Você conhece os perigos da passagem de corrente elétrica pelo nosso organismo?

Professor Engenheiro Hilton Moreno


Nesse sábado (04/05) o Prof. Hilton Moreno volta ao programa É de Casa, da tv Globo para falar sobre choque elétrico. Confira o post que ele preparou sobre esse assunto tão importante.

O choque elétrico é a reação do organismo à passagem da corrente elétrica (eletricidade).

As lesões provocadas pelo choque elétrico podem ser de três tipos:

– eletrocussão (choque fatal ou não);

– queimaduras internas ou externas;

– quedas provocadas pelo choque, que podem levar a óbito.

Importante esclarecer que a gravidade do choque elétrico é função direta de duas variáveis: valor da corrente elétrica e tempo de circulação da corrente elétrica pelo corpo. O valor da tensão elétrica a que a pessoa é submetida não é um fator direto da gravidade do choque elétrico, embora seja a tensão, combinada com a resistência elétrica da pessoa, que vai determinar a intensidade da corrente elétrica que irá atravessar o corpo da pessoa.

Quanto maior a tensão a que uma pessoa é submetida, maior a corrente elétrica que vai passar por ela. Assim, por exemplo, um choque em 220 volts é potencialmente mais perigoso que em 110 volts. Por outro lado, o contato de uma pessoa com 13.800 volts, que é a tensão existente na maioria das redes existentes nos postes, é muito mais perigoso que em 110 ou 220 volts. No entanto, estudos de longa data indicam que voltagens superiores a 50 volts em pessoas não molhadas e superiores a 12 volts em pessoas imersas na água (piscinas ou mar, por exemplo), podem ser muito perigosas e até fatais.

A resistência elétrica do corpo da pessoa é fundamental na determinação da quantidade de corrente elétrica que irá passar por ela. Essa resistência é formada pela associação da pele, músculos, tecidos e líquidos do corpo, sendo, dentre esses componentes, a pele a principal barreira isolante que protege as pessoas contra os choques elétricos. No entanto, a composição química da pele e demais partes mencionadas do corpo, varia em função de fatores como: pele seca, úmida ou molhada; grau de estresse da pessoa (calma ou nervosa); tipo de alimentação; idade e gênero da pessoa; etc. Com a alteração da composição química, muda o grau de isolação que o corpo da pessoa provê para a passagem da corrente elétrica, afetando assim as consequências de um choque elétrico. Como exemplo destes fatores, sabe-se que, em geral, mulheres são mais sensíveis aos choques elétricos do que homens; bebês e pessoas idosas são mais sensíveis do que outras faixas de idade.

Outro fator muito importante no choque elétrico é o caminho que a corrente elétrica percorre ao atravessar o organismo. A passagem da eletricidade diretamente pelo coração pode levar ao óbito por parada cardíaca ou respiratória decorrente de fibrilação ventricular.

Se atravessar um órgão importante, como fígado ou rins, a corrente elétrica poderá queimá-los totalmente, provocando a morte por falência dos órgãos. Ao atravessar a pele, poderá provocar severas queimaduras de segundo ou terceiro graus. E assim por diante.

A figura abaixo mostra as possíveis formas de entrada e saída da corrente elétrica pelo corpo humano, destacando o coração como percurso crítico.

A questão do choque elétrico envolvendo o uso de aparelhos elétricos ou eletrônicos, seja em casa, no trabalho, no supermercado ou em qualquer outro local, envolve dois aspectos: (1) defeito (interno) do aparelho, que coloca as pessoas em situação de risco de choque elétrico; e (2) instalação elétrica inadequada, que não protege as pessoas contra os choques elétricos gerados pelos aparelhos.

Cada um destes aspectos deve ser abordado separadamente, pois têm características específicas, descritas a seguir.

Pelo lado dos equipamentos eletroeletrônicos, eles são fabricados conforme normas e regulamentos técnicos, que preveem medidas construtivas visando a proteção das pessoas contra choques elétricos. Em alguns casos, essa medida de proteção prevê o uso de uma dupla isolação elétrica dos componentes internos (isolação reforçada), que reduz significativamente a chance daquele equipamento eletrocutar alguém. Quando isso não é feito por qualquer razão, então o equipamento é dotado de um sistema de aterramento adequado, protegendo então as pessoas contra os choques elétricos. Mas tudo isso é “transparente” ou “invisível” para um leigo, que, obviamente, confia (ou não espera) estar levando para casa um produto seguro, que não vá mata-lo por choque elétrico. Desta forma, os problemas de choque elétrico causados pelos eletroeletrônicos que são fabricados conforme as normas são devidos aos seguintes fatores:

  • envelhecimento do aparelho, que com o passar dos anos começa a apresentar fugas de energia elétrica por meio de suas partes metálicas (carcaça) ou pela água, no caso de chuveiros e torneiras elétricas. Para resolver essa situação, deve ser realizada manutenção periódica no aparelho ou trocá-lo após alguns anos de uso. Essa fuga de energia é como se fosse o vazamento de óleo de um carro: não deveria acontecer, mas acontece.
  • mau uso do aparelho, que provocou uma avaria interna, que pode levar a fugas de energia elétrica pelas partes metálicas. Por exemplo, ligar o aparelho em voltagens maiores do que as indicadas; expor o aparelho a jatos ou imersão em água (mangueiras, banheiras, piscinas, etc.). O manual do fabricante geralmente traz instruções de como utilizar corretamente os aparelhos.
  • usar o aparelho em desacordo com as instruções do fabricante. O exemplo mais clássico desta situação é a pessoa “arrancar” o terceiro pino (fio terra) do plugue que fica na ponta do cabo de ligação do aparelho porque a tomada na parede tem só dois buracos e não três. Ou então, ao invés de arrancar o pino, usar adaptador no qual entram 3 pinos mas saem apenas dois pinos para ligar na tomada. A situação de inutilizar o fio terra do aparelho é similar a impedir de forma proposital o funcionamento do cinto de segurança de um carro;
  • defeito interno do aparelho: embora sejam fabricados para funcionar sem problemas, os aparelhos podem apresentar defeitos internos que levam à fuga de energia elétrica pela parte metálica do aparelho ou pela água nos chuveiros e torneiras elétricas. Sobre defeitos internos, não há nada que a dona de casa possa fazer antes de sua ocorrência, a não ser ter uma instalação elétrica que a proteja contra os riscos de choque elétrico decorrentes dessas falhas.

Pelo lado da instalação elétrica, existe norma técnica da ABNT que indica como ela deve ser feita para reduzir ou eliminar os riscos de acidentes das pessoas com choques elétricos e podem ser resumidas em:

  • existência de um sistema de aterramento na casa, sendo uma parte deste sistema que fica enterrada;
  • existência de fio terra em todos os pontos de ligação de equipamentos eletroeletrônicos. Esse fio terra pode ser comparado ao cinto de segurança de um carro;
  • existência de um dispositivo chamado DR (diferencial residual), instalado no quadro de luz, que desliga a energia no caso de um princípio de choque elétrico. Esse dispositivo DR pode ser comparado ao air-bag de um carro;
  • existência de tomadas de 3 pinos em toda instalação da casa.
  • ligação do fio terra da instalação ao pino de terra de todas as tomadas e diretamente ao fio terra de alguns aparelhos, como chuveiro e torneira elétrica.

Quando uma instalação elétrica é feita com os componentes acima, ela protege as pessoas contra os riscos de choques elétricos, mesmo que a pessoa não saiba que um determinado aparelho representa um perigo real. As pessoas não são obrigadas a adivinhar que vão levar um choque ao ter contato com um equipamento eletroeletrônico. É a instalação elétrica que deve proteger as pessoas cem por cento do tempo, independentemente do conhecimento ou não da pessoa sobre os perigos dos choques elétricos.

A dura realidade brasileira é que a enorme maioria das casas e apartamentos, além de estabelecimentos comerciais, não atende satisfatoriamente as exigências de segurança das instalações elétricas em geral e contra choques elétricos em particular. Falta conhecimento técnico em alguns casos e falta de fiscalização em todos os casos.

Gostou desse post? Quer me ouvir falar um pouco mais sobre choques elétricos? Então não perca nesse sábado o programa É de Casa da TV Globo, estarei no programa a partir das 09h00, conversando sobre esse importante tema.

9 thoughts on “Você conhece os perigos da passagem de corrente elétrica pelo nosso organismo?

  • agosto 25, 2022 em 6:39 am
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    Gostei das informações vou usar em alguns dds.

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    • agosto 25, 2022 em 1:58 pm
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      Que ótimo, Cleiton! Muito obrigado por comentar.

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  • novembro 6, 2021 em 12:54 pm
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    Muito boa notícia, sofri um acidente 2018 acidente de trabalho com 13.800volts, meu equipamento foi atraído por Arco Voltaico, foquei por meia hora na rede,o que me salvou foi árvore servindo de terra,sendo a saída foi no pé esquerdo, fiquei inconsciente com chegada dos desgaste não podia fazer o atendimento devido a concessionária demorar meia hora para chegar ao local, assim que foi desligado a rede fui atendido lei SAMU,e em seguida pelo Águia Polícia Militar de São Paulo.
    46 dias UTI enxertos e amputação do dedo.
    Hoje estou com sequelas permanentes e irreversíveis.
    Foi um milagre estar vivo,diz os médicos que não dava vida para mim depois da segunda cirurgia.

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    • novembro 9, 2021 em 12:06 pm
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      Impressionante, Evandro! Obrigado por compartilhar sua experiência e reforçar ainda mais a importância da segurança.

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  • janeiro 17, 2021 em 11:12 am
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    Se eu ficar grudado nos dois polos de uma tomada elétrica, quanto tempo o choque leva para matar?

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  • setembro 24, 2020 em 10:38 am
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    Tenho uma dúvida: em caso de eletrocussão, a queimadura é mais evidente no corpo humano na entrada ou na saída da corrente elétrica?

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    • setembro 24, 2020 em 1:14 pm
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      Olá, Fernando. Tudo bem?

      Obrigado pelo envio da pergunta, mas devido à grande quantidade de dúvidas técnicas que recebemos, não conseguimos respondê-las individualmente. Por isso, utilizamos as perguntas para gerar novos conteúdos constantemente.

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      Abraços.

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  • maio 4, 2019 em 2:33 pm
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    Esse artigo é muito importante para que as pessoas tenham ideia do perigo que é a eletricida, sabemos que muitas pessoas não dão a em portância paras esse perigos Hilton Moreno é um mestre no Sistema elétrico.

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  • maio 3, 2019 em 8:01 pm
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    Boa noite!

    É a dura realidade, na semana passada em Curitiba infelizmente mais uma tragédia. Morreu pai e filha provavelmente por falta de DR no circuito de tomadas externas. O que se sabe é que o pai estava trabalhando , lavando calçadas quando ficou grudado em uma extensão e a filha foi socorre-lo e também ficou grudada, morreram os dois.
    Como fazer para que todos tenham uma conciência maior sobre os perigos com eletricidade?

    Um abraço.

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