Risco sob controle

🥇 Matéria de Capa da Edição 233 da Revista Potência

Busca contínua pela segurança impulsiona o desenvolvimento do mercado de produtos e soluções destinados a áreas classificadas.

Um mercado maduro e sempre em evolução, devido à busca constante por maior segurança das áreas classificadas. Assim pode ser resumido o segmento de atmosferas explosivas no Brasil, que registra um aumento de vendas expressivo devido à conscientização do setor.

Trata-se de um mercado estratégico e importante para os fabricantes de produtos e soluções eletroeletrônicas, que enxergam grandes oportunidades de negócios devido a fatores como a exploração do pré-sal e o desenvolvimento do agronegócio e da indústria química no país.

Os entrevistados desta matéria destacam ainda as tendências da área “Ex”, como anda o processo de estruturação de normas técnicas, quais são os principais problemas que afetam as empresas e o que precisa ser mudado para que o mercado cresça de forma consistente.

De acordo com Daniela Macedo (foto), coordenadora de Produtos da Schmersal, o mercado de atmosferas explosivas no Brasil está em evidente evolução. Ela diz que os recentes acidentes, especialmente no setor agroindustrial, têm destacado cada vez mais a necessidade de cuidados rigorosos para mitigar riscos de explosões. “Além disso, segmentos tradicionalmente familiarizados com esse tipo de ambiente, como o de Óleo & Gás, têm incorporado requisitos adicionais, como a obrigatoriedade do uso de equipamentos mecânicos apropriados para áreas classificadas, conforme a NR-37. Esse cenário impulsiona a maturidade e a evolução das práticas de segurança, especialmente no que se refere à adequação de instalações elétricas em ambientes Ex”, analisa.

Daniela Macedo
Coordenadora de Produtos da Schmersal

Raphael Yuri Diniz (foto), coordenador de Produtos Global da Schmersal, conta que desde a criação do núcleo da empresa dedicado ao segmento “Ex”, em 2020, observa-se um crescimento expressivo na demanda, com um aumento consistente no volume de vendas. “Esse movimento reflete, sobretudo, a crescente conscientização do mercado sobre a necessidade de atualização tecnológica para garantir a segurança em áreas classificadas. Apesar de ainda existir uma lacuna significativa de conhecimento e informação, o mercado brasileiro tem avançado, com players investindo na renovação de suas tecnologias e priorizando aquilo que mais nos move: a segurança das pessoas e das operações. A tendência é de continuidade nesse ritmo de crescimento, acompanhando a evolução normativa e a adoção de melhores práticas industriais”, vislumbra Diniz.

Raphael Yuri Diniz
Coordenador de Produtos Global da Schmersal

Segundo Daniela Macedo, o principal fator que impulsiona as vendas de produtos elétricos “Ex” é o atendimento às exigências legais e normativas, especialmente no contexto das matrizes de adequação que empresas multinacionais seguem em suas unidades globais. “Além disso, há uma crescente valorização de práticas que reforcem a segurança operacional, a rastreabilidade e a conformidade com certificações internacionais”, complementa.

Raphael Diniz observa que o mercado de atmosferas explosivas possui uma importância estratégica para a Schmersal, especialmente do ponto de vista cultural. “Nossa proposta de valor está profundamente ligada à promoção de ambientes industriais mais seguros e eficientes. Investimos continuamente em inovação, capacitação e desenvolvimento de soluções que atendam às especificidades deste mercado, pois compreendemos que se trata de um segmento em expansão e com grande potencial de transformação. O alinhamento com esse mercado reforça nosso compromisso com a segurança e com a evolução da indústria”, discursa.

Atualmente, a Schmersal disponibiliza um portfólio bastante amplo de soluções para áreas classificadas, incluindo chaves fim de curso, chaves de desalinhamento, chaves de emergência, chaves de segurança com e sem travamento magnético, sensores, prensa-cabos e acessórios, botoeiras, caixas de junção, luminárias, entre outros. “Vale destacar que contamos com um time de Pesquisa & Desenvolvimento no Brasil, dedicado exclusivamente ao segmento Ex, que trabalha continuamente na criação de novas soluções — sejam elas produtos de linha ou desenvolvidos sob medida para atender às demandas específicas dos nossos clientes”, destaca Daniela Macedo.

Raphael Diniz lembra que recentemente a Schmersal ampliou seu portfólio de soluções para atmosferas explosivas com o lançamento de luminárias lineares, ideais para ambientes que exigem alta resistência e segurança em condições severas; além de caixas de junção fabricadas em aço inoxidável e em poliéster reforçado com fibra de vidro, que oferecem robustez, durabilidade e confiabilidade em instalações críticas. “Em breve, daremos mais um passo importante com o lançamento de sensores térmicos, projetados para monitoramento de desalinhamento e temperatura em mancais de motores — soluções que agregam valor ao permitir diagnósticos preditivos e maior segurança”, adianta Diniz.

Juliano Veronese (foto), gerente de suporte a vendas e produto da ABB, entende que o mercado de atmosferas explosivas no Brasil está em clara evolução, impulsionado principalmente pelos setores de óleo e gás e químico. No caso do óleo e gás, aponta o especialista, a expansão do pré-sal tem gerado uma demanda crescente por equipamentos certificados para áreas classificadas. “A Petrobras prevê a entrada em operação de 14 novas plataformas FPSO entre 2024 e 2028 — o que representa cerca de um terço das unidades previstas globalmente nesse período. Além disso, o setor químico continua ampliando e modernizando suas plantas, o que também impulsiona a demanda por produtos “Ex”. Portanto, trata-se de um mercado em crescimento real, com forte base técnica e regulatória”, indica.

Juliano Veronese
Gerente de suporte a vendas e produto da ABB

As vendas de produtos elétricos “Ex” da ABB apresentaram um crescimento expressivo nos últimos anos, com um aumento acumulado de quase três vezes entre 2020 e 2024. “Esse desempenho representa um CAGR de aproximadamente 31% ao ano, consolidando essa linha como uma das mais dinâmicas do nosso portfólio. A tendência para os próximos anos continua positiva, impulsionada pela entrada em operação de novas plataformas FPSO, pela modernização de plantas químicas e pela valorização crescente da conformidade com normas técnicas em ambientes críticos”, enumera Veronese.

Sobre os fatores que impulsionam as vendas de produtos elétricos “Ex”, Veronese diz que a competitividade dos motores ABB das linhas M3GP (Ex ec/Ex tc) e M3KP (Ex db/Ex eb) está diretamente ligada à sua reconhecida qualidade construtiva, robustez mecânica e confiabilidade em aplicações críticas. “Esses motores são projetados com atenção especial à eficiência energética, vida útil prolongada e facilidade de manutenção, o que os torna a escolha preferida de muitos clientes industriais. Além disso, a ABB mantém um padrão global de engenharia e certificação que garante homologações nacionais e internacionais, como INMETRO, IECEx e ATEX, o que amplia sua aceitação em grandes projetos. A preferência dos clientes também se deve à consistência de performance em condições severas, especialmente em ambientes offshore e em plantas químicas com elevada exigência de segurança operacional”, divulga Veronese.

O mercado “Ex” é altamente estratégico para a ABB. Atualmente, ele representa cerca de 20% do mercado total de motores de baixa tensão em que a companhia atua no Brasil. Além de sua relevância em termos de volume e faturamento, esses motores desempenham um papel fundamental na composição de soluções completas, pois complementam o portfólio da ABB em projetos que também envolvem painéis, acionamentos, sensores e sistemas de automação. “A presença em projetos “Ex” reforça nossa posição como fornecedor de soluções integradas e certificadas para aplicações críticas”, menciona Veronese.

Para o setor, a ABB oferece motores das famílias M3KP (certificados para Ex d e Ex e) e M3GP (certificados para Ex ec e Ex tc), cobrindo uma ampla gama de requisitos em atmosferas explosivas. “São motores de alta confiabilidade, projetados para operar em condições severas e atender plenamente às exigências normativas nacionais e internacionais. Essas linhas são indicadas para todo tipo de aplicação industrial, com destaque especial para bombas utilizadas em unidades FPSO, onde robustez mecânica, durabilidade e segurança são fatores críticos. Outros exemplos de aplicação incluem compressores, ventiladores, sistemas de injeção de água, bombas de escoamento de óleo e sistemas de offloading presentes em plataformas offshore e instalações químicas”, detalha Juliano Veronese.

Recentemente, a ABB lançou uma nova geração de motores Ex com eficiência IE4 e IE5, incluindo os motores síncronos de relutância (SynRM) IE5. Esses motores oferecem eficiência energética ultra premium, alinhando-se às exigências mais modernas de sustentabilidade energética e alto desempenho. Além disso, os motores SynRM IE5 proporcionam até 50% menos perdas de energia em comparação com motores IE2.

De acordo com Bruno Capareli (foto), engenheiro de Desenvolvimento de Negócios da Siemens, considerando os avanços quanto às normativas legais e indícios de expansão das certificações internacionais em aplicações, componentes certificados para ambientes agressivos e atmosferas explosivas, o mercado vem crescendo quanto a componentes que cumpram com os requisitos. “A procura e necessidade desses produtos sempre existiram e o aumento e a redução (de vendas) dependem muito de setores específicos para este mercado, porém, estável quando falamos de produtos “Ex””, comenta.

Bruno Capareli
Engenheiro de Desenvolvimento de Negócios da Siemens

O executivo aponta que entre os fatores que impulsionam as vendas de produtos elétricos “Ex” estão o aumento da exigência por segurança industrial e alguns setores específicos em crescimento, como, por exemplo, mineração.

Segundo Capareli, a área “Ex” é relevante para os negócios da Siemens. “O mercado “Ex” tem importância para os negócios, principalmente para atender todos os setores que buscam este tipo de aplicação”, resume.

Para o segmento “Ex” a Siemens oferece fontes de alimentação, switches com aprovações “Ex” e equipamentos para rastreabilidade, como por exemplo, RFID, entre outras linhas.

“Possuímos um grande portfólio de componentes para aplicações “Ex”, como as fontes de alimentação, por exemplo. Sempre temos atualizações com novos modelos, tecnologias diferentes também aplicadas para ambientes “Ex”, com comunicação integrada e disjuntores eletrônicos”, cita Capareli.

Júlio Arlindo Pinto Azevedo (foto), engenheiro de Certificação da Sense Eletrônica, destaca que o mercado de atmosferas explosivas está em evolução no Brasil, pois acompanha o ritmo de crescimento econômico industrial de uma maneira geral, apesar de ser específico para certas atividades econômicas. “De maneira geral, o mercado de atmosferas explosivas está atrelado ao mercado de combustíveis, que cresce na medida em que a atividade industrial se expande. É o que está acontecendo, conforme indicadores econômicos atuais no Brasil”, analisa. Azevedo conta que as vendas de produtos elétricos “Ex” da empresa têm aumentado conforme o lançamento de novos produtos e soluções, e observa que existe uma tendência de alta na procura de equipamentos para atmosferas explosivas. “Esta tendência é impulsionada pela expansão dos mercados específicos, tais como óleo e gás e agronegócio, que necessitam de equipamentos certificados para atmosferas explosivas de poeiras”, exemplifica.

Júlio Arlindo Pinto Azevedo
Engenheiro de Certificação da Sense Eletrônica

Azevedo observa que as vendas de produtos elétricos “Ex” são impulsionadas principalmente pela expansão de setores industriais de alto risco (óleo e gás, químico, mineração, agronegócio) e também pela crescente demanda por segurança operacional, diante de muitos acidentes registrados por má utilização de produtos elétricos em áreas classificadas. “Adicionalmente, a digitalização industrial, a modernização de plantas antigas e o crescimento de mercados emergentes também contribuem para a maior adoção de equipamentos certificados para atmosferas explosivas”, complementa o executivo da Sense Eletrônica.

Segundo Azevedo, o mercado “Ex” é estratégico para a Sense, pois representa um segmento de alto valor agregado e com requisitos técnicos rigorosos, nos quais a empresa se destaca. “A experiência de mais de 40 anos da Sense nessa área propicia o desenvolvimento de novas soluções com técnicas de proteções diversas”, garante.

Para a área “Ex” a Sense Eletrônica disponibiliza uma linha repleta de sensores indutivos, capacitivos, fotoelétricos e magnéticos com proteção contra gases e poeiras para uma vasta gama de aplicações. “Temos também linhas de monitoramento e controle de vários tipos de válvulas industriais abrangendo aplicações em indústrias farmacêuticas, petroquímicas, petróleo etc.”, diz Azevedo.

Os últimos lançamentos da empresa na área “Ex” foram os monitores de válvulas inteligentes com alta capacidade de diagnósticos e utilizando vários padrões de comunicação de mercado, contribuindo para a implantação do conceito de Indústria 4.0.

Para André de Lima, diretor Comercial da Tramontina, o mercado brasileiro de soluções para ambientes com atmosferas explosivas está em evolução, impulsionado principalmente pela expansão de setores como agronegócio, indústria química, farmacêutica e de energia. “Há também um aumento nas exigências regulatórias, maior conscientização sobre segurança operacional e a busca por conformidade com normas técnicas. Empresas sérias estão investindo em soluções certificadas e personalizadas, como as oferecidas pela Tramontina IPEx, que atende à demanda crescente por qualidade, confiabilidade e suporte técnico especializado”, conceitua.

As vendas de produtos “Ex” da Tramontina IPEx têm apresentado crescimento consistente, especialmente em setores como agronegócio, químico, alimentício e de óleo e gás. “Esse aumento é resultado do foco da empresa em oferecer soluções completas e customizadas, com alto padrão de qualidade e cumprimento rigoroso dos prazos de entrega. A tendência é de continuidade desse crescimento, impulsionado pela modernização de plantas industriais, expansão das cooperativas e maior atenção à segurança em ambientes com atmosferas explosivas”, acredita Lima.

Entre os principais fatores que impulsionam as vendas de produtos “Ex” estão a necessidade de conformidade com normas técnicas, como a ABNT NBR IEC 60079 (sobre requisitos dos equipamentos elétricos para uso em atmosferas explosivas); a modernização de processos industriais, a preocupação crescente com a segurança e a redução de riscos operacionais; e a confiabilidade de fornecedores que garantem prazos de entrega e capacitação técnica. “A Tramontina IPEx se destaca por oferecer um suporte completo ao cliente, desde a concepção do projeto até o pós-venda, além de treinamentos práticos e simulações reais, o que aumenta a segurança e a eficiência no uso das soluções”, destaca Lima.

O mercado “Ex” é estratégico para a Tramontina IPEx. “Ele representa uma área de alta especialização e valor agregado, além de reforçar a presença da empresa em setores essenciais da

economia brasileira. Ao oferecer soluções certificadas e customizadas para ambientes com atmosferas explosivas, a empresa consolida sua posição como fornecedora confiável e inovadora em projetos de alta complexidade técnica”, descreve Lima.

A Tramontina IPEx oferece um portfólio completo para áreas classificadas, incluindo painéis elétricos customizados; luminárias com certificação TM-21; caixas de passagem, plugues, tomadas e acessórios. “Esses produtos atendem desde pequenas cooperativas até grandes agroindústrias, além de terminais portuários, modais ferroviários e segmentos como alimentício, químico, têxtil, farmacêutico, cervejeiro, negro de fumo, papel e celulose e refino de petróleo e produção de etanol”, enumera Lima.

Entre os lançamentos recentes estão luminárias “Ex” de alta eficiência energética e painéis customizados que facilitam a manutenção em campo. “Os próximos lançamentos devem ampliar a linha de soluções customizadas para atender necessidades específicas do agronegócio e de grandes indústrias, mantendo o foco em segurança, praticidade e eficiência”, avisa André de Lima.

Principais tendências tecnológicas

Daniela Macedo, coordenadora de Produtos da Schmersal, conta que nos últimos anos a área de instrumentação tem avançado significativamente, especialmente com o desenvolvimento e aplicação de circuitos intrinsicamente seguros, que viabilizam inovações tecnológicas expressivas. “Um exemplo é o protocolo Ethernet APL — uma iniciativa colaborativa de diversas empresas do setor — que visa criar um protocolo de comunicação de alta velocidade, capaz de operar de maneira segura e eficiente em atmosferas explosivas. Esse avanço proporciona maior integração, segurança e desempenho nas aplicações industriais”, explica.

Juliano Veronese, gerente de suporte a vendas e produto da ABB cita cinco tendências do setor:

  • Digitalização e conectividade em áreas classificadas (IIoT);
  • Motores com maior eficiência energética (IE3/IE4/IE5);
  • Design modular e manutenção facilitada;
  • Integração com plataformas de automação industrial;
  • Certificações internacionais múltiplas (IECEx, ATEX, INMETRO).

Bruno Capareli, engenheiro de Desenvolvimento de Negócios da Siemens, cita que existem tendências principais neste mercado, como equipamentos com a necessidade de integração, com foco na Indústria 4.0, além de inovações quanto a sustentabilidade dos produtos, seguindo as certificações requeridas para as aplicações específicas.

Júlio Arlindo Pinto Azevedo, engenheiro de Certificação da Sense Eletrônica observa que nos últimos anos, o mercado “Ex” tem passado por uma transformação tecnológica significativa. As principais tendências citadas por ele incluem a digitalização de equipamentos para áreas classificadas, com o uso crescente de sensores inteligentes, protocolos de comunicação como IO-Link e HART. Também há avanço no uso de diagnósticos preditivos e sistemas de monitoramento remoto, que aumentam a segurança e reduzem custos operacionais. Outro destaque é o desenvolvimento de soluções “Ex” cada vez mais compactas, modulares e com certificações internacionais múltiplas (como IECEx, ATEX e INMETRO), facilitando a exportação e padronização global. “Um novo padrão de comunicação entre os equipamentos industriais para áreas classificadas é o Ethernet-APL que traz uma padronização para a área ainda não existente, possibilitando a utilização do mesmo protocolo de comunicação em todas as camadas dos sistemas de automação de processos industriais”, complementa Azevedo.

Para André de Lima, diretor Comercial da Tramontina, as principais tendências incluem soluções com maior eficiência energética; uso de materiais mais resistentes e leves; modularidade para facilitar a instalação e manutenção; integração com sistemas inteligentes de monitoramento e automação. “A Tramontina IPEx acompanha essas tendências investindo continuamente em inovação, P&D e tecnologia fabril avançada, como a injeção de alumínio em larga escala”, destaca.

Normas técnicas do setor “Ex”

Na opinião de Raphael Yuri Diniz, da Schmersal, as normas técnicas aplicadas ao setor elétrico em atmosferas explosivas no Brasil são adequadas e robustas. No entanto, diz ele, ainda existem lacunas, especialmente no que diz respeito à avaliação dos perigos associados às 13 possíveis fontes de ignição. “Muitas vezes, as avaliações de risco não contemplam integralmente essa complexidade, o que reforça a necessidade de abordagens mais amplas e criteriosas”, lamenta.

Segundo Diniz, infelizmente, nem todos os profissionais e empresas possuem a clareza necessária para garantir que as instalações estejam verdadeiramente seguras e conformes às normas. “O mercado brasileiro necessita de uma fiscalização mais efetiva, que incentive a adequação das plantas industriais aos requisitos normativos”, sugere.

Juliano Veronese, da ABB, entende que o setor de atmosferas explosivas é amplamente regulamentado por normas técnicas robustas e reconhecidas internacionalmente, como a série ABNT NBR IEC 60079, harmonizada com os padrões internacionais da IEC 60079. “No Brasil, o INMETRO é o órgão responsável pela certificação, conforme a Portaria nº 115/2022. Além disso, certificações como IECEx e a diretiva europeia ATEX estabelecem requisitos rigorosos para garantir segurança em ambientes com risco de explosão”, menciona.

Bruno Capareli, da Siemens, cita que as certificações são regidas principalmente por instituições internacionais, e os requerimentos são acompanhados pelo mercado, com atualizações das normas ABNT para áreas “Ex”. “São normas reconhecidas e de instituições sérias, reconhecidas e renomadas”, garante.

Para Júlio Arlindo Pinto Azevedo, da Sense Eletrônica, o setor de atmosferas explosivas é bem estruturado em termos de normas técnicas, com referências sólidas como as normas IEC, e o sistema IECEx, além da regulamentação nacional pelo INMETRO no Brasil. Sobre a suficiência das normas “Ex”, para cada tipo de proteção do produto (como por exemplo proteção por segurança intrínseca “Ex i”, proteção por encapsulamento “Ex m” ou proteção por segurança aumentada “Ex e”) existe uma norma específica que deve ser seguida para certificação do produto em atmosferas explosivas. “Portanto, devido à vasta quantidade de normas disponíveis no mercado, o produto elétrico “Ex” estará apto a ser instalado em atmosferas explosivas. A garantia do cumprimento das normas, desde o processo de certificação até o processo produtivo correto do produto “Ex” é feito pelo OCP (Organismo de Certificação de Produto), que certifica e realiza auditorias a cada um ano e meio para assegurar a qualificação do produto certificado”, explica Azevedo.

André de Lima, da Tramontina, avalia que as normas brasileiras, como a ABNT NBR IEC 60079, são completas e bem estruturadas. “No entanto, ainda há desafios no cumprimento dessas normas, especialmente por parte de fornecedores informais ou pouco qualificados. A Tramontina IPEx defende a maior fiscalização, educação técnica e conscientização, além de seguir à risca todos os requisitos normativos para garantir segurança e desempenho das soluções”, comenta.

Problemas do setor e possíveis soluções

Na opinião de Daniela Macedo, da Schmersal, para que o mercado cresça de forma sustentável, é fundamental que as empresas contem com profissionais qualificados, com profundo conhecimento das normas aplicáveis, capazes de orientar de maneira adequada a instalação e a manutenção de equipamentos em áreas classificadas. “Além disso, ações que promovam a conscientização, a normalização e o combate à informalidade são essenciais para elevar o nível de segurança e de qualidade no setor”, recomenda.

Raphael Yuri Diniz, da Schmersal, observa que as empresas certificadas pelo INMETRO são obrigadas a cumprir rigorosamente todos os requisitos de segurança. No entanto, diz ele, é crucial considerar a vida útil dos produtos: diferentes fabricantes podem estabelecer prazos distintos, em função dos materiais e processos empregados. “A falta de qualidade ou a utilização de produtos sem certificação pode acarretar riscos gravíssimos, como falhas operacionais, acidentes e até mesmo explosões. Por isso, reforçamos a importância da rastreabilidade, da certificação e do cumprimento integral das normas como pilares indispensáveis para garantir a segurança em atmosferas explosivas”, destaca.

Para Juliano Veronese, da ABB, os motores “Ex” disponíveis no Brasil apresentam grande variação de características técnicas, de qualidade e de segurança que poderiam ser aprimoradas. Além disso, são fabricados sob normas técnicas que poderiam ser ainda mais rigorosas no sentido de estimular a produção de equipamentos que serão utilizados em ambientes com atmosferas explosivas ainda mais padronizados e seguros. “Um motor “Ex” exige engenharia especializada e controle de qualidade rigoroso, o que limita naturalmente o número de fabricantes qualificados. Além disso, o custo de um motor “Ex” pode ser o dobro ou até o triplo de um motor comum, dependendo da potência — algo que precisa ser compreendido pelo consumidor como custo de propriedade, traduzido em segurança, confiabilidade e redução de riscos ao longo do tempo”, explica Veronese.

O especialista da ABB considera que o setor é altamente regulado e os clientes que atuam em ambientes classificados exigem produtos certificados e com alto padrão de qualidade. “Motores “Ex” devem obrigatoriamente atender a normas como INMETRO (exclusivamente no Brasil), IECEx ou ATEX, o que assegura que somente fabricantes qualificados operem nesse segmento. A exigência por conformidade e segurança é uma constante nesse mercado”, ressalta.

Bruno Capareli, da Siemens, menciona como essencial a necessidade de conscientização do mercado. “É muito importante que os próprios usuários tenham em mente a necessidade de adquirir produtos normatizados, certificados e de qualidade reconhecida, pois, com isso, o setor será sempre baseado em uma base de especificação consolidada e de alta qualidade, fazendo com que o segmento possa ter tranquilidade em seu desenvolvimento”, analisa.

Indagado se há falta de qualidade no setor de atmosferas explosivas, Capareli diz que o problema pode existir se o mercado buscar equipamentos e aplicações que não sigam as diretrizes e certificações “Ex” solicitadas. “Quando há preocupação neste quesito, diminuímos os riscos”, pondera.

Júlio Arlindo Pinto Azevedo, da Sense Eletrônica, relata que os principais problemas enfrentados pelas empresas sérias no mercado “Ex” incluem a concorrência desleal com produtos não certificados devido à falta de conhecimento técnico por parte de compradores e usuários e a falta de disponibilidade de laboratórios que façam ensaios com agilidade. “Para que o setor cresça é necessário incentivar a normalização dos produtos “Ex”, investir em capacitação técnica para garantir que o produto seja instalado de forma correta e seja mantido durante sua vida útil atendendo as normas de projeto, instalação e manutenção, garantindo a efetividade de sua segurança”, defende.

Para Azevedo, a falta de qualidade existente no mercado está mais atrelada à mão de obra especializada, pois existem problemas no controle de instalação e manutenção de equipamentos “Ex”. “De nada adianta um produto ser projetado atendendo normas técnicas complexas para atingir um patamar de segurança adequado se, durante a operação, não são atendidas as normas específicas de instalação e manutenção”, alerta. André de Lima, da Tramontina, enumera que entre os principais desafios estão a concorrência com fornecedores informais e produtos sem certificação; falta de conhecimento técnico por parte de alguns clientes; e baixa fiscalização em determinados segmentos. “Para que o setor cresça com segurança, a Tramontina tem investido na educação técnica, incentivando o uso de produtos adequados às normas, visando fortalecer a cultura de conformidade e qualidade”, informa.

Para o executivo, a falta de qualidade no setor pode gerar riscos graves, como falhas de contenção em caso de explosões, incêndios, paralisações operacionais e até perdas humanas. “A instalação de produtos sem certificação pode comprometer toda a segurança da planta. Por isso, a Tramontina IPEx submete todas as suas soluções a testes rigorosos de aceitação de fábrica (TAF) e oferece treinamentos técnicos que garantem a correta aplicação dos produtos”, salienta.

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