Reino Unido e Brasil: Parceiros em energia
RIO DE JANEIRO SEDIA SÉTIMA ETAPA DO UK & BRAZIL: PARTNERS IN ENERGY, EVENTO QUE REUNIU MAIS DE 300 PESSOAS PARA DISCUTIR SINERGIAS E OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS ENTRE OS DOIS PAÍSES NA ÁREA DE ENERGIA.
No último dia 04 de junho ocorreu na cidade do Rio de Janeiro mais uma edição do UK & Brazil: Partners in Energy. Promovido pelo Ministério do Comércio Internacional do Reino Unido (DIT) no Brasil e pelo time de Prosperity Fund, o evento é anual e chegou à sua sétima edição, se consolidando como uma importante plataforma para que empresas brasileiras e britânicas do setor de energia e agências de ambos governos compartilhem conhecimento e identifiquem oportunidades.
Joanna Crellin, Cônsul Geral do Consulado Britânico em São Paulo e Comissária Britânica de Sua Majestade para Comércio na América Latina e Caribe, comenta que o evento é uma ótima maneira de promover negócios e compartilhar experiências entre britânicos e brasileiros na área de energia. “Esse setor é crucial para ambos os países e tanto Reino Unido quanto o Brasil são atores globais nessa área”.
“Brasil e Reino Unido já possuem uma relação saudável de comércio: o Brasil é o principal destino de produtos e serviços britânicos na América Latina. Em contrapartida, o Brasil é, também, o maior investidor da região no Reino Unido. O setor de energia é um dos mais importantes nessa relação, com mais de 200 empresas britânicas presentes no Brasil desenvolvendo projetos com parceiros locais, inclusive, operando com alguns dos maiores investidores do setor de energia”, comenta Vijay Rangarajan, embaixador britânico no Brasil.
Quase 30 empresas britânicas marcaram presença no evento. A boa notícia é que a maioria delas é nova no mercado brasileiro, fato que demonstra a confiança no País, especialmente no que tange às áreas de óleo e gás e energias renováveis.
O evento foi estruturado em torno de oito workshops sobre os temas energia solar; inovação elétrica; parques eólicos marítimos; biocombustíveis e biogás; mercado de gás natural; tecnologias submarinas; como maximizar a recuperação de óleo; construção marítima e manutenção. Todos contaram com a participação de especialistas do governo britânico e de empresas e entidades brasileiras, como Aneel, ABEEólica, ANP, Absolar, Shell e Petrobras.
O UK & Brazil: Partners in Energy também foi o palco do lançamento do Programa de Energia do Prosperity Fund no Brasil, no valor de £ 25 milhões. Trata-se de um fundo do governo britânico que busca promover a cooperação entre o Reino Unido e países parceiros para eliminar barreiras ao desenvolvimento econômico e social com projetos que apoiem o País na transição para uma economia de baixo carbono até 2023.
“A importância do setor energético para o desenvolvimento é inegável. O foco do projeto do Prosperity Fund é trabalhar com instituições e a indústria local para testar tecnologias piloto e apoiar o desenvolvimento de regulamentação no setor, garantindo maior acesso à energia limpa para estimular o crescimento inclusivo e a redução da pobreza, além de uma transição sustentável da matriz energética do País”, explica Simon Wood, Cônsul Britânico no Rio de Janeiro.
Discussões de alto nível em busca de oportunidades
O debate que fez parte da planária de abertura do evento foi uma amostra significativa do interesse em viabilizar parcerias entre governo, empresas e entidades dos dois países. Nas palavras dos convidados ficou claro que há grandes oportunidades a serem exploradas tanto no Brasil quanto no Reino Unido, e que o caminho para o sucesso dos negócios entre os dois países passa por discussões, troca de experiências e investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Veja a seguir um pouco do que foi dito pelos palestrantes:
Dirceu A. Morelli | diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP)
Em relação à questão energética, é importante dizer que o Brasil tem uma série de programas e o de biocombustível é um deles. A nossa matriz energética é uma das mais limpas do mundo e não queremos que ela fique carbonizada. O gás, por exemplo, será muito bem-vindo no sentido de nos mantermos como uma das matrizes mais limpas do mundo.
Claro que temos oportunidades em outras fontes primárias de energia, mas prioritariamente, como sou da ANP, estou falando aqui do gás e do biocombustível, que estamos trabalhando para que sejam criadas as condições necessárias para que as empresas venham para o País e sintam segurança para investir.
Uma coisa importante é que temos muita experiência que pode ser trocada. Há pouco tempo, por exemplo, fizemos uma regulação que foi bastante inspirada no modelo britânico. Costumo dizer que países que já viveram algumas experiências, principalmente na área de regulação, podem nos inspirar ou nos indicar caminhos para que a gente ache soluções.
Em contrapartida, no Brasil, nós como reguladores, podemos dar as informações necessárias para criar a confiabilidade necessária para que outros governos e empresas possam vir para o País e se assegurar que estão trabalhando com um País que tem tradição em honrar seus contratos.
Angélica Ambrosini | chefe da Assessoria Internacional da ANEEL
Esse é um importante evento para o governo britânico, para a cooperação bilateral com o Brasil. Sem dúvida essa é uma plataforma para que empresas e agências governamentais dos dois países possam discutir o futuro no cenário energético e seu mercado, sobretudo oportunidades de investimento aqui e lá.
Nesse ano apresento aqui uma nova estrutura que a ANEEL criou na agência. No caminho de ser uma agência modelo no Brasil na regulação de energia, a diretoria colegiada implantou uma instituição dentro da agência que é representada pela Assessoria Internacional, representada por uma diplomata de carreira do Itamaraty, para fomentar exatamente essa esfera da interlocução da agência no cenário internacional.
Vou destacar três grandes eixos de nossa atuação para que a gente possa explorar esses canais de interlocução com o governo britânico:
➧ O primeiro é para a área de convênios e acordos internacionais com agências reguladoras do mundo inteiro. E tanto acordos bilaterais, como firmamos recentemente com Chile e Portugal, quanto multilaterais.
➧ O segundo eixo é o apoio a investidores estrangeiros. Queremos abrir na ANEEL um canal de comunicação mais transparente e fluido com os investidores estrangeiros. Então, estamos à disposição para estabelecer este diálogo, pois o investidor quer conhecer o marco regulatório de maneira transparente, aberta, previsível, estável, e este canal de interlocução está muito mais aberto com nossa assessoria internacional.
➧ O terceiro eixo de cooperação é o da cooperação técnica. Temos na ANEEL um histórico denso de relação bilateral com o Reino Unido. O lançamento do Programa Prosperity Fund no Brasil se deu em 2011 e na ANEEL o início dos projetos se deu em 2012. Desde então tivemos cinco projetos desenvolvidos de cooperação bilateral na agência, entre eles, o de regulação elétrica para reduzir custos energéticos; programas de capacitação em energia; apoio à regulação no setor elétrico; intercâmbio em energia de baixo carbono, e armazenamento energético no Brasil – tecnologias, regulação e políticas públicas.
André Araújo | presidente da Shell Brasil
Temos 106 anos de Brasil, e já vimos diversos tipos de ambiente. Mas a empresa continua confiando no País, com algumas decisões recentes de investimentos que dão um sinal claro de que, mesmo em momentos em
que muitos têm dúvidas sobre o ambiente, a gente continua acreditando de forma bastante firme.
O presidente mundial do Grupo Shell esteve no Brasil recentemente se encontrou com o presidente Bolsonaro, com o ministro de Minas e Energia, com o presidente da ANP, e em diversas mensagens deixamos claro essa expectativa de crescimento no País.
A Shell é muito forte no varejo no País. Mas também somos fortes na produção de etanol. E sem dúvida a transição energética já faz parte da companhia, pois olhamos novos caminhos e vemos o Brasil de uma forma estratégica. Gás natural é o caminho que enxergamos como consequência natural de nossos investimentos em óleo, na nossa produção no pré-sal. Recentemente anunciamos a decisão de participar de um investimento de geração de energia a gás, que junta desde o gás do pré-sal até a comercialização de energia. É um projeto anunciado recentemente no estado do Rio de Janeiro.
Temos também uma equipe dedicada em São Paulo, analisando alternativas de energia solar. No cenário brasileiro sabemos que a energia solar terá um papel importante e queremos participar, no momento adequado, com projetos adequados.
Marcelo Batalha | gerente Executivo de Logística, Manutenção e Suporte da Petrobras
Se olharmos o que era a indústria de energia há 10 anos, e tudo o que fizemos para nos transformar e chegar ao que somos hoje, e projetarmos os próximos 10 anos, vemos que será mais difícil tentarmos nos reinventar. A sociedade está mudando, assim como o perfil de consumo. A sociedade como um todo está empurrando a indústria para uma transformação, para essa busca de uma matriz mais limpa de geração de energia. E o Brasil está numa posição de destaque, de protagonismo nessa virada.
Nossa matriz energética hoje é limpa. Mas o que é estimulante é que ainda temos uma participação tímida da energia solar na matriz. Mas a eólica já apresenta resultados mais expressivos. E os preços das renováveis estão cada vez mais atraentes. Então, há indícios de que a mudança está vindo e pode vir bem mais rápida do que estamos imaginando.
O Brasil está numa posição privilegiada porque vemos um potencial enorme na eólica no País. A Petrobras está começando um projeto de geração eólica na costa do Rio Grande do Norte, onde vamos instalar um
gerador de águas rasas nesse projeto, de 16 metros e com a produção entre 6 e 10 MW.
Lógico que esses investimentos e pesquisas da Petrobras têm de estar associados ao nosso negócio de produção de óleo e gás, onde somos fortes e o Brasil tem um potencial enorme. De qualquer forma, vemos grandes oportunidades em óleo e gás, com o gás crescendo no País, assim como o grande potencial de eólica e solar, que tende a trazer resultados positivos.
Agnes Maria Aragão da Costa | chefe de Regulação do Ministério de Minas e Energia
Estamos trabalhando no paralelo coisas muito semelhantes. Vejo que a questão do ritmo de transição energética não tem muito a ver com a parte de desenho de mercados. Quando falamos, por exemplo, de eólica offshore, tem toda uma questão de regulação que teremos que olhar, fazer o dever de casa, olhar o que está sendo feito fora e aplicar aqui. Na parte de planejamento energético também, porque quando discutimos modernização do mercado, quando falamos dessas novas tecnologias mais distribuídas, a gente tem que ver a experiência de outros países. E isso tem a ver com a inserção de novas tecnologias no mercado de forma sustentável e de forma que a gente consiga que todos os projetos sejam financiáveis.
Além disso, o desenvolvimento do mercado de gás natural é essencial para nós, pois temos a riqueza do pré-sal. Temos desafios grandes de construir as redes, mas também temos a demanda reprimida, tanto na parte do setor elétrico, quanto na indústria. Esse tipo de debate, de como podemos aprimorar as regras, tende a acelerar este processo.