Nos últimos anos, a cibersegurança ganhou prioridade absoluta nas agendas corporativas, impulsionada pelo avanço dos ataques a infraestruturas críticas em todo o mundo. No entanto, há um elo muitas vezes invisível nessa cadeia de proteção: a energia elétrica. Em um cenário em que falhas energéticas podem interromper operações, corromper dados ou até abrir brechas para ataques digitais, fica cada vez mais claro que a segurança da informação também começa na tomada.

Segundo dados da ANEEL, em 2024 os consumidores brasileiros ficaram em média 10 horas e 24 minutos sem energia ao longo do ano. Apesar da leve melhora em relação a 2023, o número ainda evidencia a vulnerabilidade da infraestrutura elétrica nacional. Cada hora sem fornecimento não representa apenas desconforto: para empresas, significa risco de paralisação de sistemas críticos, falhas em backups e, consequentemente, brechas adicionais para ataques cibernéticos. Complementando esse panorama, o IBM Security X-Force Threat Intelligence Index 2024 mostrou que o setor de energia ficou em quarto lugar entre os mais atacados globalmente, com 10% dos incidentes, já que invasores continuam explorando vulnerabilidades operacionais e a infraestrutura crítica desse segmento.
Na prática, a transformação digital levou a uma interdependência inédita entre tecnologia da informação e infraestrutura elétrica. Data centers, sistemas de refrigeração, backups e firewalls dependem de energia estável para funcionar. Ao mesmo tempo, redes inteligentes, dispositivos IoT e sistemas de controle industrial ampliaram a superfície de ataque, tornando a própria rede elétrica um alvo de interesse para agentes maliciosos. Assim, o que antes era tratado como mera questão de infraestrutura predial passou a ser parte essencial da estratégia de proteção de dados e continuidade dos negócios.
De acordo com Jamil Mouallem, sócio-diretor Comercial e de Marketing da TS Shara, o caminho para reduzir riscos começa por integrar energia e segurança no mesmo plano estratégico:
“Para fortalecer a proteção desde a base, é fundamental que as empresas tratem a infraestrutura energética como componente ativo da cibersegurança. Isso significa garantir redundância para os ativos críticos, monitorar continuamente a qualidade da energia, testar a resiliência dos sistemas diante de possíveis falhas e, sobretudo, incluir o risco energético no plano de continuidade dos negócios. Muitas vezes, as organizações investem em soluções sofisticadas de segurança digital, mas ignoram que um pico ou uma queda de energia pode comprometer tudo isso em segundos.”
Além da visão estratégica, algumas medidas práticas podem apoiar as organizações:
- Redundância energética: manter sistemas de backup, como geradores e UPS, para assegurar continuidade mesmo em caso de falhas.
- Monitoramento constante: acompanhar em tempo real a qualidade da energia para identificar flutuações que possam comprometer dados e equipamentos.
- Proteção de ponta a ponta: utilizar filtros de linha, estabilizadores e nobreaks, prevenindo danos provocados por picos ou quedas de energia.
- Testes periódicos: simular cenários de falha para garantir que os planos de contingência realmente funcionem quando necessários.
- Integração de riscos: considerar a energia como parte do plano de cibersegurança, e não apenas como infraestrutura física de apoio.
“Ao ampliar o olhar para além do digital, empresas e governos reconhecem que a proteção de dados também passa por energia limpa, estável e resiliente”, afirma Mouallem. Em um ambiente de ameaças cada vez mais complexas, de blecautes e desastres naturais a ataques ciberfísicos, a integração entre infraestrutura elétrica e segurança da informação é o que garantirá a continuidade das operações e a preservação da confiança em um mundo conectado.