo e tornar a inovação algo prático e com foco no resultado, como deve ser.
Um amigo me contou uma vez como perdeu o medo de voar. Cansado de deixar para traz oportunidades profissionais e pessoais por medo de avião, decidiu assistir a todo e qualquer tipo de documentário com o tema “acidente aéreo”. Funcionou.
Depois de uns tantos vídeos, tomou consciência de tudo que envolvia um acidente de avião, percebeu que são uma série de fatores que levam ao acidente e que estatisticamente a probabilidade de sofrer um acidente aéreo só não era menor que andar de elevador.
Talvez não seja a receita certa para tratar o medo de avião, mas a ideia aqui é que ao se criar maior consciência sobre a inovação ela deixe de ser uma barreira para a transformação tão necessária a muitos negócios.
Costumo dizer que a mudança se dá pelo amor ou pela dor, e assim também é nos negócios. No entanto, infelizmente a inovação tem sido motivada pela dor, ou melhor, pelo medo de empresários e executivos serem engolidos por algum modelo de negócio novo que não se tinha até então no radar.
Jorge Paulo Lemann, fundador e sócio do 3G, controlador das empresas Anheuser-Busch, Kraft Heinz e Burger King, afirmou na conferência anual do Instituto Milken, em Los Angeles, no dia 30 de abril deste ano, o seguinte: “Eu sou um dinossauro apavorado”.
Cleyton Christensen, professor da Harvard Business School, que cunhou o termo “inovação disruptiva” e é autor do livro “O Dilema do Inovador”, já em 1997 justificava o sentimento de Lemann, explicando que para se gerar inovação há que se admitir riscos e buscar nichos de mercado que são inviáveis para empresas consolidadas em seus setores.
A boa notícia é que esta mudança não precisa acontecer pela dor, mas para isso é fundamental o domínio do processo de mudança da inovação.
Uma imagem que uso para explicar como seria controlar o processo de mudança da inovação é de náufragos em um barco de madeira onde os tripulantes não são capazes de enxergar o horizonte, mas enxergá-lo seria muito útil para saber para onde estão indo, se há algum obstáculo, ilha, tempestade ou alguma embarcação que os possa resgatar.
Assim um membro da tripulação teve a ideia de fazer um buraco no casco do barco, de modo que poderiam ver o horizonte. Mas a questão era: onde fazer o buraco? Se acima do nível da água tudo bem, objetivo é cumprido, mas se abaixo, todos afundam.
Controlar o processo da mudança da inovação é estabelecer onde fazer o furo no barco. Sem domínio deste processo, tenho visto muitas empresas passando pelas 5 fases do luto de seus negócios (negação, raiva, barganha, depressão e aceitação).
Inicia-se com a negação, o executivo ou empresário afirma algo como, “isso não funciona no nosso mercado” ou “esse tipo de coisa só vai acontecer daqui a muito tempo”. Apenas vale lembrar que os Smartphones surgiram em 2007, um pouco mais de 10 anos!
Depois vem a raiva, fase na qual é comum escutarmos algo como: “essas empresas tinham que ser proibidas”, ou “é um risco para quem compra”. Situação parecida com os comentários dos taxistas ao se depararem com o crescimento exponencial do UBER em São Paulo.
Em seguida a fase da barganha, onde muitas empresas se encontram neste momento, em que investem os recursos que têm e, algumas vezes, que não têm em treinamentos e dinâmicas voltadas à inovação, como os já populares cursos de Design Thinking, que têm muito valor, mas sem a aplicação correta vira apenas um quadro colorido de post-its. Em alguns casos, nesta fase a empresa pode até vir a comprar startups, mas ao final nenhuma destas iniciativas trazem resultado, uma vez que mesmo com todo o investimento não é capaz de transformar o conhecimento em dinheiro.
Chega a fase da depressão, fase em que todos na empresa se sentem incompetentes, pois a mudança foi tentada e não gerou resultado e se não foi, por que não foi?
Finalmente a aceitação. Caso a empresa chegue até esta fase, é possível que perceba que a inovação é um processo de mudança complexo, mas que há conhecimentos e técnicas para desenvolvê-la e que é fundamental o patrocínio dos acionistas e proprietários, bem como uma visão estratégica bem elaborada e alguma aptidão para o risco.
O novo século trouxe uma nova era, não só para os negócios, mas para a sociedade e o indivíduo, lutar contra ela é inexoravelmente improdutivo. Portanto, esses novos tempos nos exigirão coragem e sabedoria para lidar com algo que sempre esteve presente: o novo.