O futuro da gestão de energia são os microgrids?
Por Julio Martins*
Os loucos anos 20 estão de volta. Não estou falando sobre um ressurgimento de melindrosas e jazz. Acredito que podemos esperar uma revolução na energia nos próximos anos, remanescente do boom de eletricidade da década de 1920.
Considere isso: o jeito que criamos, distribuímos e consumimos energia é surpreendentemente similar ao modo que era adotado no século passado. Como Aamir Paul, presidente da Schneider Electric nos Estados Unidos, gosta de ressaltar, nossas redes são tão velhas que Thomas Edison poderia reconhecer.
Mas a maré está mudando. Hoje em dia, conversas sobre mudanças climáticas, energias renováveis e consumo responsável de energia estão ocorrendo nas salas de reunião. Recentemente, incêndios na Califórnia, tornados no Tennessee e a pandemia da covid-19 ao redor do mundo estão desempenhando grande papel nessas discussões. E essas conversas estão propondo um foco na descarbonização, descentralização e digitalização para aumentar a confiabilidade e a eficiência energética. Aqui, explorarei essas três megatendências e discutirei como microgrids são a solução lógica a ser usada nessa nova era de energia.
Descarbonização – Descarbonização, ou redução de gases do efeito estufa, é a primeira megatendência energética que, esperamos, deve ter seu fim até a próxima década.
De acordo com a U.S. Energy Information Administration, combustíveis fósseis e nucleares garantem 82% de nossa eletricidade. Mas esse número está rapidamente declinando. O Annual Energy Outlook 2020 informou que as energias renováveis estão tendo crescimento acelerado nos Estados Unidos como fonte de geração de eletricidade. Em contraste, esperamos declínio da geração de energia nuclear e de carvão nos EUA a partir de 2020.
Por que isso está acontecendo? Pessoas, companhias e governos estão se comprometendo com o carbono, pois veem as mudanças climáticas como o maior desafio de nossos tempos. Além disso, as energias renováveis têm o melhor custo-benefício e a melhor acessibilidade.
Descentralização – Em segundo lugar, aqueles que se preocupam com a confiabilidade da energia, como proprietários de negócios, governos locais em regiões propensas a desastres e gerentes de instalações críticas, agora buscam controlar toda energia. Essa mudança está levando à descentralização: uma revolução na forma como geramos, armazenamos, movemos e consumimos energia.
Eletricidade não é apenas mais uma conveniência; é uma necessidade. Então, quando a energia é interrompida na rede principal, todos sofrem. Interrupções de qualquer duração são caras e perturbadoras. Mesmo que a maioria das concessionárias de energia definam queda de energia como cinco ou mais minutos com corrente zero, uma interrupção de tensão de um segundo é suficiente para paralisar linhas de fabricação, dispositivos eletrônicos sensíveis e sistemas de energia elétrica. Todos nós vimos os impactos de interrupções de longo prazo na Califórnia: instalações, empresas e proprietários sofreram.
Infelizmente, as mudanças climáticas, o envelhecimento da infraestrutura e o crescimento da população continuarão a aumentar a pressão sobre os serviços públicos.
Para garantir a continuação do suprimento de energia, comunidades, negócios e até mesmo proprietários estão investindo agora em tecnologias como a eólica e a solar, e baterias que permitem geração, armazenamento e consumo de energia localmente.
Digitalização – A última megatendência energética, a digitalização, usa dados para permitir tomada de decisão flexível para produção, consumo e gerenciamento de energia.
Quando o equipamento de geração de energia se torna inteligente com um software que analisa e responde a dados em tempo real, isso pode resultar em uma operação mais eficiente. Por exemplo, examinando os dados de um prédio comercial com sistema fotovoltaico, um gerente de instalação pode determinar se faz sentido armazenar parte do excesso de energia no local usando uma bateria reserva ou vendê-la de volta à concessionária.
As tecnologias digitais emergentes permitem operações mais eficientes, confiáveis e sustentáveis. E, à medida que mais dispositivos entram em nossas vidas, o potencial para dados melhores e mais acionáveis só aumenta.
Microgrids como o futuro da gestão de energia – Microgrids são uma solução lógica de gerenciamento de energia para descarbonização, descentralização e digitalização. Ou seja, são redes localizadas de produção e distribuição que operam por conta própria ou fornecem energia diretamente para a rede principal. Na maioria das vezes, os microgrids se conectam à rede principal. Eles também podem “estar ilhados” ou operar independentemente da rede, em casos como condições meteorológicas extremas, danos à rede principal etc.
A eletricidade em um microgrid é gerada a partir de fontes de energias renováveis, como a solar e a eólica, e excessos de energia podem ser estocados em uma bateria de sistema de armazenamento energético. Usar fontes de energia renováveis reduz inerentemente o uso de carbono na energia, seguindo a tendência de descarbonização.
Os microgrids são essencialmente descentralizados, o que significa que criam, armazenam e distribuem energia localmente. Quando a rede principal é desativada, a energia gerada no local fica disponível imediatamente. Isso reduz as interrupções e os encargos financeiros de uma interrupção prolongada.
Finalmente, por causa da digitalização, os microgrids são uma solução de energia flexível e eficiente. Os produtos conectados permitem que o proprietário de microgrid forneça energia para a rede principal ou ilha. Os controles digitais também podem otimizar a produção de energia.
De modo geral, os microgrids estão ajudando a sociedade a alcançar um futuro energético descarbonizado, descentralizado e digitalizado.
Veja mais em: https://www.youtube.com/watch?v=72RhPRZY01E
*Julio Martins é vice-presidente de Energy da Schneider Electric