Inteligência Artificial

 🥇 Matéria de Capa da Edição 230 da Revista Potência

Reportagem: Paulo Martins

Uso das tecnologias que compõem a inteligência artificial contribui para o desenvolvimento diário das empresas de GTD e da indústria elétrica e eletrônica.

A Inteligência Artificial (IA) tem prestado uma contribuição fundamental para a área de Geração, Transmissão e Distribuição (GTD) de energia elétrica, otimizando o desempenho de usinas, favorecendo a manutenção dos sistemas elétricos e identificando perdas de energia.

A IA também tem sido aplicada com sucesso por entidades ligadas ao setor elétrico e pela indústria eletroeletrônica, que vêm obtendo importantes resultados com as novas tecnologias disponíveis.

Nesta matéria, especialistas da área elétrica comentam sobre os benefícios da IA e analisam as tendências e desafios referentes à aplicação dessas ferramentas.

Nathália Padilha (foto), gerente de Estratégia e Inovação do Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (IATI), observa que a Inteligência Artificial tem sido apontada como uma grande revolução e não poderia ser diferente no segmento elétrico.

Nathália Padilha
Gerente de Estratégia e Inovação do Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (IATI)

Para a área de Geração, Nathália entende que a IA pode auxiliar na previsão da geração de fontes renováveis intermitentes, como eólica e solar, analisando padrões climáticos para melhorar a integração dessas fontes à matriz energética. “Além disso, pode permitir a otimização do desempenho de usinas, garantindo que os ativos operem na máxima eficiência, reduzindo desperdícios e custos operacionais”, completa.

Nathália comenta que na área de Transmissão a IA está revolucionando a gestão de ativos e a manutenção preditiva. “Com sensores inteligentes e algoritmos avançados, é possível prever falhas em equipamentos críticos, como transformadores e linhas de transmissão, antes que ocorram, reduzindo interrupções e melhorando a confiabilidade do sistema”, destaca a executiva.

Já na área de Distribuição, a IA auxilia no monitoramento mais inteligente da rede elétrica, identificando perdas técnicas e não técnicas, incluindo fraudes. “Além disso, os sistemas de Inteligência Artificial facilitam a automação da rede elétrica, promovendo a criação das redes inteligentes (smart grids), que são mais flexíveis e adaptáveis às demandas do mercado atual”, conclui Nathália.

Ainda em relação à área de GTD, Renato Bedendi, especialista de Produtos e Aplicação da Mitsubishi Electric Brasil, comenta que a Inteligência Artificial está sendo implementada aos poucos em dispositivos utilizados na automação de processos e consequentemente também na automação de energia. “Os benefícios obtidos na utilização de IA têm sido a solução rápida e a prevenção de problemas de operação”, menciona.

Thiago Arruda, gerente de Soluções Digitais da ABB Eletrificação, diz que a IA pode facilitar a gestão e a operação de todo o sistema, como otimizar a produção de energia, dar maior precisão e previsibilidade à demanda do sistema elétrico, além de apoiar as manutenções desses sistemas e integrar mais facilmente as novas demandas de fontes renováveis. “Outro benefício são as iniciativas de mitigação e prevenção de falhas do sistema elétrico, que utiliza novas e existentes fontes de informações de forma mais organizada, permitindo uma melhor interpretação para a tomada de decisões. Isso porque, apesar de muitos dados estarem disponíveis atualmente, eles requerem análises e correlações complexas que, com a IA, podem ser processadas rapidamente”, analisa Arruda.

Davi Carboni, Head of Digital Enterprise da Siemens, afirma que a Inteligência Artificial pode oferecer benefícios significativos para empresas de Geração, Transmissão e Distribuição de energia, como processamento e análise de grandes conjuntos de dados, otimização de projetos e produção e manutenção preditiva. “Soluções baseadas em IA, como recomendações inteligentes e detecção de anomalias, podem melhorar a eficiência, produtividade e flexibilidade, resultando em melhores experiências para os clientes”, aponta.

Sobre os benefícios da IA para as empresas industriais, Thiago Arruda diz que além de tudo o que já foi mencionado, a IA, em geral, proporciona maior performance operacional, desde a otimização da produção até a melhoria da qualidade e redução de custos, entre outros benefícios já citados e que englobam a indústria. “Na escala industrial, tudo isso ganha ainda mais força e impacto, trazendo uma maior previsibilidade do consumo e utilização da energia para o negócio, o que garante ainda uma maior vantagem competitiva”, frisa o especialista da ABB.

Renato Bedendi, da Mitsubishi Electric Brasil, considera que a IA pode gerar muitos benefícios com o aumento de eficiência e produtividade industrial, que são os pontos mais desejados pelas indústrias (aumento de eficiência e redução de custos produtivos).

Davi Carboni, da Siemens, ressalta que os benefícios da Inteligência Artificial são multifacetados e se manifestam no produto, no processo e nos níveis estratégicos de fabricação. “Com a IA, as máquinas não precisam mais de programação especial para realizar tarefas específicas, pois são instruídas a aprender com sua própria experiência”, define.

Carboni cita as vantagens da IA para as indústrias:

Detecção precoce de falhas – Graças à análise contínua de Big Data, anomalias no processo de produção são detectadas em um estágio inicial. Assim, a manutenção necessária pode ser prevista e os erros podem ser resolvidos antes que eles ocorram.

Melhor planejamento da manutenção – Evita paradas de produção não planejadas, alinhando suas atividades de manutenção e serviço com os requisitos reais de sua máquina ou sistema.

Melhor desempenho do OEE – Usando algoritmos de Inteligência Artificial, é possível aproveitar o potencial de melhoria no processo de produção – e economizar tempo e dinheiro.

Principais projetos de IA e resultados obtidos

Nathália Padilha reforça que o futuro da energia passa pela Inteligência Artificial e destaca que o IATI está na vanguarda desse movimento, desenvolvendo soluções que garantem eficiência e inovação para o setor elétrico.

Nesse sentido, o IATI tem desenvolvido soluções inovadoras baseadas em IA para otimizar a operação, manutenção e segurança do setor. “Nossa atuação está focada na análise de grandes volumes de dados para prever falhas, otimizar recursos e aumentar a confiabilidade das redes elétricas”, resume Nathália.

Entre os principais projetos que aplicam IA, a executiva destaca:

  • O projeto AMI, desenvolvido em parceria com a CPFL. Neste projeto, o IATI aplica IA para analisar padrões de consumo de energia e detectar perdas não técnicas (fraudes). O sistema utilizou modelos estatísticos avançados e aprendizado de máquina para identificar anomalias, reduzir perdas comerciais e melhorar a gestão da energia;
  • Os projetos Consciência Situacional e Análise de Perturbações, ambos desenvolvidos em parceria com a EVOLTZ. No primeiro projeto, utiliza-se IA para integrar e interpretar dados de diferentes fontes, fornecendo um painel de controle avançado para operadores visando melhorar a capacidade de tomada de decisão em tempo real. Já no segundo, aplica-se IA para analisar oscilações e falhas no sistema, utilizando técnicas avançadas de processamento de sinais. Com isso, foi possível reduzir o tempo de resposta a eventos críticos e melhorar a estabilidade da rede;
  • O projeto SIOGA desenvolvido em parceria com Furnas/Eletrobras. Nesse projeto, o IATI utiliza machine learning e análise preditiva para a gestão de ativos, prevenindo falhas e reduzindo custos operacionais, aumentando a eficiência da manutenção e prolongando a vida útil dos ativos.

Além dos resultados já mencionados, como a redução de custos operacionais, aumento da confiabilidade do sistema, redução de tempo de inatividade e risco de apagões, Nathália Padilha considera importante destacar o excelente resultado obtido no projeto AMI, onde foi possível conceber uma plataforma flexível e configurável que permite a leitura, transmissão, armazenamento e processamento inteligente dos dados com uso de big data analytics, de forma segura e voltada para novos negócios (business intelligence). “A plataforma foi construída de maneira a facilitar a integração da solução aos sistemas da distribuidora de energia. O projeto piloto foi aplicado na cidade de Jaguariúna, em São Paulo, e os resultados foram bastante satisfatórios, atingindo 60% de assertividade. O sistema superou a abordagem padrão que utiliza dados de consumo mensal. A abrangência de aplicação dessa solução é notável, pois pode ser adotada por todas as distribuidoras de energia do Brasil que já possuem medidores inteligentes em sua rede”, divulga Nathália.

Uma das soluções de IA da Mitsubishi Electric é aplicada aos inversores de frequência, onde o recurso é utilizado para facilitar e reduzir o tempo para a solução de falhas, onde o equipamento faz a análise do problema e apresenta a causa e a solução. “Existem projetos desta solução com IA aplicada à indústria automobilística, onde o principal benefício foi a redução de forma considerável de paradas não programadas, proporcionando assim um aumento de eficiência produtiva”, conta Renato Bedendi.

Renato Bedendi
Especialista de Produtos e Aplicação da Mitsubishi Electric Brasil

Segundo o especialista, a Mitsubishi Electric já utiliza IA em seus processos industriais há mais de 20 anos e isto foi necessário para conseguir obter aumento de produtividade com uma variedade de produtos acabados muito maior. “No segmento de automação industrial, existe uma variação enorme de produtos e dispositivos que são produzidos em uma mesma linha de produção. Sem esse recurso, seria impossível atender toda esta variedade mantendo competitividade”, frisa Bedendi.

De acordo com Thiago Arruda, em geral, todas as soluções ABB são baseadas, basicamente, em: gerenciamento, previsão e otimização dos custos. Com o uso da IA, esses processos se potencializam e se tornam ainda mais eficientes no que diz respeito à gestão de dados e decisões. “Um exemplo disso são os serviços digitais com modelos As a Service (aaS). Esta coleção de softwares, sistemas e ferramentas é baseada em processamento via ‘nuvem’, o que permite uma análise de dados mais abrangente”, comenta.

Como exemplo, Arruda cita o relato de alguns consumidores industriais: “A crescente demanda, a otimização de custos e a eficiência energética estão inspirando novos caminhos para colaboração e inovação. A vantagem do ABB Ability™ Energy Manager é sua escalabilidade e velocidade: ele permite que as organizações comecem pequenas e identifiquem oportunidades de economia de energia em tempo real”. O ABB Ability™ Energy Manager simplifica o monitoramento e o rastreamento sistemáticos de energia, fornecendo informações claras e práticas para ajudar no processo de melhoria contínua.

No uso das soluções para os clientes, a ABB possui um vasto portfólio de soluções que contribuem para todos esses benefícios citados da IA, entre eles a otimização e a gestão para os clientes. “O uso de tecnologias em nossos produtos e em dispositivos inteligentes (IOT), combinado com plataformas de software IA, apoia a digitalização e a transformação digital em todas as camadas alinhadas com os desafios de gestão de energia e gerenciamento de ativos. Alguns exemplos que podemos citar são o ABB Ability™ Energy e Asset Management, gerenciamento de Transformadores com o Trafcom e a mais recente parceria com a Edgecom Energy, startup de gerenciamento de energia com IA”, menciona Arruda.

Entre as soluções contendo IA que a Siemens oferece para o mercado, destacam-se:

  • Monitoramento de condição – Machine Learning e a Inteligência Artificial desempenham um papel significativo no monitoramento de longo prazo dos dados gerados continuamente. Os conjuntos de dados gerados por uma fábrica podem ser usados para detectar tendências e padrões que, com o auxílio de uma combinação de diferentes parâmetros de sensores, podem ajudar a tornar a produção mais eficiente ou economizar energia. Consequentemente, as plantas são constantemente adaptadas às novas circunstâncias e otimizadas ainda mais sem intervenção do operador.
  • Serviços Preditivos – A análise inteligente de dados é o núcleo da tecnologia por trás dos Serviços Preditivos. Os especialistas da Siemens em serviços fornecem análises detalhadas de dados de condição e fontes de erro, bem como recomendações específicas para evitar surpresas desagradáveis no cliente graças ao planejamento de manutenção otimizado. Dessa forma, com o auxílio da Inteligência Artificial, o cliente pode vislumbrar o futuro da sua planta.
  • Análise de desempenho – A coleta de dados operacionais permite que o cliente avalie de forma ágil seus processos, possibilitando que ele explore o potencial de eficiência inexplorado. Isso reduzirá seus custos de produção e aumentará a eficiência geral do sistema (OEE).

Davi Carboni, da Siemens, complementa dizendo que a Inteligência Artificial está revolucionando o desenvolvimento e a aplicação dos Gêmeos Digitais, tornando-os mais inteligentes, autônomos e preditivos. “A integração da IA com Gêmeos Digitais permite que eles analisem grandes volumes de dados em tempo real, aprendam padrões e tomem decisões otimizadas, impulsionando eficiência e inovação em diversos setores”, conclui.

UniPotência utiliza IA no ensino

Desde o começo de 2025, todos os cursos da UniPotência (Universidade Potência Educação) contam com auxílio para esclarecimentos de dúvidas de uma ferramenta que utiliza a Inteligência Artificial. Ela se chama “Potência Tutor”, que é um agente tira-dúvidas treinado com IA.

Hilton Moreno (foto), diretor da Revista Potência e da UniPotência explica que a IA utilizada pelo Potência Tutor é nativa da plataforma da Hotmart que a empresa usa para hospedar todos os seus cursos.

Hilton Moreno
Diretor da Revista Potência e da UniPotência

“Ela fica disponibilizada dentro da área do aluno e funciona da mesma forma que qualquer IA aberta, como o ChatGPT, por exemplo. A grande e importante diferença do Potência Tutor comparado com uma IA aberta é que ele é treinado continuamente apenas com o conteúdo existente dentro do curso. Na prática, o Potência Tutor busca as respostas em todos os vídeos e demais materiais existentes apenas dentro do curso. Com isso, a resposta oferecida para o aluno é como se fosse o professor conversando com ele. Desta forma, elimina-se o risco da IA ‘viajar’ pela internet aberta, trazendo informações sem sentido ou até mesmo erradas sobre aquele determinado assunto”, detalha Hilton. Milhares de alunos utilizam diariamente o Potência Tutor e os resultados são bastante animadores. “A ótima notícia é que, como em qualquer IA, quanto mais consultas ela receber, mais ela vai aprendendo e dando respostas mais precisas e detalhadas. Estamos muito satisfeitos com o funcionamento da ferramenta e confiantes que ela será cada vez mais valiosa e apreciada pelos alunos de todos os nossos cursos”, avalia Hilton Moreno.

Na opinião do diretor da UniPotência, não existe nenhuma dúvida quanto a utilização da IA ter chegado de vez na educação em geral e na engenharia, em particular. “A qualidade e a quantidade de informações que a IA traz para os professores e alunos não têm limite de crescimento e contribuirão cada vez mais para melhorar a qualidade dos cursos. Contudo, como qualquer ferramenta, ela deve ser utilizada com muita sabedoria, uma vez que, no estágio atual, nem todas as respostas que ela apresenta podem ser consideradas cem por cento confiáveis. Isso é particularmente verdadeiro no caso das inteligências artificiais ‘abertas’, que são a maioria dos casos, onde a IA garimpa as respostas em todo o universo da internet, o que pode resultar em informações incorretas ou falsas em muitos casos”, alerta Hilton.

O diretor da UniPotência destaca que no ensino, é papel do professor conferir se as respostas oferecidas pela IA fazem sentido e se devem ou não ser passadas adiante para os alunos.

“Particularmente, vejo com muito otimismo o uso da IA na educação técnica, sempre com a curadoria dos mestres, como fazemos na UniPotência”, completa Hilton.

Tendências de IA no setor elétrico e principais desafios

Nathália Padilha, do IATI, observa que o futuro da energia se mostra cada vez mais digital, descentralizado e sustentável, com bastante apelo para redes elétricas autônomas, manutenção preditiva eficiente e maior segurança cibernética. “A demanda por sistemas inteligentes para a gestão descentralizada de microgrids é latente e avançar nesse sentido é primordial para garantir uma maior independência energética para consumidores e indústrias. Vale destacar também o uso de drones com IA para inspeção de redes e subestações, visando identificar falhas críticas que possam comprometer o bom funcionamento do sistema”, aponta.

Para Nathália, embora a IA ofereça grandes oportunidades, sua implementação ainda enfrenta desafios técnicos, operacionais e estratégicos. “Por exemplo, a IA depende de dados limpos, bem estruturados e representativos. Na grande maioria dos casos, a realidade das empresas é um pouco diferente, onde os dados estão incompletos ou inconsistentes, o que reduz a precisão dos modelos, ou problemas de acesso a dados históricos para treinar modelos preditivos. Nesse sentido, investir em governança de dados, sistemas de armazenamento eficientes e integração de plataformas é fundamental para disponibilizar o volume de dados necessário para o treinamento eficaz dos modelos. Outro desafio importante é a escassez de profissionais capacitados. Para superar esse entrave, a melhor solução é investir em capacitação interna e parcerias estratégicas que já possuam expertise no desenvolvimento de soluções aplicadas ao setor”, analisa a especialista do IATI.

Como tendência envolvendo a IA, Renato Bedendi, da Mitsubishi Electric, diz que certamente os recursos para solução de problemas irão aprimorar muito, aumentando a assertividade e reduzindo o tempo de avaliação e solução. “Não acredito que a IA vá ter um envolvimento no projeto de linhas de produção e processos produtivos”, complementa.

Como desafio, na parte de negócios, Bedendi acredita que a IA terá ação na análise de dados de mercado para auxiliar nas decisões de negócios, mas ele observa que não podemos esquecer que em negócios, o fator humano é essencial.

Para Thiago Arruda, da ABB, no que diz respeito à área de Geração, destacam-se tendências relacionadas à otimização da produção de energia, continuidade de fornecimento e previsão de manutenção, além de uma maior eficiência energética. Na Transmissão de energia, podemos considerar as tendências que envolvem gestão e monitoramento em tempo real do sistema elétrico e detecção antecipada de problemas na infraestrutura. Por fim, na Distribuição, o conceito de “Demand – Response” apresenta tendências que trazem contratos inteligentes que ajustam o uso de energia em determinados horários, com análise de dados e previsão de demanda.

Thiago Arruda
Gerente de Soluções Digitais da ABB Eletrificação

Segundo Arruda, no setor elétrico, além dos desafios já conhecidos (falta de dados, necessidade de integração entre sistemas, custos e falta de captação profissional), a aplicação da IA exige ainda uma atenção à complexidade dos sistemas, à necessidade de alta precisão e confiabilidade, além do cumprimento de regulamentações de segurança e impacto socioambiental. “Isso pode ser enfrentado com um plano estratégico de longo prazo, que apresente soluções, investimentos e modernizações dos sistemas atuais”, sugere.

Davi Carboni, da Siemens, destaca que a indústria está se tornando cada vez mais digitalizada a empresa digital já é uma realidade. Os dados são continuamente gerados, processados e analisados. Os volumes de dados em ambientes de produção são a base na qual as representações digitais de usinas e sistemas inteiros são geradas. Estes gêmeos digitais têm sido utilizados há algum tempo para estruturar o planejamento e o projeto de produtos e maquinários — e as próprias operações de produção — e fazer isto com mais flexibilidade e eficiência, ao fabricar produtos personalizados de alta qualidade com mais rapidez e a um preço acessível. “Com a IA, as máquinas e os processos podem já coletar percepções a partir destes altos volumes de dados e otimizar seus processos durante o funcionamento real”, aponta.

Carboni cita um estudo da Roland Berger que diz que, até 2035, redes inteligentes e digitalmente ligadas a sistemas e cadeias de processos poderiam representar um crescimento adicional de cerca de €420 bilhões somente na Europa Ocidental. De acordo com um estudo da PwC, a inteligência artificial também pode contribuir com até US$ 15,7 trilhões para a economia global em 2030.

Embora a IA possa trazer eficiência e inovação para os negócios, Davi Carboni comenta que superá-los exige planejamento estratégico, investimentos em infraestrutura e qualificação de equipes. “Empresas que conseguem lidar bem com esses desafios têm maior chance de obter sucesso e vantagem competitiva no mercado”, acredita o especialista da Siemens.

Outra preocupação que o usuário deve ter é que o uso da IA implica na maior necessidade de investir em cibersegurança. “Sempre que o envolvimento de análise de dados aumenta, a segurança de informação deve crescer na mesma proporção para garantir que não haja vazamentos”, alerta Renato Bedendi.

Thiago Arruda lembra que, por se tratar da infraestrutura de um país, o setor (elétrico) é muito sensível a ataques e necessita uma atenção especial aos sistemas de defesas cibernéticas. “Porém, as próprias tecnologias com base em IA também podem oferecer respostas rápidas e direcionadas contra possíveis ameaças no sistema”, observa.

Davi Carboni ressalta que uma condição prévia para a Inteligência Artificial é uma infraestrutura de TI de última geração, de ponta a ponta, independentemente do tamanho da empresa. “Esta é a única forma pela qual uma empresa pode se tornar parte do futuro digital. Mas isto deve sempre ser acompanhado por uma conscientização de que a digitalização e a segurança cibernética precisam andar de mãos dadas. Os riscos são enormes sem as proteções corretas em vigor. De acordo com o Relatório de Risco Global do Fórum Econômico Mundial de 2018, os prejuízos de atividades por conta de crimes cibernéticos nos próximos cinco anos chegarão a US$ 8 trilhões, superando em muito o PIB da Alemanha. A proteção abrangente para instalações industriais, conforme exemplificado pelo conceito da Siemens de defesa em profundidade, terá, portanto, um papel fundamental no futuro. Afinal, os hackers estão cada vez mais inteligentes e é vital que as empresas estejam à frente deles”, pondera.

Davi Carboni
Head of Digital Enterprise da Siemens

O papel da IA no processo de transição energética

Nathália Padilha comenta que a Inteligência Artificial impulsiona a sustentabilidade de diversas formas. Na sua opinião, a principal delas é a viabilização da adoção de fontes renováveis intermitentes, seja através da previsão da geração, otimização do despacho de energia ou da redução de desperdício, garantindo que o excedente de energia seja armazenado em baterias e/ou utilizado em momentos estratégicos. “Tais ações ajudam as empresas a reduzirem suas emissões de carbono e cumprir metas ambientais globais”, justifica.

Para Renato Bedendi, da Mitsubishi Electric Brasil, como a IA tem proporcionado um ganho de tempo na solução e prevenção de problemas, automaticamente está havendo um aumento de eficiência, tanto na redução de perdas energéticas quanto no aumento da disponibilidade de operação.

Thiago Arruda, da ABB, diz que quando pensamos em transição energética e IA os conceitos principais que se associam são: previsão e controle. Isso porque quando um sistema precisa passar por esse processo e novas fontes precisarão ser consideradas, a gestão dos dados ganha ainda mais importância e a IA torna esse processo mais eficiente, promovendo um melhor aproveitamento dos sistemas de produção disponíveis. “A IA também pode ser uma grande aliada em todo o processo, da produção à distribuição e até mesmo à experiência dos consumidores, isso porque ela

pode entender às demandas pontuais, priorizar sistemas, analisar perfil, entre outras necessidades. Outro ponto relevante é integração entre fontes de energia renováveis – o Smart Grid”, opina.

Davi Carboni, da Siemens, destaca que a IA tem um papel fundamental na transição para fontes de energia mais limpas, facilitando a integração de energias renováveis, como a solar e a eólica, nas redes elétricas. “Os sistemas integrados estão transformando a administração das redes inteligentes, tornando-

-as mais autônomas e capazes de se ajustar em tempo real. Na prática, isso resulta em uma previsão e controle extremamente precisos das variações na produção de energia renovável, que antes representavam um grande desafio para a estabilidade da rede elétrica”, menciona.

Como escolher a melhor solução de IA para os negócios?

Para Nathália Padilha, essa não é uma resposta tão simples. Ela aponta que antes de investir em uma solução, é fundamental identificar o problema que a empresa pretende resolver através da utilização da IA. Em seguida, é necessário conhecer um pouco mais sobre as tecnologias de IA disponíveis e definir qual/quais se adequam melhor à necessidade da empresa como, por exemplo, machine learning (aprendizado de máquina), processamento de linguagem natural (NLP), entre outros. “Outro ponto importante é avaliar a infraestrutura e os dados disponíveis, pois empresas sem infraestrutura robusta podem optar por plataformas de IA na nuvem ao invés de realizar o processamento local”, complementa.

Nathália destaca ainda o que talvez seja o item mais importante desse diagnóstico: a escolha de um parceiro estratégico para auxiliar no desenvolvimento da solução. “Empresas que necessitem de soluções customizáveis, flexíveis, testadas e confiáveis podem buscar parceiros especializados, como institutos de pesquisa e empresas de tecnologia. Nesse sentido, o IATI desenvolve soluções personalizadas de IA para empresas do setor elétrico, garantindo inovação e suporte técnico especializado”, avisa.

Na opinião de Renato Bedendi, especialista da Mitsubishi Electric Brasil, a escolha da melhor solução passa pela avaliação de resultados obtidos com cada determinada IA e assim definir quais são as melhores para cada tipo de negócios ou processos.

Thiago Arruda informa que os consultores da ABB podem dar um suporte importante na identificação da melhor solução para o cliente, com base nas necessidades apresentadas. “Esta análise é feita de maneira estratégica, alinhada aos objetivos empresariais. A partir das definições, a IA poderá impulsionar a transformação digital e a inovação nos negócios”, conta o especialista.

Davi Carboni, da Siemens, comenta que escolher a melhor solução de IA para os negócios envolve entender as necessidades da empresa, avaliar as opções disponíveis e considerar fatores como custo, escalabilidade e facilidade de implementação. “Porém, antes de iniciar a implementação de IA é essencial entender qual problema a empresa visa resolver com a implementação da tecnologia”, orienta.

Para Nathália Padilha, empresas de qualquer tamanho podem empregar a IA com sucesso. Ela lembra que embora a adoção da IA tenha começado com grandes concessionárias e operadoras de sistemas de transmissão, hoje, empresas de pequeno e médio porte também podem se beneficiar desse movimento. “Como exemplo podemos destacar empresas que operam pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e usinas solares. Elas podem usar IA para prever níveis de geração e ajustar a oferta de energia conforme as condições climáticas e de mercado”, identifica. Contudo, prossegue Nathália, apesar dos benefícios, algumas empresas podem enfrentar desafios na adoção da IA, como a falta de conhecimento técnico e integração com sistemas existentes. “O IATI, por exemplo, tem procurado desenvolver soluções escaláveis e acessíveis, que garantam que negócios de diferentes tamanhos consigam implementar IA com sucesso”, informa.

Renato Bedendi concorda que empresas de qualquer porte podem empregar a IA com sucesso. “O custo de aplicação de IA vem reduzindo e qualquer processo terá melhorias utilizando o modelo adequando de IA”, avalia.

Thiago Arruda conta que atualmente as soluções com IA disponíveis na ABB atendem a qualquer perfil de cliente. “As escolhas dos softwares e soluções estão relacionadas aos desafios a serem superados com as tecnologias”, avisa.

Davi Carboni, da Siemens entende que empresas de qualquer porte podem empregar IA com sucesso, mas a abordagem varia conforme os recursos disponíveis, a maturidade digital da companhia e os objetivos estratégicos. “A Inteligência Artificial permite o processamento e análise confiáveis de conjuntos de dados grandes e complexos ao longo de todo o ciclo de vida de um produto, contribuindo para produtos melhores, softwares mais eficientes e produção mais otimizada, independente da empresa. A IA pode ajudar a criar produtos melhores e tornar as ferramentas de design mais eficientes. Na automação, as análises baseadas em IA permitem a manutenção preditiva, fornecendo a base para a redução dos tempos de parada e garantindo um alto nível de qualidade por meio da detecção precoce de anomalias/erros já durante o processo de produção em andamento”, analisa Carboni.

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