Cabo, conexão e futuro: a infraestrutura invisível da transição energética

Por Jair Ordenes*

A transição energética é frequentemente associada a imagens de painéis solares, turbinas eólicas e veículos elétricos circulando pelas cidades. No entanto, há uma camada menos visível, mas igualmente essencial, para que essa transformação ocorra: a infraestrutura elétrica que conecta tudo isso. São os cabos, conectores e sistemas de transmissão que viabilizam o funcionamento das redes renováveis e garantem segurança, eficiência e durabilidade em ambientes cada vez mais exigentes.

O Brasil vive um dos momentos mais dinâmicos de sua história energética recente. Segundo dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), o país deve adicionar cerca de 13,2 GW de nova capacidade solar em 2025, alcançando mais de 64 GW instalados até o fim do ano. O investimento estimado para o período é de aproximadamente R$ 39 bilhões, impulsionado principalmente pela geração distribuída e por grandes usinas fotovoltaicas. No campo da mobilidade elétrica, o crescimento segue a mesma tendência. De acordo com a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), o Brasil ultrapassou a marca de 177 mil veículos eletrificados leves emplacados em 2024, um aumento de quase 90% em relação ao ano anterior. A infraestrutura de recarga também avança e já está presente em cerca de 25% dos municípios brasileiros, embora ainda concentrada nas regiões Sul e Sudeste.

Esses números revelam um movimento irreversível em direção à descarbonização. Mas, para sustentar esse avanço, é preciso garantir que toda a base técnica da cadeia, especialmente os sistemas de cabos e conexões, acompanhe as exigências de desempenho, segurança e longevidade desses novos modelos energéticos. Nas instalações solares, por exemplo, a escolha de cabos e conectores adequados é determinante para a eficiência do sistema. Em projetos fotovoltaicos de grande escala, cabos de baixa qualidade podem representar perdas de energia e até riscos de segurança. Por isso, a indústria tem evoluído para materiais e processos mais duráveis, como os cabos solares reticulados por feixe de elétrons, sem halogênio e resistentes a intempéries, projetados para operar com confiabilidade por até 25 anos em ambientes de alta exposição térmica e UV.

Esse tipo de tecnologia é fundamental para o sucesso da transição energética. Um sistema fotovoltaico só é verdadeiramente sustentável quando cada componente contribui para reduzir custos de manutenção, evitar substituições precoces e prolongar o ciclo de vida da instalação. A expansão das energias renováveis e da mobilidade elétrica traz também desafios específicos de infraestrutura, como a padronização de componentes e certificações técnicas, a capacitação de profissionais e a conscientização sobre o custo total de propriedade. Produtos mais duráveis podem custar mais no início, mas reduzem gastos operacionais e ambientais no longo prazo.

Ao mesmo tempo, essas exigências abrem oportunidades para fornecedores, engenheiros e integradores que invistam em inovação, qualidade e segurança. O Brasil reúne condições ideais para liderar esse avanço: matriz elétrica limpa, cadeia industrial em crescimento e consumidores cada vez mais atentos à sustentabilidade. A transição energética não depende apenas da geração limpa, mas da infraestrutura silenciosa que conecta tudo isso. A eficiência dos cabos, a resistência dos materiais e a confiabilidade das conexões são fatores tão estratégicos quanto o desenvolvimento de novos painéis solares ou baterias. Em última análise, o sucesso dessa transformação dependerá da soma entre tecnologia, engenharia de longo prazo e decisões responsáveis, fatores que muitas vezes passam despercebidos, mas sustentam todo o sistema.

*Jair Ordenes
Engenheiro de aplicações na LAPP

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