Como será o futuro de nossa matriz energética
*Por Lucia Mourad
Ainda que novos temas estejam ganhando espaço dentro das companhias, é impossível negar que a busca por redução de custos e o aumento da produtividade sigam sendo os principais focos estratégicos da indústria. Líderes e empresários já estão se preparando para pensar além das novas máquinas e novos processos, e têm discutido e procurado alternativas em relação a eficiência energética, hoje responsável por boa parte de seus custos de operação.
Dados divulgados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontam que o custo com energia elétrica é um dos maiores desafios para a produção industrial de nosso País, representando às vezes até mais do que 10% dos gastos mensais de uma empresa. Inflacionada por questões tributárias e fiscais, a demanda energética é, sem dúvida, um entrave inquestionável para o avanço das companhias.
Por isso mesmo, a discussão sobre a matriz energética é fundamental para agregar competitividade para a indústria brasileira. Ao buscar saídas para auxiliar as empresas, o mercado está estimulando a recuperação de nossa economia, abrindo espaço para o aumento do consumo e a subsequente retomada no investimento. Essa relação é um ponto-chave para atrair capital estrangeiro e obter melhores resultados de negócio.
Há uma evidente relação entre o custo de operação das empresas e o investimento de recursos no Brasil. Sendo assim, a oferta de energia precisa ser capaz de apoiar esse movimento, criando um ambiente positivo para os investimentos e condições práticas para maior competitividade das linhas produtivas. É fato que alguns passos já foram dados para contornar a situação, mas, ainda assim, falta um longo caminho para melhorar a eficiência da cadeia de geração, transmissão e comercialização de energia.
Para acelerar essa jornada, a participação das empresas é essencial. A discussão sobre a compra de energia deveria ser parte das ações estratégicas de companhias de todos os setores, pois impacta os negócios e influencia o sucesso futuro das organizações.
O avanço do mercado livre tem alterado o modelo de trabalho, oferecendo uma opção para a compra de energia diretamente de geradoras ou comercializadoras livres, por meio de contratos bilaterais nos quais as duas partes podem negociar de forma livre as condições do contrato. O custo regulatório, com impostos governamentais, segue existindo, mas, sem dúvida, a busca por modelos diferenciados e pela autonomia na negociação tende a aumentar nos próximos anos, alterando o controle do mercado e impulsionando uma nova frente de competição para todos os segmentos.
Outros temas a serem acompanhados de perto são o investimento e a utilização de novas fontes de energia, renováveis e mais limpas. Todos os anos, o Brasil lança mais de 2,2 bilhões de toneladas de dióxido de carbono, sendo o 13º país que mais polui a camada de ozônio no mundo. A explicação para isso está em algumas escolhas. Enquanto alguns países da Europa já discutem abolir o uso de veículos a diesel e a geração de energia pela queima de carvão, nossos meios de transporte ainda são baseados em propostas de combustíveis fosseis e a alternativa às hidroelétricas está basicamente direcionada para as termoelétricas.
O avanço da geração elétrica a partir das matrizes eólica e solar, bem como a expansão das soluções elétricas para mobilidade, são grandes exemplos de inovação que estão alterando o modelo mundial em prol da redução da emissão de carbono. “Descarbonizar” a geração e o consumo é uma questão importante, sobretudo na era atual, na qual temas como inovação, sustentabilidade e responsabilidade social estão na lista de prioridades das pessoas. Paralelo a isso, as companhias também precisam adotar tecnologias que as ajudem a otimizar seus consumos energéticos. A transformação digital, com a ascensão de novas máquinas e recursos produtivos, é um grande aliado para reduzir custos atrelados à energia.
A soma desses fatores, com a digitalização, descarbonização e descentralização dos modelos de geração, transmissão, desenvolvimento e entrega de energia, devem ser vistos como pontos fundamentais para ajudar na definição do modelo a ser adotado futuramente pela indústria brasileira.
Sem dúvida, poucos setores são, de fato, tão importantes para o movimento de um País quanto o setor de energia. Portanto, os empresários precisam começar a pensar em eficiência energética como algo estratégico e que vai muito além de uma simples “conta”. O estudo de novas possibilidades permitirá enormes avanços para o Brasil. Sem esse olhar estratégico, a indústria brasileira perderá ainda mais sua competitividade no cenário global.
*Lucia Mourad é gerente da FIEE Smart Energy