O Nome do Jogo
O Nome do Jogo
A inovação disruptiva foi um termo cunhando pelo professor de Harvard, Clayton M. Christensen, em sua pesquisa sobre a indústria do disco rígido e, mais tarde, popularizada com o seu livro ‘O Dilema do Inovador’, publicado em 1997.
Inovação disruptiva é o fenômeno pelo qual uma inovação transforma um mercado ou setor existente através da introdução de simplicidade, conveniência e acessibilidade em empresas onde a complicação e o alto custo são o “status quo”.
Quando um nicho de mercado já está defasado (ou se mantém numa constante, sem crescimento ou sem novidades) e parece desinteressante ou ir relevante, é surpreendido por um novo produto ou ideia, que redefine completamente a indústria.
Um professor meu na Babson College, certa vez me disse, “o nome do jogo é saber criar e destruir negócios”. Parece radical, mas talvez de fato seja isso mesmo. A inovação disruptiva está aí para isso, conforme definiu o Prof. Christensen.
O difícil em tudo isso é dizer para alguém que para ele criar uma inovação disruptiva, alguma coisa será destruída, senão não é disruptiva.
O Uber acabou com o monopólio dos táxis, o Whatsapp com as mensagens de texto, o Netflix com as vídeo locadoras, e assim vai. Todos concordam que esses novos modelos de negócio são melhores que os antigos (“status quo”), mas também concordam que, para isso, o antigo teve que ser abandonado.
E mesmo sabendo disso, vejo empresas falarem em inovação disruptiva, mas sem considerar, ou responder, o que está disposto a destruir.
Como convencer os principais steak holders de que a inovação disruptiva de fato poderá proporcionar novos horizontes para a empresa e seus consumidores, mas que para isso, alguém vai perder?
Como a inovação disruptiva foca exclusivamente no cliente, algumas vezes estes que perdem podem ser funcionários e até mesmo acionistas que sabem conduzir o negócio no seu modelo tradicional, mas não nesse novo modelo disruptivo que surge.
Saber quem vai perder é determinante para avançar com a iniciativa de disrupção, até porque há questões éticas envolvidas, pode-se chegar à conclusão de que quem perde é a sociedade, como é o caso do bitcoin quando utilizado para fraudes, golpes, ou para o comércio de armas e drogas.
Não estou a dizer que a inovação disruptiva seja ruim, longe disso, e como sempre nesta coluna estamos para desmistificar alguns dogmas que têm surgido com a popularidade do assunto inovação. Certamente que as empresas e os empreendedores devem buscar por meio da disrupção a melhoria de serviços e produtos, apenas estou alertando que um item nessa criação é saber quem vai perder, seja por questões éticas, como já foi dito, ou por questões estratégicas para identificar onde estará a principal resistência do novo modelo de negócio.
Neste sentido, já ficou claro que este é um dos principais motivos pelo qual uma inovação não acontece dentro de grandes empresas, pois percebe-se no meio dela que quem irá perder pode ser a própria empresa que está investindo na inovação.
Certa vez, na presença do responsável do marketing de uma multinacional brasileira, falávamos do conceito de marketplace. Certo ponto da conversa foi dito por esta pessoa: “não estamos interessados em marketplace, pois não queremos nosso produto sendo comparado com outros produtos de mercado de menor qualidade, quando sabemos que na internet o cliente irá buscar o menor preço e hoje temos a maior parcela do mercado”.
Embora este trecho da conversa seja tão rico a ponto de gerar diversas análises a respeito do conflito entre antigos e novos modelos de negócio, o que é mais importante para este texto é o fato de que para a empresa em questão, uma inovação disruptiva de fato não é nada conveniente, pois esta já possui a maior parcela do mercado e não tem esta posição baseada em preço. Justo não?
Exemplifico com este caso para mostrar o quanto é importante pensar em quem vai perder com a disrupção, neste caso a empresa não irá colocar em risco sua posição, qualidade do produto e margens apenas para participar de uma inovação disruptiva.
Por outro lado, todos acompanharam este ano o anúncio dos correios que passaram a cobrar tarifa extra de produtos importados em virtude do aumento de importações de pessoas físicas por meio de compras online em sites internacionais.
Sim, é justo defender sua posição de “status quo”, mas será que é efetiva? Já respondo que não.
Na economia digitalizada tornou-se impossível defender sua posição de líder sem inovar. Observemos o caso da Amazon, que criou a venda de livros on-line, mas que buscou ela mesma a criar e destruir seus próprios modelos de negócio quando criou o Kindle e passou a vender livros virtuais, ao invés de livros em papel.
Em resumo, há que compreender muito bem as consequências de um processo de inovação disruptiva, pois se de um lado é justa a defesa do “status quo”, do outro, na nova economia digitalizada, isso não é mais garantia de manutenção dele.
Com a compreensão estratégica do processo de inovação, empresas passam a investir sem medo em inovações disruptivas, pois dessa forma estarão à frente do processo, o que é muito melhor que estar atrás dele e ser surpreendido por um novo modelo de negócio disruptivo.
É o que a Cubo, um misto de aceleradora de startups e espaço para promover a inovação do Itaú faz. Seu objetivo não é apenas investir em startups disruptivas com um foco de investidor, o que faria total sentido para um banco, mas sim estar atento ao que acontece no meio das startups e identificar uma ameaça disruptiva enquanto ainda em fase pré-operacional ao invés de ter que comprar depois menos de 50% das ações por 5,7 bilhões de reais como foi o caso da compra da XP Investimentos.
Nem todas as soluções passam pela criação de uma unidade de inovação como é o caso da Cubo, há outras formas de promover a inovação sem matar a galinha dos ovos de ouro, mas para isso conhecer o processo de inovação disruptiva é fundamental. As empresas devem antes de mais nada, e como em qualquer plano estratégico, analisar seus riscos e saber como mitiga-los.
A inovação disruptiva acontecerá de qualquer forma, e se você é o “status quo”, minha recomendação: participe do processo de forma consciente para não colocar tudo a perder, mas faça isso com desprendimento, com a verdadeira intenção de destruir o negócio se isso for necessário e se for para construir algo novo e muito melhor, afinal, criar e destruir negócios passou a ser o nome do jogo.