🥇 Matéria de Capa da Edição 231 da Revista Potência
Reportagem: Paulo Martins
Modelo no qual a população e empresas geram a própria energia chega a 38 gw de potência instalada.

A Geração Distribuída (GD) é a produção de energia elétrica junto ou próximo da carga (consumo), podendo ser realizada por prosumidores, ou seja, consumidores que geram sua própria energia. Ao contrário do modelo tradicional, que depende exclusivamente de grandes usinas e longas linhas de transmissão, a GD permite que a população, empresas e indústrias se tornem participantes ativos no processo de geração de energia.
Atualmente, o Brasil possui 38 GW de potência instalada em Geração Distribuída, o que corresponde a aproximadamente duas usinas de Itaipu e meia. Esse crescimento reflete o aumento do número de prosumidores que adotam fontes renováveis de energia, impulsionando a descentralização da geração elétrica e fortalecendo a sustentabilidade do sistema energético do país.
Apesar do grande desenvolvimento da Geração Distribuída no Brasil, ainda existem desafios a serem vencidos para maior expansão da modalidade.
O país precisa trabalhar no sentido de obter a redução da carga tributária sobre os equipamentos. Também é importante ampliar o acesso ao crédito e investir na formação de mão de obra e em mecanismos de incentivo à pesquisa e inovação.
Conforme informa Carlos Evangelista (foto), presidente-executivo da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), nos últimos anos, a GD tem atraído, em média, entre R$ 20 bilhões e R$ 25 bilhões por ano em investimentos privados no Brasil. “Esse número demonstra a confiança do mercado no setor e a atratividade dos projetos, principalmente da fonte solar fotovoltaica. Além disso, com o avanço da tecnologia, melhorias na regulamentação, queda do preço dos equipamentos e a maior oferta de financiamento, esse volume tende a crescer continuamente”, destaca.

Presidente-executivo da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD)
A previsão de investimento em GD para 2025 é de mais de R$ 25 bilhões em recursos privados, sendo que esse montante acompanha o crescimento estimado em 22% em potência instalada este ano, impulsionado pela demanda por fontes de energia limpas e pela busca dos consumidores por maior independência das distribuidoras.
O potencial da Geração Distribuída no Brasil é enorme. Segundo estudos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o país pode ultrapassar 120 GW de potência instalada em GD até 2040, com destaque para a energia solar fotovoltaica. “Com a abundância de recursos renováveis, uma base regulatória já consolidada e o crescente engajamento da sociedade, o Brasil tem todas as condições de liderar a transição energética global, com a GD como protagonista na democratização do acesso à energia limpa”, aponta Evangelista.
A Geração Distribuída no Brasil já gerou mais de 100 mil novos empregos, o que tem sido impulsionado pela expansão da energia solar fotovoltaica, biogás, biomassa e CGH, dentre outras. As perspectivas futuras indicam um aumento contínuo na geração de empregos, especialmente à medida que a GD se expande e mais prosumidores adotam fontes renováveis de energia. “A previsão é de que a demanda por profissionais qualificados cresça ainda mais, promovendo o desenvolvimento econômico e social em diversas regiões do país, além de contribuir para a sustentabilidade do setor energético”, identifica Evangelista.
Segundo a ABGD, a distribuição da Geração Distribuída no Brasil apresenta um crescimento expressivo em diversos estados, com destaque para São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso, que lideram o ranking de potência instalada. São Paulo ocupa a primeira posição, com 5,44 GW, seguido por Minas Gerais (4,70 GW), Paraná (3,39 GW), Rio Grande do Sul (3,31 GW) e Mato Grosso (2,48). “O avanço da GD nesses estados reflete o compromisso com a diversificação da matriz energética e a ampliação do acesso a fontes renováveis, contribuindo para a sustentabilidade do setor elétrico e a democratização da geração de energia”, frisa Carlos Evangelista.

A Geração Distribuída no Brasil é composta por várias fontes de energia, como a energia solar fotovoltaica, biogás, energia eólica, biomassa, hidrogênio verde e bagaço de cana de açúcar. A principal fonte é a radiação solar, com 37,68 GWh gerados. O biogás vem logo em seguida, com 0,062 GWh de resíduos agroindustriais (RA), 0,051 GWh de resíduos urbanos (RU), 0,017 GWh de resíduos agropecuários (AGR) e 0,015 GWh de resíduos florestais. A energia eólica contribui com 0,018 GWh, enquanto o bagaço de cana de açúcar gera 0,015 GWh. Assim, a radiação solar é a fonte predominante na GD, seguida pelo biogás, energia eólica e bagaço de cana.
A maior parte da potência instalada da GD está concentrada em residências (18,18 GW), seguida por estabelecimentos comerciais (10,63 GW), instalações rurais (5,09 GW), indústrias (2,67 GW) e instituições do poder público (0,41 GW).
Desafios e planejamento da Geração Distribuída
De acordo com Carlos Evangelista, o crescimento da Geração Distribuída no Brasil é impulsionado por diversos fatores, entre eles a redução dos custos dos equipamentos fotovoltaicos, os avanços tecnológicos que tornam a geração mais eficiente e acessível e os incentivos regulatórios que garantem segurança jurídica para consumidores e investidores. “Somado a isso, o constante aumento das tarifas de energia elétrica leva muitos consumidores a buscarem alternativas mais econômicas, enquanto a crescente preocupação com sustentabilidade fortalece a adoção de fontes renováveis. Outro fator determinante é a independência energética proporcionada pela GD, permitindo que consumidores residenciais e empresariais gerem e consumam sua própria eletricidade, o que possibilita a redução de sua dependência do sistema convencional e a promoção de maior estabilidade no fornecimento de energia”, explica o presidente-executivo da ABGD.
Entre os principais desafios para a expansão da GD no Brasil podem ser citadas a modernização da infraestrutura elétrica para acomodar o crescimento descentralizado, a redução da carga tributária sobre os equipamentos e a necessidade de ampliar o acesso a financiamentos de longo prazo. “Além disso, é fundamental manter a previsibilidade regulatória, evitando retrocessos que possam afetar a confiança dos investidores e consumidores”, alerta Carlos Evangelista.
Sobre os incentivos financeiros e financiamentos para o desenvolvimento da GD, Evangelista diz que apesar dos juros altos, ainda existem linhas de crédito especial disponíveis, principalmente em bancos públicos como BNDES e Caixa. Mas os recursos disponíveis nem sempre atendem a toda a demanda, especialmente para consumidores de baixa renda e pequenos empreendedores. “É importante ampliar o acesso ao crédito, reduzir a burocracia e criar mecanismos inovadores de financiamento, como fundos garantidores e crédito com taxas mais competitivas”, defende o presidente-executivo da ABGD.
Quanto ao arcabouço regulatório, Evangelista entende que o marco legal da Geração Distribuída, estabelecido pela Lei 14.300/2022, representou um avanço significativo: “Ele garante regras claras e segurança jurídica para novos investimentos. A regulamentação é favorável e tem sido aprimorada com a colaboração de todos os agentes do setor. No entanto, é necessário acompanhar sua aplicação para garantir que os princípios da previsibilidade, estabilidade e estímulo à inovação sejam preservados”, analisa.
Sobre o tipo de planejamento que o País precisa adotar para que o mercado de Geração Distribuída cresça de maneira consistente, sem risco de haver retrocessos, Evangelista opina que é necessário integrar a GD ao planejamento energético de longo prazo, com ações coordenadas entre governo, setor privado, agências reguladoras e instituições financeiras. “Isso inclui a modernização da rede, investimentos e incentivos para armazenamento e digitalização, formação de mão de obra e mecanismos de incentivo à pesquisa e inovação. Um mercado saudável precisa de estabilidade regulatória, políticas públicas de estímulo e participação ativa da sociedade”, aponta Evangelista.

Benefícios e importância da Geração Distribuída
A Geração Centralizada refere-se à produção de eletricidade em grandes usinas (hidrelétricas e termelétricas), na qual a energia é transmitida por meio de longas linhas de transmissão até os consumidores, sendo o modelo mais comum para residências e pequenas empresas. Já a Geração Distribuída é um modelo em que os consumidores também atuam como produtores de energia (prosumidores), junto da carga. Este modelo se destaca do Mercado Livre de Energia, em que grandes consumidores podem negociar diretamente com as geradoras para obter tarifas mais vantajosas. Para empresas de menor porte, o Mercado Livre Varejista também oferece vantagens semelhantes, proporcionando maior autonomia na gestão de seus custos energéticos.
A implementação de um sistema de Geração Distribuída envolve algumas etapas essenciais. Primeiramente, é necessário realizar uma análise de viabilidade técnica e econômica, considerando o consumo de energia e as características do local. Em seguida, deve-se contratar uma empresa especializada para o projeto e dimensionamento do sistema. Após isso, ocorre a solicitação de acesso à distribuidora local, conforme as normas da ANEEL. Com a aprovação, inicia-se a instalação e, por fim, a vistoria e conexão à rede. “Todo esse processo está cada vez mais ágil e seguro, graças ao amadurecimento do setor e à qualificação das empresas atuantes”, avalia Carlos Evangelista.
O presidente-executivo da ABGD cita que a expansão da Geração Distribuída democratiza o acesso a soluções energéticas mais sustentáveis, contribuindo diretamente para a redução da pegada de carbono, já que não gera emissões de gases poluentes.
No aspecto econômico, a modalidade impulsiona a criação de empregos qualificados nas áreas de instalação e manutenção de sistemas, fomenta o avanço tecnológico no setor e viabiliza novos modelos de negócios. “A geração de empregos é um dos principais benefícios da Geração Distribuída, fortalecendo a cadeia produtiva do setor elétrico e promovendo o crescimento sustentável”, complementa Carlos Evangelista.
Na opinião do executivo, produzir a própria energia traz inúmeras vantagens ao consumidor. Em primeiro lugar, proporciona economia significativa na conta de luz, permitindo maior previsibilidade e controle dos gastos com energia elétrica. Além disso, o consumidor conquista autonomia energética, reduzindo a dependência das distribuidoras e aumentando sua resiliência frente a oscilações tarifárias.
Outro benefício é o impacto ambiental positivo: ao gerar energia limpa, como a solar, o consumidor contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa e para a sustentabilidade do planeta. “Produzir sua própria energia também valoriza o imóvel, promove o uso consciente dos recursos naturais e insere o cidadão como protagonista da transição energética brasileira”, emenda Evangelista.
No processo de transição energética pelo qual o Brasil passa, a GD tem um papel fundamental ao ampliar a participação de fontes renováveis na matriz elétrica, reduzindo as emissões de carbono e impulsionando a economia verde. “Ao descentralizar a produção de energia, a GD melhora a segurança do sistema elétrico e incentiva a inovação no setor, gerando novas oportunidades de emprego e desenvolvimento tecnológico. Ao permitir que consumidores residenciais e empresariais produzam sua própria eletricidade, a GD contribui para a democratização do acesso à energia sustentável, alinha o país às metas globais de descarbonização e eficiência energética e fortalece sua posição na transição para um futuro mais limpo e sustentável”, destaca Evangelista.
Atualmente, a Geração Distribuída desempenha um papel cada vez mais relevante na matriz energética brasileira, com 38 GW de potência instalada, segundo dados da ANEEL. A fonte solar fotovoltaica é a grande protagonista desse crescimento, contribuindo para a diversificação da matriz elétrica e reduzindo a dependência de fontes fósseis e grandes hidrelétricas. “A GD promove a descentralização da geração de energia, tornando o sistema mais resiliente e eficiente, ao mesmo tempo em que reduz perdas na transmissão e distribuição. Com isso, os consumidores ganham mais autonomia, e o setor elétrico se torna mais equilibrado e sustentável a longo prazo”, completa Carlos Evangelista.
No mundo, países como Alemanha, Japão, Austrália e Estados Unidos são referências em Geração Distribuída. A Alemanha se destaca pelo forte apoio às energias renováveis e pela participação ativa dos cidadãos na geração de energia. Já a Austrália possui um dos maiores índices de penetração de sistemas fotovoltaicos em telhados residenciais do mundo. “O Brasil, apesar de ter iniciado sua trajetória mais recentemente, avança rapidamente e já figura entre os principais mercados emergentes da GD”, considera Evangelista.

Novos negócios e profissões
O desenvolvimento da Geração Distribuída tem gerado oportunidades para a criação de novos negócios, serviços e profissões. Carlos Evangelista informa que a GD impulsionou o surgimento de empresas integradoras, instaladoras, fabricantes de equipamentos, prestadoras de serviços de engenharia, empresas de operação e manutenção, fintechs voltadas ao setor energético e marketplaces especializados. Também criou profissões ligadas à eficiência energética, gestão de energia, análise de dados, especialistas em regulação e em tecnologia solar, entre outras.
O presidente-executivo da ABGD diz que apesar dos avanços, ainda há um grande espaço para a formação de mão de obra qualificada. “A ABGD tem investido fortemente em capacitação por meio de cursos, parcerias com instituições de ensino e certificações. A demanda por técnicos, engenheiros, instaladores e gestores energéticos só tende a crescer. É essencial continuar formando profissionais com foco em qualidade e segurança”, comenta Evangelista.
De acordo com ele, os profissionais do setor precisam ter conhecimentos técnicos sobre energia solar, eletricidade, normas regulatórias, eficiência energética, sustentabilidade e segurança do trabalho. Para funções comerciais e gerenciais, é importante ter familiaridade com finanças, marketing e negociação. “A combinação entre conhecimento técnico e visão de mercado é um diferencial essencial nesse setor em expansão”, destaca Evangelista.

Sobre a ABGD
A Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD) é a principal entidade representativa do setor de energias renováveis com foco em geração distribuída no Brasil. Fundada em 2015, tem em seus quadros mais de 1.500 empresas, abrangendo toda a cadeia produtiva de equipamentos e serviços do segmento. Atua de forma estratégica na defesa dos interesses do setor junto a órgãos reguladores, instituições governamentais e sociedade civil, promovendo políticas públicas, inovação tecnológica, sustentabilidade ambiental, eficiência energética e a democratização do acesso à energia limpa. A ABGD tem sido protagonista no avanço da geração própria de energia no país, impulsionando o crescimento do mercado e fortalecendo a transição energética brasileira.

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