Água e eletricidade

🥇 Matéria de Capa da Edição 222 da Revista Potência

Especialista orienta como reagir ao ter as instalações elétricas atingidas por enchentes.

Crédito: Shutterstock

O Rio Grande do Sul acaba de passar por uma enchente histórica que deixou quase duas centenas de mortos e milhares de desabrigados. Ainda que em escala menor, o problema acontece com certa frequência em outras regiões, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Santa Catarina.

As inundações causam todo tipo de transtorno para a população e uma das dúvidas geradas após a ocorrência do problema é: como lidar com as instalações elétricas atingidas por enchentes.

Conforme destaca o professor e engenheiro eletricista Hilton Moreno, diretor Acadêmico da UniPotência (Universidade Potência Educação) e da Revista Potência, antes de reenergizar uma instalação elétrica que foi afetada por uma enchente, é preciso tomar uma série de cuidados que vão desde a troca do componente até seu eventual reaproveitamento.

Para decidir o que fazer em cada caso, é preciso entender, por exemplo, quais produtos elétricos são afeta[1]dos em maior ou menor grau pela enchente e como esses componentes são atacados, dentre outros aspectos.

Desconhecer ou ignorar como os materiais elétricos da instalação são afetados pela enchente pode colocar as pessoas que vão ocupar os imóveis em sérios riscos de choque elétrico e o patrimônio em risco de incêndio, além da diminuição da vida útil da instalação elétrica, o que representa um prejuízo financeiro para os proprietários do imóvel.

Nesta matéria, baseada em uma live da UniPotência, Hilton apresenta informações importantes para que o leitor consiga fazer uma análise e tomar decisões sobre a reenergização das instalações elétricas atingidas por enchentes.

O conteúdo está baseado em recomendações da NEMA (National Electrical Manufacturers Association) e da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.

Dicas de saúde para o período pós-enchente

Está pensando em reenergizar a instalação depois da enchente? Só que antes disso é preciso tomar alguns cuidados. Seguem três recomendações antes de mexer na parte elétrica.

Leptospirose. É uma doença causada por uma bactéria presente na urina do rato e normalmente se espalha pela água suja de enchente, lama e esgoto. Pessoas que trabalham na retirada da lama e entulho devem usar botas e luvas de borracha para evitar o contato da pele com água e lama contaminados (se isso não for possível, usar sacos plásticos duplos amarrados nas mãos e nos pés).

Usar também máscara, um pano ou lenço limpo para cobrir a boca e o nariz.

Não existe vacina contra leptospirose.

O segredo é a prevenção.

Outra doença associada a enchente é o Tétano. Tétano é uma doença grave causada por uma bactéria que pode estar presente em objetos de metal (mesmo que não estejam enferrujados), de madeira, de vidro ou mesmo no solo (pregos, latas, ferramentas agrícolas, cacos de vidro, galho de árvore, espinhos, pedaços de móveis e outros). O contato com os entulhos e os destroços pode provocar lesões na pele e, consequentemente, o adoecimento por tétano acidental. Procure com urgência o serviço de saúde mais próximo e comunique os detalhes do acidente ao profissional de saúde (não se esqueça de dizer com qual objeto você se acidentou).

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A melhor e mais segura forma de prevenção é por meio da vacinação disponível no posto de saúde. Se você não se lembra se foi vacinado ou caso possua outras dúvidas, procure o serviço de saúde mais próximo levando seu cartão de vacinação. Caso não possua esse cartão, informe ao profissional de saúde e vacine-se.

O terceiro problema são os animais peçonhentos.

Assim como o homem, em situações de enchentes os animais peçonhentos como serpentes, aranhas e escorpiões também ficam desabrigados e procuram abrigo em locais secos. Em caso de encontrar animais peçonhentos afaste-se lentamente deles (sem assustá-los) e chame o Corpo de Bombeiros ou o controle de zoonoses.

Nunca coloque diretamente as mãos em caixas e quadros elétricos, buracos ou frestas. Use luva de ‘vaqueta’ ou raspa de couro e ferramentas como enxadas, cabos de vassoura e pedaços compridos de madeira para mexer nos objetos.

Não ande descalço. Use botas ou calçados rígidos com perneira com proteção até o joelho e calças compridas e camisas de manga comprida.

Como lidar com as instalações elétricas após as enchentes

Equipamentos e dispositivos elétricos expostos à enchente, independentemente da duração, podem se tornar extremamente perigosos se reenergizados sem a adequada troca por um novo ou recondicionamento.

A presença de agentes contaminantes (produtos químicos, esgoto, óleo e outros detritos) na água das enchentes pode afetar a integridade e operação dos equipamentos e dispositivos elétricos.

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“Qualquer equipamento e dispositivo elétrico que ficou exposto à enchente, não interessa se ficou exposto por uma hora, duas horas, dois dias ou duas semanas, ele exposto à enchente, independentemente da duração, pode se tornar muito perigoso se a gente simplesmente reenergizar o equipamento sem dar uma olhada nele. Ou trocar o equipamento por um novo ou recondicionar adequadamente. Recondicionar pode ser desde dar uma lavada no equipamento até desmontar o equipamento, limpar e trocar partes”, orienta Hilton Moreno (foto).

Hilton Moreno | UniPotência

Fabricantes, distribuidores, revendedores e lojistas não devem vender produtos elétricos que foram expostos a enchente sem que tenha sido feita uma minuciosa análise.

O fabricante/fornecedor original dos produtos elétricos sempre deve ser consultado em caso de dúvidas sobre troca ou recondicionamento.

Dependendo do produto, somente pessoal qualificado e autorizado pelo fabricante deve fazer o recondicionamento.

“Vamos lembrar que numa enchente, uma loja de material elétrico foi invadida pela água. Todo aquele material elétrico que está no estoque foi contaminado por tudo aquilo que tem no líquido de enchente. Não tem sentido secar e botar no mercado de volta. Estará entregando um produto potencialmente perigoso que pode vir a dar uma falha ou de imediato quando reenergizar ou dali a pouco tempo”, alerta Hilton Moreno. De acordo com ele, é preciso ter responsabilidade ao colocar produtos atingidos por enchente no mercado. “Na dúvida, o fabricante original do produto tem que ser consultado para dizer o que eu faço com ele”, complementa.

Equipamentos com componentes eletrônicos

Componentes eletrônicos presentes em unidades de disparo de disjuntores, relés, DR, AFDD, dimmers, medidores, dispositivos de partida de motores, reatores, drivers de LED, etc. podem ser completa[1]mente danificados pela água e partículas contaminantes de enchentes, ficando totalmente inoperantes.

Os contaminantes líquidos e sólidos causam corrosão dos componentes e do circuito impresso, alterando ou impedindo o correto funcionamento.

Recomenda-se fortemente que estes equipamentos sejam substituídos ou, em casos específicos, deve ser consultado o fabricante original para avaliar a possibilidade de recondicionamento.

“O que tem na água de enchente pode causar corrosão nos componentes, corrosão no circuito impresso onde eles estão montados, ou seja, ou danifica permanentemente ou alteram e impedem o correto funcionamento daqueles equipamentos”, observa Hilton.

A ideia é sempre consultar o fabricante original. Mas a regra geral é: um equipamento que tem eletrônica dentro dele precisa ser trocado por um equipamento novo. A exceção a esses casos vai ser mediante orientação e feito pela assistência técnica em recondicionar.

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Disjuntores, fusíveis e quadros

Dispositivos de proteção e seccionamento, como disjuntores e chaves, além de invólucros e quadros de distribuição, que contêm fiação, relés, medidores, etc. podem ser afetados pela exposição à água e seus contaminantes.

Podem ocorrer corrosão de partes metálicas, mau funcionamento de partes móveis e contatos, perda de lubrificação, grande redução da resistência do isolamento, etc.

Nos fusíveis, a água contaminada pode afetar o material de enchimento, afetando seriamente as capacidades de isolamento e interrupção.

Precisa trocar esses dispositivos por novos. “Eles estão dentro de um quadro? Remova tudo do quadro, lava o invólucro, seca o invólucro e vamos montar esse quadro tudo de novo com componentes novos. Esse tipo de coisa não dá para reaproveitar depois de ter ficado exposto àquele líquido da enchente”, ensina Hilton Moreno.

Interruptores, tomadas, dimmers, DR, DPS, AFDD

Sedimentos e contaminantes contidos na água da enchente podem penetrar nos componentes internos dos produtos elétricos e podem permanecer lá mesmo depois de os produtos terem sido lavados pelo usuário. Tais materiais podem afetar seriamente o desempenho desses produtos a médio prazo, mesmo parecendo que tudo foi resolvido no início.

Dispositivos como DR, DPS e AFDD contêm circuitos eletrônicos e outros componentes que podem ser afetados pela água, resultando na não funcionalidade confiável do dispositivo.

Como resultado, tais produtos que estiveram em contato com a água contaminada não são adequados para uso contínuo e devem ser substituídos por novos produtos. Não devem ser feitas lavagem e secagem destes tipos de produtos atingidos por enchente, sejam instalados em obras ou em estoques de fabricantes e revendedores. Deve ser tudo trocado.

Cabos elétricos

Quando um cabo é exposto à água contaminada, qualquer componente metálico (condutor, blindagem metálica ou armadura) está sujeito a corrosão, que pode danificar o próprio componente e/ou causar falhas nas terminações. Além disso, a isolação poderá ser degradada por contaminantes. Particularmente, se a água contaminada permanecer no interior de um cabo de média tensão, poderá acelerar a deterioração da isolação (efeito de arborescência), causando sua falha prematura.

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De forma geral, se não houver exposição da(s) extremidade (s) do cabo instalado à água contaminada, ele pode ser limpo e reenergizado.

No caso de exposição da(s) extremidade(s) do cabo instalado, recomenda-se cortar aproximadamente 5 metros de cabo. Se houver a presença de água ou umidade e/ou o condutor metálico estiver com coloração modificada, cortar mais 5 metros e observar. Se precisar, repetir mais uma vez esse procedimento e, se ainda houver presença de água ou umidade ou mudança de coloração, descartar o lance todo do cabo.

Fabricantes de cabos elétricos ou montadores de ‘chicotes’, distribuidores, revendedores e lojistas que vendem estes produtos e que tiveram seus estoques atingidos por enchentes, devem verificar se não houve penetração de água contaminada no interior do produto e somente após comprovado que isso não aconteceu e mediante realização e aprovação do cabo no ensaio de resistência de isolamento, podem comercializar o produto.

Lâmpadas, luminárias e equipamentos auxiliares

Lâmpadas fluorescentes, de descarga de alta intensidade e de LED, luminárias em geral e equipamentos auxiliares (reatores, drivers, etc.) não são destinados à submersão em água, contaminada ou não.

Sistemas de iluminação sujeitos à enchente podem ser danificados total ou parcialmente por materiais corrosivos, sedimentos ou outros detritos na água. Corrosão de peças metálicas e a contaminação dos circuitos internos podem impedir o funcionamento adequado e seguro do equipamento.

Lâmpadas, luminárias e equipamentos auxiliares que foram atingidos por enchente, em obra ou em estoque, devem ser substituídos por novos.

Transformadores

A exposição dos transformadores à água contaminada pode causar corrosão e danos ao material isolante do núcleo e do enrolamento do transformador. A capacidade do transformador de desempenhar sua função de maneira segura também pode ser prejudicada por detritos e produtos químicos que podem ser depositados dentro do transformador durante uma inundação. Água e contaminantes também podem danificar fluidos de transformadores.

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Recomenda-se fortemente que deve ser consultado o fabricante original para avaliar a possibilidade de recondicionamento.

Motores elétricos

Motores que foram atingidos por enchente podem estar sujeitos a danos por detritos ou produtos contaminantes que atingem as isolações das bobinas, contatos móveis, capacitores de partida e protetores de sobrecarga.

Corrosão de peças metálicas e contaminação dos meios lubrificantes devem ser avaliadas por pessoal qualificado. O fabricante deve ser contatado para obter instruções específicas sobre possível desmontagem, limpeza e secagem do motor e eventuais trocas de componentes internos, que devem ser feitas exclusivamente por pessoal qualificado.

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