A energia que o Brasil precisa
Por Jackson Chirollo*
Em meio a pior crise hídrica histórica enfrentada pelo País, que deverá se arrastar em 2022, sem dúvida, podemos confirmar que a descentralização para geração elétrica é o caminho para o desenvolvimento sustentável. Permitir com regras mais justas e transparentes pelo empoderamento do consumidor em produzir sua própria energia por fonte renovável irá gerar impactos positivos na economia, sociedade e meio ambiente. O PL 5.829, aprovado este ano no Congresso, tende a se tornar logo em breve o Marco Legal para permitir entre várias fontes renováveis, a energia solar fotovoltaica mais inclusiva e garantindo amparo legal aos brasileiros que desejam gerar sua própria energia.
Completando 10 anos em 2022, da primeira resolução normativa que permite a própria geração de energia pelos consumidores de pequeno e médio porte, Resolução Normativa ANEEL nº 482/2012, verificamos que a curva exponencial de crescimento foi apenas nos últimos quatro anos e atingiu apenas aproximados 1%, em um universo com mais de 82 milhões de Unidades Consumidoras (UC).
O PL 5.829, apresentado em novembro de 2019 e aprovado no Congresso em 2021, cria regras para um ambiente regulatório mais equilibrado para os envolvidos no segmento de Mini e Microgeração própria de energia elétrica, proporcionando o primeiro Marco Legal da Geração Distribuída no País.
Esse Marco Legal deverá fomentar novos horizontes de negócios e uma transformação energética. Mantendo algumas regras já praticadas, aprimorando novas metodologias e evoluindo nosso atual cenário normativo, possibilitando inclusive a concessionaria de energia local adquirir do proprietário da Mini/Micro Usina os créditos em kWh gerados e não compensado na carga ou em outra UC que participa do Sistema de Compensação de Energia Elétrica (SCEE).
Podemos ver, como modelo do que está acontecendo no mundo hoje, o que pode acontecer no Brasil se demorarmos mais para colocar em prática o Marco Legal da Geração Distribuída. Aumentos astronômicos nos preços do carvão e dos combustíveis fósseis, para manter funcionando as usinas termoelétricas, um grande caos já anunciado.
Como exemplo desse cenário, temos a China, segunda maior economia do mundo, que está passando por uma séria crise energética devido sua dependência no carvão, levando a cortes de energia em fábricas e residências devido a escassez do material, o que está impactando sua economia, com grandes companhias da indústria tendo perdas de produção de até 30% ao dia, além de outros países.
Especialistas já preveem alta nos preços dos produtos destinados aos clientes finais, uma vez que a indústria chinesa, responsável pelo consumo de 59% da energia elétrica do país, mais do que todas as casas, lojas de varejo e escritórios somados, deve repassar o preço do aumento do custo da energia aos consumidores, como o Brasil, uma vez que somos grandes exportadores de commodities do país asiático.
Apesar do mega plano, anunciado este ano pelo governo chinês, de migrar o consumo de energia para fontes renováveis, com esta crise a China já cogita aumentar o consumo de fontes poluentes para atender à demanda da população por energia no inverno, que deve chegar a menos zero graus, o que para muitos cientistas é um resultado do Aquecimento Global.
E não é só a China. Na Europa, o Gás Natural (GN), recurso energético tão valorizado pela baixa produção de poluentes, agora é o vilão do aumento da tarifa energética. Desde o começo desse ano, o Gás Natural já soma um aumento de 600% no continente europeu, depois de um inverno rigoroso e de um verão que registrou temperaturas altíssimas, o que ocasionou um alto consumo por parte da população, ampla usuária do GN.
A crise energética global deve aumentar a demanda por petróleo em 500 mil barris por dia (Barrel per Day – BPD) e pode impulsionar a inflação e desacelerar a recuperação mundial da pandemia pós-Covid19, de acordo com análise da Agência Internacional de Energia (AIE). Dessa forma, vemos um círculo vicioso sendo criado, no qual é preciso gerar energia a partir de fontes poluentes, ao mesmo tempo em que alimentamos com Gases de Efeito Estufa (GEE) o problema climático.
Parece um filme de ficção, mas é algo que está acontecendo hoje, e que vai impactar o nosso futuro. Já estamos falando de uma frota de veículos elétricos no Brasil, que deve chegar a 180 mil unidades até 2030, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), mas quem vai dar conta de carregar tantos veículos elétricos? De onde virá a energia para isso? E, principalmente, quanto isso irá custar para o consumidor? No final das contas, o preço da eletricidade pode ser o grande impeditivo para ‘encher o tanque’.
Agora, se tivermos meios de gerar e comercializar energia em nossas próprias casas, para distribuí-la na rede elétrica, como é a proposta do PL 5.928, criaremos milhares, se não milhões, de usinas geradoras, barateando a produção e transmissão de energia no país. Em outras palavras, cada residência, planta de fábrica, prédio, faculdade, hospital, comércio etc., poderá se tornar uma micro usina de energia, podendo transmitir a energia gerada ao vizinho, por exemplo.
São muitos os fatores que estão levando cidades e países a apostarem na energia solar fotovoltaica, aumentando vertiginosamente o interesse e consequentemente atitudes dos consumidores em investirem em geração própria de energia.
A adoção de investimentos em projetos de energia por fonte solar, individualmente pelos consumidores, empresas e organizações, é sem dúvida uma das principais tecnologias disruptivas com exponencial contribuição nas ações contra as mudanças climáticas, contribuindo para minimizar ao máximo a emissão de gás carbônico (CO2), quando evita-se gerar GEE pela própria produção ou consumo de energia elétrica por usinas térmicas. Em uma transformação global de conceitos, acelerada também pela pandemia, a energia solar fotovoltaica permanecerá firme pelas próximas eras de transições, agregando de alguma forma com um propósito muito maior, o nosso planeta.
Além desses fatores, que levaram os brasileiros a terem um olhar mais atento em vários aspectos do cotidiano, há também o aumento da tarifa de energia elétrica, que desde 2015 subiu mais de 100%, somado à maior crise hídrica enfrentada pelo país nos últimos 91 anos, encarecendo ainda mais a conta do consumidor. Em contrapartida os custos com implementação de projetos em energia solar nos últimos 5 anos caíram aproximados 50%, aumentando exponencialmente a atratividade econômica na geração de energia solar.
A cada mês, semana, todos os dias, os brasileiros têm sempre bons motivos e estão mais confiantes em gerar sua própria energia por fonte renovável. Encerramos o mês de agosto deste ano, com ministro da economia anunciando contínuos aumentos de taxas extras na conta de luz nos próximos meses e comenta “Não adianta ficar sentado chorando”, enquanto o presidente pede à população que apague um ponto de luz e suas residências “para economizar energia”.
Recentemente aprovado pelo Senado, o PL 2015/2021, que permite a inclusão do valor de aquisição e instalação de sistemas solares fotovoltaico no imóvel por meio de financiamentos imobiliário no âmbito do SFH, são grandes avanços em “doses homeopáticas” de uma transição energética e economicamente inclusiva.
Realmente, não há dúvidas, muitos brasileiros irão apostar em sua independência energética pela própria geração e em breve no armazenamento em baterias, é apenas uma questão de tempo e deveremos ter uma disrupção energética, seguindo países que já adotaram a geração solar fotovoltaica como a energia do futuro, sendo a única que permite democratizar o acesso à energia.
Isso porque a energia solar fotovoltaica, pela sua modularidade e rápida implementação, é a única forma de possibilitar a adoção em massa de geração própria de energia elétrica por fonte renovável. Seja em residências, comércios ou qualquer tipo de estabelecimento em grandes centros habitados. Possibilitando assim, a médio e longo prazo uma maior independência da geração centralizada em razão de já termos as hidrelétricas ameaçadas por crises hídricas e as usinas térmicas com elevadas emissões de GEE. Além dos impactos prejudiciais à sociedade, meio ambiente e grandes perdas devido as distâncias dos consumidores de energia.
Prezados, concordo plenamente com o explanada. Um dos grandes gargalos para a disseminação dos veículos elétricos é a tecnologia das baterias que tem ainda um alto custo, cerca de 30% do seu preço final e a pouca autonomia para longos percursos agravado no nosso meio pela falta de infraestrutura, como os eletro-postos. Quanto às pesquisas atinentes às baterias temos o cobalto que a mais interessante matéria prima para elas, superando os tradicionais lítios, níquel, cobre, chumbo. Os resultados obtidos são promissores tanto no peso quanto na autonomia. Já comentei que os novos projetos, sobretudo, dos grandes condomínios residenciais têm que contemplar o aumento de demanda devido aos carregamento dos veículos elétricos. É um desafio para as normas , para as distribuidoras e concessionárias e energia elétricas. O integradores, projetistas, investidores do setor de geração fotovoltaica se queixam da “burrocracia” dessa empresas. São exigências absurdas que provocam atrasos, desestímulos e retrabalhos inadmissíveis. Engenheiro, Professor, mestre em ciências de engenharia elétrica-COPPE/UFRJ, projetista em eficiência energética e geração fotovoltaica.
A energia eólica de pequeno porte como aerogeradores instalados nos telhados das residências especialmente na periferia urbana e nas áreas rurais são opções que não são consideradas.
Da mesma forma a pequena hidrogenação em corregos e pequenos cursos de água também não são propagados pelas mídias sejam elas especializadas como essa aqui ou pela mídia em geral.
A mão invisível do mercado é que provoca toda a forma de distorção da realidade. Mas devagar as evidências vão aparecendo especialmente quando as coisas apertam aparece o “general intelect” para dar conta dos problemas do mundo.