Uma história de sucesso

No primeiro trimestre de 2020, Regilene de Sousa Nogueira Carvalho, inspetora de qualidade, viu-se em aviso-prévio. A indústria de placas eletrônicas que ela trabalhava havia apenas um ano decidira fechar suas portas, por medo da pandemia. Era uma operação nova, com apenas dois anos, que não tinha problemas, mas não performava em seu potencial máximo, e os proprietários acreditaram que a crise pela qual o país passaria nos meses subsequentes tornariam a situação insustentável.

Foi em abril que dois empresários, Hidalgo Dal Colletto e Ricardo Helmlinger, compraram a indústria Standard America e readmitiram todos os colaboradores. “Eu nem acreditei que, aos 50 anos de idade, tinha meu emprego de volta. Sentia imensa tristeza pela indústria ser fechada e medo porque já tenho certa idade para o mercado de trabalho, sentia que não conseguiria emprego facilmente. Com a compra pelos sócios, vi uma luz no fim do túnel”, lembra Regilene.

Assim como ela, as demais 25 trabalhadoras da parte operacional da fábrica – todas mulheres, com idade média de 45 anos – foram recontratadas. Para aumentar a produção, os sócios dobraram o tamanho da equipe, contratando mais mulheres com o mesmo perfil.

Tech for Humanity

Hidalgo Dal Colletto e Ricardo Helmlinger, porém, acreditam que não basta contratar pessoas. “A nossa ideia é investir nelas, para que possam aprimorar seus conhecimentos e crescer. Só assim, ficarão satisfeitas e darão o melhor de si”, enfatiza Helmlinger.

Por isso, eles aderiram à iniciativa mundial Tech for Humanity, que tem como princípio humanizar os profissionais ligados à tecnologia, um setor reconhecido pela automatização de processos. “A ideia é valorizar pessoas, acolhendo-as em suas necessidades. Assim, já implantamos o apoio à saúde, por meio de planos médicos e acompanhamento de nossos profissionais com um checkup anual, preventivo”, informa Dal Colletto.

Outro ponto que a Standard America aprimorou foi o da capacitação profissional de seus colaboradores. Todo o pessoal de produção está passando por reciclagens e treinamentos oferecidos pela própria indústria e receberá bolsa de estudos integral para a realização de cursos técnicos. Já os profissionais de nível administrativo que desejarem realizar cursos de graduação, pós-graduação, MBA ou afins terão também suas bolsas garantidas. “Nossa ideia é reter talentos, para termos uma equipe cada vez mais alinhada com nossos valores”, preveem os sócios.

Thaís do Carmo, técnica em eletrônica, de 34 anos, diz-se ‘transbordando de alegria”, com a oportunidade de cursar engenharia de produção, a partir da bolsa oferecida pela Standard America. Ela também passou pelo período de aviso prévio e estava prestes a ser demitida quando a indústria foi comprada, em abril, e hoje quase não acredita que conseguiu uma bolsa de estudos para a graduação. “Há alguns anos eu entrei na faculdade, mas tive que abandonar o curso, por estar além de minhas condições financeiras. Agora, estou realizando um sonho”.

A nova gestão da indústria Standard America também implantou uma novidade que pode unir ainda mais os colaboradores à empresa: a partir de agora, eles poderão tonar-se acionistas da empresa (ação preferencial sem direito a voto). “Vamos ensinar, por meio de uma capacitação, o que são ações e como elas funcionam, deixando nossa equipe ciente de que será possível investir na empresa e tornar-se parte dela de outra forma, ainda mais próxima”, diz Dal Colletto.

Standard America

Foi em abril deste ano que Hidalgo Dal Colletto e Ricardo Helmlinger compraram uma indústria de placas eletrônicas com sede na cidade de Campinas, em São Paulo. A partir da aquisição, eles revolucionaram a gestão da empresa e os resultados começaram a aparecer: em quatro meses, a empresa faturou o equivalente a todo o ano de 2019. “Na verdade, levamos dois meses para formar uma equipe, formar uma nova carteira de clientes e ajustar a relação com os que já compravam da gestão anterior e dobrar a capacidade operacional. O faturamento veio nos dois meses seguintes. Então, podemos dizer que faturamos em 60 dias o equivalente ao ano anterior”, comemoram os sócios. Em junho e julho de 2020 a Standard America faturou mais de R$ 2 milhões – o faturamento de todo o ano de 2019 foi de R$ 2,3 milhões. “Fizemos tantas mudanças e investimentos na nova indústria que já começamos a ver os resultados, efetivamente”, diz Dal Colletto, CEO da companhia.

As mudanças implantadas – que incluíram a ampliação da gama de produtos e serviços; contratação do dobro de profissionais (e recontratação de todos os que estavam em aviso-prévio); abertura de mercado internacional; mudança total na identidade da marca; injeção de capital; fomento a novos negócios, com oferta de crédito a clientes e até patrocínio cultural a uma artista – foram de altíssimo impacto na estrutura e no modo como a indústria conduzia seus negócios.

Como nasceu a Standard America

Se comprar uma indústria que estava prestes a fechar suas portas seria, teoricamente, um risco, imagine fazê-lo em plena pandemia. “Eu estava procurando um negócio para investir e liguei para um amigo, que sabia que também estava estudando coisas novas. Falei: se você souber de alguma ‘galinha morta’, que eu possa ressuscitar, me avise. Ele respondeu: eu tenho uma, mas acho que ainda está viva, e lhe proponho sociedade”, conta Hidalgo Dal Colletto, empresário.

O amigo, Ricardo Helmlinger, o levou para conhecer a Stolden, uma indústria de placas eletrônicas localizada em Campinas, com dois anos de fundação e pouco mais de um de pleno funcionamento. Com medo da pandemia, os então sócios da Stolden a fechariam em poucos dias – e já haviam colocado todos os funcionários, uma equipe predominantemente feminina, na faixa dos 45 anos, em aviso prévio. “A indústria não performava, mas também não tinha passivos que a impedissem de crescer. Então, aceitamos o desafio de transformá-la numa indústria rentável, geradora de empregos e multinacional”, lembra Dal Colleto.

O passo seguinte foi o de estabelecer as mudanças necessárias para que a indústria começasse a performar. “Eu venho do mercado financeiro e, assim, implantei um sistema administrativo na Std America muito parecido ao de um banco: aqui, o dinheiro é um insumo, que trabalha ao nosso favor. Assim, injetamos capital na empresa, para que novos profissionais fossem contratados e houvesse ajustes nas necessidades de produção”, lembra Dal Colletto.

As principais mudanças

A Stolden era uma indústria de placas eletrônicas que tinha excelentes profissionais – mas performava pouco. A nova gestão fez com que, em apenas 100 dias, o faturamento de um mês (o de junho) somasse o total de um semestre do ano de 2019. Dentre as mudanças iniciais implantadas pelos novos gestores, estão:

Mudança na identidade visual

Essa foi a primeira mudança realizada pela Standard America. Nova marca, identidade visual, filosofia, tudo nasceu pensando em uma empresa global.

Investimento na equipe

Quando os novos sócios assumiram, a equipe estava toda em aviso-prévio. Todos os profissionais, bastante capacitados, foram recontratados. E o tamanho da equipe mais do que dobrou, com a contratação de pessoal capacitado nas mais diversas áreas da tecnologia.

Ampliação dos serviços e produtos oferecidos

A Std America passou a atuar em todas as frentes necessárias para atender empresas que necessitam de placas eletrônicas – e foi além.

Projetos

A Standard America mantém uma equipe de projetos, capaz de atender empresas que precisam de produtos específicos. Além disso, possui a expertise na área de documentação para requerimento de patente e propriedade intelectual. Essa área foi ampliada, com a contratação de novos profissionais, reconhecidos no mercado.

Suply Chain

A cadeia de fornecimento de insumos, expertise de Ricardo Helmlinger, que atua na área há algumas décadas, foi fortalecida na Std America. Com a entrada dos novos sócios, os clientes da indústria podem contar com parcerias importantes na área de componentes eletrônicos e insumos, que permitem negociações mais precisas e vantajosas para cada projeto.

Produção

Aqui, a contratação de profissionais para reforçarem a área fez diferença. Totalmente focados em atender com rapidez e alta qualidade, as equipes ganharam a confiança de novos clientes e mantiveram a carteira antiga ativa. A Std America também é qualificada como parceiro Gold dos melhores centros de pesquisa e desenvolvimento tecnológico do país, como Instituto Eldorado e CPQD e está apta a trabalhar com o Processo Produtivo Básico (PPB), estendendo o benefício aos seus clientes.

Assistência Técnica

Neste setor, o pós-venda e a manutenção de placas eletrônicas costuma ser uma questão delicada. A nova gestão da Std America passou a oferecer o serviço de assistência técnica aos seus clientes. A indústria, inclusive, fará a manutenção de placas que não produz, desde que, nos equipamentos, haja placas produzidas por ela. Helmlinger trouxe para a Std America, também, uma experiência de mais de uma década em Services Centers, adquirida trabalhando para marcas como Motorola, Sony, Nokia e Ericsson, dentre outras, o que está agregando a área recém-criada.

Fomento ao crédito

Assumida em plena crise, durante uma pandemia, a indústria precisava de seus clientes e de novos compradores. Existiam muitos projetos no mercado, mas, sem crédito – ou com financiamentos caros – eles eram inviabilizados. Aqui, entrou a expertise de Hidalgo Dal Colletto, que veio do mercado financeiro. Com excelente relacionamento com inúmeras instituições financeiras, a Std America criou uma plataforma de suply chain finance (sistema de crédito para a cadeia produtiva), que permite ao empresário obter financiamento para produção de forma desburocratizada, utilizando os próprios contratos como garantia. Assim, a Standard America fomentou a própria cadeia, permitindo aos seus clientes que obtivessem crédito mais acessível para continuar operando, na crise. A ação deu tão certo que passou a ser mais um produto oferecido na carteira da Std America.

Abertura de novos mercados, inclusive internacionais

A Standard America abriu operações em capitais brasileiras onde não operava, como Curitiba (PR) e João Pessoa (PB). Além disso, tornou-se multinacional, com operações nos Estados Unidos e em Portugal. A ampliação da visibilidade trouxe novos clientes – e a intenção é atingir todo o mercado nacional e iniciar as vendas internacionais ainda neste ano.

Injeção de capital

Nenhuma dessas estratégias seria possível sem uma boa injeção de capital. Sem revelar números, os sócios dizem que com investimentos é que foi possível fazer as oportunidades acontecerem. “Muito trabalho, estratégia e contratações nos fizeram ter ótimos resultados – e esse é só o começo”, finalizam os sócios.

Patrocínio cultural

A Std America está investindo em sua primeira ação cultural. A indústria está patrocinando a cantora sertaneja Thalita Ebert, natural de Campinas (SP), cidade na qual a Standard America mantém uma unidade fabril e onde nasceu. A artista está em estúdio, gravando seus primeiros trabalhos autorais, e logo será lançada no mundo do entretenimento com o apoio da Std America.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.