Processo de certificação de painéis elétricos pode chegar a R$ 1 milhão

Por trás de cada máquina ligada, de cada esteira funcionando e de cada produção que não para dentro de uma indústria, há um painel elétrico trabalhando sem que alguém perceba, quase invisível aos olhos de quem passa. Ele é o ponto de distribuição da energia e de controle que movimenta a fábrica. Mas, quando algo dá errado, a falha não perdoa. Em segundos, o que era produção se transforma em fumaça, fogo, destruição e, em casos trágicos, perda de vidas.

Estima-se que ocorram 4.400 mortes anuais em todo o mundo devido a lesões elétricas, segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), sendo esse número especialmente elevado em países de baixa e média renda, como o Brasil.

Diante dessa realidade, somos convidados a refletir não apenas sobre a qualidade desses equipamentos, mas sobre o verdadeiro valor que eles carregam — muito além do custo financeiro. Está em jogo a segurança da vida humana. E aí vem a pergunta que não pode ser ignorada: afinal, qual é o preço de uma vida?

Essa pergunta, muitas vezes deixada para depois, é a que fica quando um acidente acontece em uma indústria. De acordo com a NFPA (National Fire Protection Association), falhas elétricas estão entre as cinco maiores causas de incêndios industriais no mundo. Os equipamentos de distribuição elétrica e iluminação são a causa mais comum de incêndios em propriedades industriais, sendo responsáveis por cerca de 24% dos sinistros e por 55% dos danos materiais diretos gerados por esses incêndios.

No Brasil, até 40% dos incêndios elétricos têm origem em sobrecargas ou curtos-circuitos, segundo o Anuário Abracopel, e a proporção tende a ser similar em indústrias, embora não haja recorte oficial por setor, conforme os levantamentos mais recentes disponíveis. Com a retomada econômica e o aumento do consumo de energia em 2025, especialistas do setor alertam para a necessidade de reforçar a cultura de segurança elétrica, onde a escolha de um painel certificado pode ser a diferença entre uma linha de produção segura e uma tragédia.

Mas, afinal, o que é um painel elétrico certificado?

Segundo Fábio Amaral (foto), CEO da Engerey, fabricante especializada em painéis certificados, esses equipamentos recebem essa denominação porque são testados e aprovados conforme normas técnicas rigorosas, como as da IEC (Comissão Eletrotécnica Internacional) ou da ABNT, no Brasil. Eles passam por uma série de ensaios laboratoriais padronizados que atestam sua segurança, confiabilidade e desempenho, mesmo em condições extremas.

Fábio Amaral
CEO da Engerey

“Os painéis são submetidos a testes que simulam os piores cenários possíveis: sobrecorrentes, curtos-circuitos, arcos elétricos e explosões internas. Tudo isso para garantir que, mesmo em caso de falha, eles protejam tanto o operador quanto a instalação”, explica Amaral.

O especialista explica que esses ensaios de tipo são obrigatórios pelas normas internacionais e exigem que o fabricante teste fisicamente o painel completo em laboratório acreditado. Durante esses testes, simula-se, por exemplo, um arco elétrico interno, uma descarga que pode gerar temperaturas de até 20 mil graus Celsius (quatro vezes a temperatura da superfície do Sol). Essa temperatura é suficiente para fundir praticamente qualquer metal e é uma das razões pelas quais o arco elétrico é tão perigoso.

“Um painel certificado precisa resistir a tudo isso. A estrutura não pode se abrir, os barramentos não podem se fragmentar e a chaparia deve conter o arco, protegendo quem está operando ou fazendo manutenção. Esse é o tipo de proteção que não se vê, mas que salva vidas”, explica Amaral.

Para realizar esses ensaios, os fabricantes investem alto. Um único teste pode chegar a R$ 1 milhão em prototipagem, equipamentos e certificações. Cada tipo e configuração de painel exige ensaios próprios, garantindo que o que foi testado é exatamente o que será entregue e instalado no cliente. Uma certificação pode exigir a repetição desses testes diversas vezes.

Por isso, o custo de um painel certificado pode ser de 30% a 50% superior ao de um painel sem certificação, dependendo do projeto e da aplicação, segundo fabricantes do setor.

Mas, como esclarece Amaral, esse custo adicional não está ligado apenas ao metal e aos disjuntores — ele representa o valor das vidas que estão sendo protegidas a cada escolha. “Infelizmente, muitas indústrias optam por painéis sem certificação na tentativa de economizar no curto prazo. Essa teoria, inclusive, não se sustenta na prática. Um exemplo claro é o impacto direto nas apólices de seguro: quando uma indústria não utiliza painéis certificados, o valor do seguro pode aumentar consideravelmente — ou até ser negado — devido ao maior risco envolvido ”, alerta ele.

No Brasil, normas como a ABNT NBR 5410 e IEC 61439 determinam boas práticas para instalações elétricas. Mesmo assim, a adoção de painéis certificados ainda avança de forma lenta, especialmente em pequenas e médias indústrias, muitas vezes por falta de conscientização sobre a real importância desse investimento. Estima-se que, no Brasil, apenas 40% dos painéis são certificados, deixando milhares de indústrias expostas a riscos desnecessários.

Painéis certificados também contribuem para: redução de paradas não programadas por falhas elétricas; aumento da vida útil de equipamentos; facilidade de manutenção segura; continuidade imediata do serviço após uma eventual falha; conformidade com normas e auditorias de seguradoras e certificadoras; e a criação de uma cultura de segurança real na empresa.

“Quando um painel sem certificação falha, o risco é concreto e imediato. Essa falha pode desencadear consequências graves, como incêndios, paralisações na linha de produção e danos profundos à reputação da empresa. E, acima de tudo, pode trazer a dor irreparável causada pela perda de uma vida”, afirma Fábio Amaral.

Em um país que busca reduzir acidentes de trabalho, investir em painéis certificados é investir em segurança, na continuidade do negócio e, principalmente, na preservação da vida.

“Painéis certificados são como um colete à prova de balas para quem trabalha com energia elétrica. Eles não eliminam todos os riscos, mas garantem uma camada de proteção fundamental para quem está na linha de frente”, finaliza Fábio Amaral.

No fim, a pergunta permanece: quanto vale uma vida dentro da indústria? E quantas vidas podem ser salvas quando a segurança deixa de ser custo e passa a ser prioridade?

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