Disjuntores: atenção na escolha e cuidados na instalação

Dimensionamento, compra e instalação de disjuntores devem ser bem-feitos para que a segurança das instalações elétricas seja garantida.

Por uma questão de segurança, nunca é demais repetir: a eletricidade é uma das grandes invenções da humanidade, no entanto, exige cuidados na instalação e utilização. Esse alerta é simples e recorrente em nossas reportagens da revista Potência. Porém, nem sempre é observado pelos profissionais, ou ‘ditos profissionais’, que trabalham na área elétrica, que muitas vezes ignoram o perigo.

Para que a instalação seja segura e tenha o desempenho esperado, é preciso que todas as etapas sejam bem executadas, da elaboração do projeto, até a compra dos materiais especificados e sua correta aplicação, conforme a NBR 5410 – Instalações elétricas de baixa tensão. Aqui não há espaço para ‘dar um jeitinho’. O único caminho é seguir as normas e fazer um bom trabalho.

Nesse cenário, vamos falar sobre um velho conhecido: o disjuntor. Tradicional dispositivo de proteção, o disjuntor é o responsável pela proteção dos circuitos elétricos da instalação e, consequentemente, dos equipamentos neles ligados. Portanto, sua especificação, aquisição e instalação devem ser bem-feitas para que ele atue quando for ‘solicitado’ e evite problemas maiores.

Mas antes de entrar nos detalhes de como proceder, vamos lembrar que, na baixa tensão, há opções distintas de disjuntores no mercado, que podem ser divididas entre três grupos: os minidisjuntores que, apesar de ter aplicações no comércio e na indústria, são mais utilizados nas instalações residenciais; os disjuntores caixa moldada, mais usados em entradas de painéis e em aplicações residenciais, comerciais e industriais; e os disjuntores de caixa aberta, muito usados nas instalações comerciais e, principalmente, industriais.

Um detalhe: em linhas gerais, a função de todos é a mesma, que é efetuar o seccionamento automático para a proteção de circuitos elétricos contra sobrecorrentes (de sobrecarga e curto-circuito).

Segurança depende da instalação correta dos produtos

Olhando apenas para o mercado predial, identificamos que, no Brasil, o mercado de disjuntores já é bem maduro. Por um lado, temos marcas fortes que primam pela qualidade dos produtos. Por outro, profissionais e usuários que conhecem o dispositivo e entendem que seu uso é importante para a segurança das instalações.

O problema é que os disjuntores, mesmo quando possuem bom nível de qualidade e estejam em conformidade com as normas técnicas, nem sempre são bem aplicados pelos eletricistas e instaladores, o que gera o risco de uma instalação malfeita, que a torna ineficiente e insegura. Por exemplo, há risco de interrupção de energia sem a existência de um problema real. E o pior, em casos extremos pode haver um incêndio, com perdas materiais e de vidas.

É incrível, mas o principal problema na instalação de disjuntores é a falta de aperto nos terminais de conexão. “Isso causa sobreaquecimento nos polos do disjuntor, por isso é importante o profissional seguir as instruções do fabricante para saber o torque necessário para que os cabos fiquem bem apertados”, comenta Ricardo Martuchi da Silva (foto), engenheiro de Desenvolvimento de Produtos da Steck.

Ricardo Martuchi da Silva | Steck
“Um dos principais problemas na instalação dos disjuntores é a falta de aperto nos terminais de conexão”.

Ruyvaz Ferreira Filho (foto), gerente de Marketing da Legrand, explica que quando o cabo não está bem apertado pode ocorrer sobreaquecimento da conexão. E, em situações máximas, isso pode até levar à destruição do disjuntor, inclusive gerando danos aos disjuntores adjacentes.

Ruyvaz Ferreira Filho | Legrand
“Quando o profissional tem boa formação, dificilmente comete erros no dimensionamento e instalação dos disjuntores”.

“Particularmente, vivi uma situação interessante. Um borne mal apertado num disjuntor causava sobreaquecimento, porém, sem alterar as características físicas do disjuntor. Este calor era transmitido ao disjuntor adjacente, que por ter uma carga maior acabava desarmando sem necessidade. Foram necessárias diversas horas de um eletricista e a troca de dois disjuntores para determinar que o problema não estava no circuito que desarmava, mas sim no circuito vizinho, e que só um reaperto do borne resolveria o problema”, cita Ruyvaz.

O gerente da Legrand ressalta ainda que outro problema frequente está na reposição de itens. “Num quadro de distribuição típico devem ser usados disjuntores que tenham as mesmas características elétricas e dimensões. Mas, infelizmente, não é incomum encontrarmos quadros de distribuição com três ou quatro marcas distintas de disjuntores totalmente diferentes mecanicamente, ou ainda com seletividade (curva de desarme) incompatível”, lamenta.

ATENÇÃO
Num quadro de distribuição típico devem ser usados disjuntores e outros componentes com características elétricas e dimensões compatíveis.
Problemas na formação explicam os erros

Leonardo Correa (foto), engenheiro especialista de Produto da ABB – Divisão Produtos de Baixa Tensão, observa que a má aplicação dos produtos tem muito a ver com problemas de formação profissional. “Geralmente, os eletricistas que cometem erros são os que não têm uma formação técnica adequada. Muitas vezes, o senso comum é de que o disjuntor é o produto que protege a carga que está no circuito e não os cabos da instalação, o que é um erro”, comenta Correa, que completa: “O erro mais comum é quando se tem um disjuntor na instalação e coloca-se uma carga que consome uma corrente maior do que a especificada. Neste caso, o disjuntor vai ficar desarmando e alguns profissionais ou pessoas leigas trocam o produto por um que suporta uma corrente maior, sem se atentar que o produto é que está protegendo o cabo da instalação”.

Leonardo Correa | ABB
“Geralmente, os eletricistas que cometem erros são os que não têm uma formação técnica adequada”.

Na mesma linha segue Ruyvaz Ferreira Filho, da Legrand. “É muito comum o eletricista cometer erros na escolha e na compra de disjuntores. A maior razão disto é a baixa qualificação. Muitas pessoas sem formação usam sua experiência anterior para especificar estes produtos. Mas sem o conhecimento geral sobre os detalhes de especificação e funcionamento do produto. Ainda é muito comum ouvir falar que um disjuntor é bom porque não desarma”.

Ruyvaz observa ainda que, quando o profissional tem boa formação, dificilmente comete erros, especialmente no dimensionamento dos disjuntores. “Quando falamos de eletricistas devidamente treinados, é incomum haver problemas no dimensionamento dos disjuntores. Todavia, é muito comum que ‘pedricistas’, ‘quebra-galhos’, zeladores e toda sorte de pessoas fazendo bico dimensionem mal os equipamentos”.

Mas quais os riscos envolvidos no mal dimensionamento?

O sub dimensionamento tende a causar transtornos sérios na utilização do sistema. “O exemplo clássico é a casa que tem dois chuveiros, mas eles não podem ser ligados ao mesmo tempo, senão o disjuntor ‘cai’. Até que um dia o amigo ‘sabe-tudo’ sugere o uso de um disjuntor maior, porque ‘este que colocaram no quadro era baratinho, mas uma porcaria’. Aí passamos a ter o superdimensionamento. Esta é uma situação que traz mais risco, pois neste caso o disjuntor não irá realizar sua função primordial: proteger os cabos da instalação contra sobreaquecimento causado por sobrecargas ou curtoscircuitos. Neste caso numa situação extrema, podemos ter um incêndio na instalação”, alerta Ruyvaz.

Ricardo Martuchi da Silva, da Steck, completa: “Quando um disjuntor dispara, significa que houve uma sobrecarga ou um curto-circuito, ou seja, ele disparou por alguma anomalia. Mas, muitas vezes, alguns profissionais ignoram esta anomalia e recomendam a compra de um disjuntor com corrente nominal mais alta (superdimensionamento) para que o disjuntor pare de disparar. Isso coloca em risco toda a instalação”.

É preciso cuidado também no ato da compra dos produtos

Antes de chegar na etapa da instalação, é preciso comprar o disjuntor. E, nessa hora, também é preciso atenção. Afinal, se for adquirido um dispositivo de qualidade inferior ao que as normas técnicas exigem, não adianta instalar bem o produto, pois ele não será eficiente na proteção, colocando os circuitos em risco. Em outras palavras, não se pode deixar levar apenas por preços baixos, mais atraentes. A qualidade deve vir sempre em primeiro lugar.

Infelizmente, não faltam disjuntores de qualidade duvidosa no mercado. Em sua maioria, estes produtos vêm da Ásia, não estão associados a marcas conhecidas e, nem sempre, entram no Brasil pelas vias legais.

Ocorre que, nos últimos anos, antes da atual crise, o mercado de disjuntores passou por um momento de grande prosperidade no Brasil, fruto do sólido crescimento da construção civil. Entretanto, a maior parte do crescimento no consumo de disjuntores acabou sendo atendida por produtos importados, sobretudo da China. Mas nem todos bons, de acordo com as normas técnicas. Hoje, mesmo com o mercado desaquecido, ainda há uma expressiva participação desses produtos no País, com preço baixo e qualidade discutível.

Leonardo Correa, da ABB, explica que os riscos envolvendo disjuntores de baixa qualidade são enormes, por isso, nada justifica o seu uso. “Um disjuntor de baixa qualidade pode não atuar de forma correta para proteger a instalação, podendo danificar os cabos.

No caso de um curto-circuito de alta capacidade, por exemplo, o produto pode não aguentar extinguir a energia passante pelo produto, causando um acidente”.

Ruyvaz destaca ainda que, no melhor dos casos, o risco de um dispositivo de má qualidade se limita a problemas de operação do sistema (disjuntor desarmando), o que irá causar interrupções não corretas, causando transtornos e prejuízos por parada de operação da instalação. Mas, nos casos extremos, se o disjuntor não atuar quando necessário poderá haver a parada total da instalação, ou até a ocorrência de um incêndio na mesma.

A mensagem que fica é que é preciso cuidado ao lidar com disjuntores. Evite produtos de marcas desconhecidas, sem certificação, que se destacam apenas pelo preço baixo. Aliás, se o valor de um disjuntor estiver muito abaixo da realidade do mercado, desconfie. E, no ato da instalação, não tenha pressa. Preste atenção a cada detalhe, inclusive nos mais simples, como o aperto dos parafusos.

5 thoughts on “Disjuntores: atenção na escolha e cuidados na instalação

  • fevereiro 4, 2021 em 3:51 pm
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    Ola boa tarde é que o nosso mercado apareceu muitos eletricistas sem formação e temos uma gama de disjuntores muito aquem do profissional da instalação.

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    • fevereiro 5, 2021 em 5:17 pm
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      Olá Luiz. Realmente ainda falta muito profissionalismo. Estamos aqui pra tentar mudar isso 👍

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  • fevereiro 3, 2021 em 10:30 pm
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    Boa noite! Excelente matéria , tenho visto diversas instalações elétricas com disjuntores superdimensionados , mostrando a total falta de conhecimento de quem o instalou. Parabéns , vamos tentar fazer as instalações mais seguras!

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    • fevereiro 4, 2021 em 12:49 pm
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      Muito obrigado pelo comentário, Olintho! Essa é a nossa meta! 👍

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      • janeiro 29, 2022 em 6:41 am
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        Acho que a mídia TV, deveriam focar nesse tipo de reportagem também. Só se fala em doença! Deveriam falar e comentar sobre esse e outros problemas decorrentes em residências feitas por maus profissionais e que não trabalham em cima de normas. Construção geral!

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