Consumir de forma controlada
Soluções para monitoramento da demanda de energia, tecnologias de automação predial e gerenciamento das edificações tornam as plantas e instalações mais eficientes e a gestão mais simples, segura e independente.
Reportagem: Clarice Bombana
O mercado de gestão e eficiência energética cresce de forma acelerada anualmente no Brasil. A demanda por instalações mais eficientes surge da necessidade de redução do custo de operação das instalações, que influenciam diretamente os custos totais dos negócios de uma empresa. Como exemplo, podemos citar os sistemas elétricos como o de iluminação, gestão de cargas, controle do sombreamento para reduzir a carga térmica dos ambientes e todas as gestões de serviços prediais, muitas vezes esquecidas e que ocasionam desperdícios de energia e dinheiro, que podem ser evitados com certa facilidade.
O fato é que hoje as empresas querem melhorar a eficiência e reduzir os gastos com energia elétrica. “Existem companhias que não dispõem de um sistema eficiente para controlar sua demanda, ou seja, monitorar a quantidade de energia que pode consumir num determinado período. Logo, além de gastarem muito com o consumo não gerenciado, pagam multas quando extrapolam a demanda contratada junto à concessionária ou quando não fazem uma devida correção do seu fator de potência”, coloca Thiago Pacheco Veiga, engenheiro eletricista da empresa BASE Energia.
Por outro lado, a utilização de soluções para automação predial e gestão das edificações torna o controle mais eficiente e a gestão mais simples. Nas aplicações industriais são utilizadas práticas já consagradas no mercado, tais como controle inteligente de motores, dimensionamento das cargas, automação de processo e máquinas, entre outras. A gestão de sistemas de consumo de energia ganhou força com a chegada da Indústria 4.0, facilitando o gerenciamento, monitoramento e controle das plantas industriais e de centros e prédios comerciais, com tecnologia de computação em nuvem.
“O avanço e popularização das soluções e produtos disponíveis no mercado faz com que o segmento de gestão energética acompanhe a evolução do PIB brasileiro e as nossas perspectivas são muito positivas para os próximos anos”, afirma Moisés Quatrin, especialista em Automação Predial da ABB. “Devido à redução do tempo de retorno do investimento, as oportunidades geradas para clientes finais e projetistas crescem todos os anos. Dentre as várias tecnologias oferecidas, destacamos as linhas que utilizam protocolos de comunicação que possibilitam a integração de vários produtos existentes no mercado”.
De acordo com Quatrin, a necessidade de redução dos custos de operação das empresas, residências, indústrias e comércio é o principal fator que impulsiona as vendas das soluções de monitoramento e gestão do consumo de energia. Em segundo plano, mas não menos importante, a necessidade de simplificar a gestão destes empreendimentos, pois sistemas muito grandes e complexos necessitam de investimento em tecnologia e eficiência energética para manter a competitividade. Muitas multinacionais seguem diretrizes globais e, para obter determinadas certificações, é necessário implementar sistemas de gestão. Outro incentivo são os projetos de cogeração, para reduzir os gastos com energia e outros insumos.
As tecnologias utilizadas pelos sistemas de gestão geralmente são baseadas em um software e um sistema de coleta de dados de consumo de energia na planta. Esse sistema físico coleta as informações (potência ativa, reativa, consumo, etc.) e entrega para a plataforma (software), que calcula a demanda, o consumo e gera algumas tendências.
Em relação à qualidade dos produtos e sistemas comercializados, hoje a oferta é bem diversificada, com soluções para vários bolsos e objetivos.
Existem vários players que atuam no Brasil nesta área. Alguns são 100% nacionais, mas a maioria são multinacionais, ou seja, os sistemas de gestão e as plataformas vêm do exterior e são customizados. Rodrigo Rodrigues, coordenador de Desenvolvimento de Novos Negócios da Wago Brasil, calcula que 60% das soluções comercializadas aqui são importadas e 40% são nacionais.
Segundo ele, a principal tendência desse mercado não é mais armazenar a informação localmente e sim transferir para uma nuvem porque o investimento se torna menor e facilita o acesso às informações, seja de qualquer hora, de qualquer local e de qualquer dispositivo. “Na parte do hardware, a tendência é que os dispositivos, máquinas/equipamentos incluam os protocolos de IoT, para facilitar a integração entre a leitura, a medição e a nuvem, de maneira absolutamente segura”.
Funções & Aplicações
A principal função do sistema de gerenciamento é integrar todos os elementos que consomem energia dentro da planta ou instalação e mostrar, através de uma plataforma de software, como está sendo esse consumo. Por meio deste processo, consegue-se criar perfis de carga e identificar se esses consumos estão muito baixos ou muito altos e assim tomar ações. O sistema também faz o controle da demanda e pode corrigir o fator de potência.
As principais vantagens em optar por um sistema de gestão de energia, segundo Thiago Pacheco Veiga, é que as empresas passam a ter uma ideia efetiva do seu consumo real (por equipamento ou por setor) e podem traçar algumas tendências e perfis de carga que vão ajudá-las a tomar decisões corretas quanto aos investimentos para redução do consumo de energia, além de detectar problemas convencionais que ocorrem nas plantas com outras utilidades, como água, gás e ar comprimido.
Entre outras aplicações, podemos citar a automação predial, em que a ideia principal é que o conforto e as funcionalidades das edificações sejam aprimorados com a automação dos sistemas de iluminação, climatização e controle de qualidade do ar, o sombreamento por breezes ou persianas feito mediante a posição solar real, o desligamento de cargas nos momentos em que não são utilizadas.
“A gestão e controle de todos os sistemas elétricos e hidráulicos prediais são os alvos mais comuns da automação. Estas tecnologias atingem o máximo do seu potencial quando pensadas desde o início dos projetos, no entanto, contamos com produtos próprios para retrofit que não deixam de fora nenhuma inovação já existente”, declara Quatrin. “A experiência da ABB mostra que a automação pode ser aplicada em qualquer edificação e que, quanto maior a instalação, maior é o potencial de economia de energia, embora percentualmente os valores de redução para uma edificação nova ou existente, grande ou pequena, sejam muito próximos”.
Os benefícios das soluções de gerenciamento de energia e automação são inúmeros, apontam os fabricantes. A começar, é possível obter uma redução de até 60% do gasto energético comparado a uma mesma instalação sem automação. Outra vantagem é a gestão, que pode ser feita de forma automatizada, localmente ou remotamente, por uma empresa ou pessoa a partir de qualquer lugar do planeta. “Um fato interessante da automação predial é que não existem muitos fatores negativos na implementação da solução. Quando incorporamos um novo sistema a qualquer edifício, existe um aumento de custo, pois novos produtos e serviços são adicionados, no entanto, este aumento de custo da obra retorna rapidamente ao bolso do investidor, pois a economia de energia é consideravelmente grande”, complementa o executivo da ABB.
No mercado de automação predial, há o domínio de empresas multinacionais de grande porte; na automação residencial, o predomínio é de soluções nacionais, muito influenciadas pelo custo dos sistemas.
Portanto, o mercado pode ser dividido em duas partes: existem muitos fabricantes nacionais e multinacionais com produtos de altíssima qualidade, geralmente atendendo aos mercados de prédios comerciais, infraestrutura, hotéis e residências de alto padrão. Também existem produtos de menor custo e tecnicamente mais específicos (por exemplo, lâmpadas com automação própria, produtos do tipo faça você mesmo, etc.), geralmente utilizados no mercado de automação residencial.
No mercado da construção civil não existe uma regulamentação específica que abranja toda a automação residencial ou predial. Existem várias normas para sistemas menores, como cabeamento, protocolos de comunicação e integração. Em sua maioria, essas normas ainda não têm tradução e interpretação nacional, o que não impede os projetistas de utilizarem as normas internacionais ISO/IEC.
“Para o mercado predial, costumamos dizer que a automação é uma ferramenta para atingir altos níveis de serviço, logo, o principal cuidado a ser tomado é que os sistemas sejam compatíveis e a principal dica é optar por protocolos como o KNX, que é multifabricante e tem como premissa básica a interoperabilidade entre todos os produtos. É desejável também que estes produtos acumulem certificações de qualidade e os fabricantes tenham ISO 9001, por exemplo”, aponta Quatrin.
Quanto às novidades, a gestão na nuvem é um grande avanço para o mercado predial e industrial. Já para as residências, a integração dos eletrodomésticos e as redes de Internet das Coisas (IoT), como a Mozaiq, são as principais inovações e avanços. A abertura de muitos protocolos também é um fato a ser comemorado, pois quanto mais universal for a linguagem utilizada, mais fácil será a comunicação entre os produtos.
De acordo com Quatrin, no mercado predial, a principal tendência são as casas e edifícios inteligentes, em que tudo, da automação da distribuição de energia em média tensão, passando pelos controles prediais, até a automação utilizada pelos usuários estejam cada mais conectadas, formando um sistema chamado de BMS (Building Management System). No mercado residencial, existe a tendência de incluir todos os produtos eletroeletrônicos na automação, sejam lâmpadas, geladeiras, sistemas de climatização, etc.