Somos tecnologicamente dependentes. Como resolver?

Por Marisa Zampolli*

Alguns materiais, como os semicondutores, são comuns a praticamente todos os equipamentos eletrônicos que conhecemos. É um material sólido e feito de silício usado em circuitos eletrônicos, integrados e microchips. Os principais dispositivos que utilizamos no dia a dia contam com essa matéria-prima: refrigeradores, televisores, computadores, smartphones, e até mesmo os carros elétricos. Consegue imaginar o impacto que a falta desse produto causa à indústria? É esse o momento que vivemos. Nos últimos meses, a fabricação de semicondutores não é suficiente para suprir às demandas do mercado, trazendo problemas às empresas, principalmente para as automobilísticas. Em média, um veículo precisa de 80 a 150 chips ou unidades de controle eletrônico, e cada uma dessas peças utiliza o semicondutor.

Um relatório divulgado pela Fitch Ratings estima que as perdas do setor podem ultrapassar 1 milhão de unidades até o final do ano. E as principais fabricantes de automóveis já se pronunciaram a respeito da situação e de como essa realidade está afetando os negócios. Mesmo assim, é difícil prever quando essa crise de escassez terá fim. Só no Brasil, 14 fábricas anunciaram que as produções de mais de 40 modelos foram reduzidas ou interrompidas.

Recentemente, uma matéria publicada pela Época Negócios explicou que com a pandemia da Covid-19, diversas empresas que fabricam esse material precisaram fechar as portas, o que desacelerou a produção, inclusive, muitas companhias cancelaram encomendas por parte de montadoras de carros. Em contrapartida, com pessoas em home office e a necessidade do ensino à distância, as compras de produtos eletrônicos como celulares, notebooks e televisores aumentaram rapidamente. Dessa forma, quando a indústria automobilística precisou ampliar a oferta de mercadorias, sua principal matéria-prima estava em falta.

Em outros casos, bastaria que as fabricantes de semicondutores intensificassem a produção, ampliassem os negócios ou contratassem mais colaboradores. Embora pareça uma solução, não é tão simples assim. Isso porque as montadoras precisam se planejar em anos para conseguirem entregar as quantidades requisitadas de produto, logo, com o atraso do ano passado, restabelecer os serviços e “salvar” a indústria não era uma tarefa tão simples. Fatores geopolíticos também interferem no ramo. Um exemplo disso é que, em 2020, os Estados Unidos decidiram inserir a maior fabricante chinesa de circuitos integrados, em uma lista que limita o acesso das companhias às tecnologias desenvolvidas no país, logo, a capacidade total de trabalho foi afetada.

A solução para a crise não parece estar próxima. Analistas que acompanham o mercado acreditam que a produção de semicondutores deve ser normalizada até o final de 2022, entretanto, os fabricantes acreditam que levarão alguns anos para resolver a situação. Uma tendência seria que as montadoras buscassem alternativas, como a entrada de novos players ou a construção de mais fábricas, porém, as duas opções são a longo prazo, visto que podem demorar até 5 anos para a concretização. 

Não existe solução rápida, e duas coisas ficam claras: a necessidade de aprimorar uma cadeia de suprimentos para garantir o futuro e a capacidade da indústria de se reinventar.

O que será que vem primeiro?

*Marisa Zampolli
CEO da MM Soluções Integradas, engenheira elétrica e especialista em Gestão de Ativos.

One thought on “Somos tecnologicamente dependentes. Como resolver?

  • 25/11/2021 em 12:38
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    Formamos engenheiros alta capacidade tecnológico, o que nos faltam são as prioridades em pesquisas, desenvolvimentos e inovações. O Brasil em publicações de paper está bem situado próximo aos dez países que mais o fazem. Mas, ainda em patentes e inovações, estamos muito atrasados. Como em tecnologia nada se fornece de graça e aí que a “porca torce o rabo”! Somos um eterno pagador de royalties. Para rompermos esse paradigma, não há outra saída que não seja investimentos nos setores da educação. Lamentavelmente, esse governo combate as universidades públicas federais e gratuitas, classificando-as, de forma irresponsável, de um antro de esquerdistas e drogados. Engenheiro, professor, mestre em ciências de engenharia elétrica-sistema de potência. Projetista e consultor em eficiência energética e geração fotovoltaica.

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