Logística reversa para baterias de carros elétricos

Em 2022, o Brasil ultrapassou a marca de cem mil veículos híbridos e elétricos vendidos. O peso total das baterias elétricas que movem esses automóveis é de aproximadamente 34 mil toneladas, das quais cerca de 30 toneladas, pelo menos, são componentes já em final de vida útil.

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Apesar do impacto positivo dos carros elétricos para a mitigação das emissões de gases de efeito estufa, a ausência de uma regulamentação para a logística reversa de suas baterias representa um potencial risco ambiental para o país. O diagnóstico foi feito por pesquisadores do Mestrado Profissional em Ciências do Meio Ambiente da Universidade Veiga de Almeida (UVA), em um estudo que será publicado em outubro.

Estimativas indicam que, enquanto uma bateria tradicional de veículo a combustão pesa, em média, 14,4 kg, uma bateria de veículo elétrico leve típica possui entre 200 e 300 kg, com vida útil entre 10 e 15 anos.

Caso nada seja feito, até 2030 o país poderá receber toneladas de baterias de veículos elétricos leves inservíveis como rejeitos que apresentam um potencial risco ambiental devido à presença de substâncias tóxicas e com altas probabilidades de explosões e incêndios, explica Carlos Eduardo Canejo, coordenador do Mestrado Profissional em Ciências do Meio Ambiente da UVA e um dos autores da pesquisa.

“A logística reversa desses equipamentos precisa de políticas regulatórias adequadas. A não regulamentação impossibilita, na prática, que baterias usadas e inservíveis de veículos elétricos sejam devidamente recicladas e inseridas na economia circular. A principal alternativa tem sido a devolução aos fabricantes ou importadores, mas sempre correndo o risco que o gerenciamento inadequado dessas baterias possa se converter em riscos à saúde humana e ao meio ambiente”, completa.

As primeiras baterias de veículos elétricos leves registradas no Brasil estão entrando no período de fim de vida útil, de acordo com levantamento iniciado em 2012 pela Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE) a partir de dados do Registro Nacional de Veículos Automotores (RENAVAM). Até o momento, não existe uma regulamentação do que fazer especificamente com essas baterias.

A lei federal 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) no Brasil, o posterior decreto federal 10.936/2022, que regulamentou a PNRS, e o decreto federal 11.043/2022, que instituiu o Plano Nacional de Resíduos (PLANARES), instituem a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos e a logística reversa dos resíduos sólidos, dentre os quais as pilhas e baterias usadas e inservíveis.

Para Dalton Domingues, mestrando em Ciências do Meio Ambiente da UVA e idealizador do estudo, o Acordo Setorial para implementação de Sistema de Logística Reversa de Baterias Chumbo Ácido parece ser o sistema já implementado e oficializado que melhor poderia atender a demanda da destinação adequada das baterias de carros elétricos. “A medida adotada possui escalabilidade — recolheu e destinou adequadamente 275.250 toneladas de baterias em 2019 — e está presente com Pontos de Entrega Voluntárias em 80% dos municípios brasileiros, ao contrário do sistema de logística reversa de pilhas e baterias, que só atua em 560 municípios”, avalia.

Em 2022, embora os veículos elétricos leves tenham garantido apenas 2,5% na participação do market share nacional, isso correspondeu a praticamente 27% (em peso) de todas as baterias vendidas em conjunto com os respectivos automóveis.

Em países como a Noruega, esses automóveis já representam cerca de 40% da frota veicular total, principalmente devido à iniciativa governamental de proibir a venda de veículos movidos a combustíveis fósseis, até a data limite de 2025. Iniciativa semelhante foi conduzida pela União Europeia e Reino Unido para os prazos finais em 2030 e 2035, respectivamente. A expectativa é que a venda de carros elétricos no Brasil continue crescendo exponencialmente.

“Embora a inserção desses veículos seja cada vez mais pronunciada no Brasil e no mundo, nem todos os impactos ambientais são potencialmente positivos. Precisamos debater e regulamentar o do fluxo da logística reversa baterias de carros elétricos”, conclui o pesquisador da UVA.

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