Sudeste lidera ranking nacional em incêndios por sobrecarga

Dados divulgados pelo Anuário Estatístico de Acidentes de Origem Elétrica, da Abracopel (Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade), mostram que, em 2018, foram 155 os incêndios por sobrecarga na região mais rica e desenvolvida do país, quase 30% do número total de 537 eventos. Em número de mortes, foram 26 as vítimas fatais, das 61 registradas.

O levantamento aponta que no país as residências unifamiliares, como casas, são o tipo de edificação mais susceptível aos incêndios por sobrecarga, com 207 ocorrências e 44 mortes. Nos prédios residenciais, esse número foi de 45 eventos e 14 mortes. Embora não haja registro sobre o número de vítimas em comércios de pequeno porte, os dados revelam 130 incêndios ao longo do ano de 2018, permitindo afirmar que os incêndios por sobrecarga ocorrem, majoritariamente, em ambientes residenciais e comerciais.

Para o diretor-executivo da Abracopel, engenheiro eletricista Edson Martinho (foto), o número de incêndios por curto-circuito reflete a defasagem das instalações elétricas nas edificações. “Esses eventos, na maioria das vezes, têm início pela sobrecarga em condutores que, ao terem ultrapassado seus limites de condução de corrente, aquecem e perdem a isolação, dando origem ao fogo”, afirma. “Se atualizadas, as instalações (cabos, disjuntores, fusíveis) corretamente dimensionadas passam a ter dispositivos de proteção que interrompem a sobrecarga, evitando os acidentes”, salienta Martinho.

Na região Sul, embora os incêndios por curto-circuito também tenham sido bastante numerosos (142), as mortes, num total de 9, foram menos frequentes que no Nordeste, que registrou 18 vítimas fatais para um total de 124 incêndios por sobrecarga. As regiões Centro-Oeste e Norte foram as que menos tiveram ocorrências, com 60 e 56, respectivamente, e 5 e 3 mortes.

Em relação ao ano anterior, 2018 registrou um aumento de 18,84% (2017, 451 eventos) no número de incêndios e de 106,66% (2017, 30 mortes) no número de mortes.

Choques Elétricos – O Nordeste continua sendo, pelo terceiro ano consecutivo, a região que mais registra casos de mortes por choques elétricos, com 261 vítimas das 622 no ano de 2018. O Sudeste ocupa a 2ª posição (123), seguido de perto pela região Sul (97), Centro-Oeste (73) e Norte (68). “O desconhecimento dos riscos que a eletricidade oferece é um dos grandes fatores para estes números, mas é possível afirmar que o descaso com a eletricidade configura como o maior vilão”, aponta o porta-voz da Abracopel. As causas mais comuns atribuídas aos acidentes, segundo ele, são as gambiarras elétricas, as instalações elétricas antigas, a falta de manutenção e o uso de uma mesma tomada para conexão de diversos equipamentos ao mesmo tempo. Para Martinho, a prática de contratar profissionais qualificados para a realização de uma instalação elétrica poderia aumentar a qualidade das instalações e torná-las mais seguras, evitando os eventos fatais, ainda tão frequentes.

O estado de São Paulo puxou os números do Sudeste com 65 vítimas, seguido de Minas Gerais (33), Rio de Janeiro (18) e Espírito Santo (7). Em outras regiões, Bahia (60), Rio Grande do Sul (37), Mato Grosso (27) e Pará (21) encabeçam a lista dos estados que mais registraram acidentes com vítimas fatais por choques elétricos.

Apesar de a Bahia ter aproximadamente 1/3 da população do estado de São Paulo, apenas cinco acidentes separam o estado nordestino do mais populoso do país. No outro extremo, o estado de Roraima é o que soma menos ocorrências, com dois registros.

Outro dado levantado pelo Anuário Estatístico da Abracopel diz respeito aos acidentes fatais por choques elétricos no campo. Ali, mais de uma centena de agricultores foram vitimados. “Muitas dessas mortes ocorreram em decorrência do manuseio de máquinas agrícolas próximas a linhas de transmissão e em razão da instalação e manutenção de bombas de poços artesianos e bombas de sucção”, diz Martinho. A construção civil também tem grande parcela nestes dados. Entre os pedreiros e os pintores (61 mortes), as causas mais comuns de acidentes com vítimas são a desatenção com o manuseio de materiais metálicos (barras de ferro ou extensores dos rolos) próximos às redes de energia elétrica. “Ao tocarem a rede, acontece a fatalidade”, diz Martinho.

Série histórica – A série histórica mostra um incremento de 37,2% nos acidentes de origem elétrica em 2018 em relação a 2013, ano de início da pesquisa. Em números absolutos, esse percentual representou um aumento de 386 acidentes. Anualmente, os acréscimos para os períodos 2013-2014, 2014-2015, 2015-2016, 2016-2017 e 2017-2018 foram, respectivamente, 17,82% (185), 2,04% (25), 5,68% (71), 5,15% (68) e 2,67% (37).

Prevenção – Para a Abracopel, reconhecer quais os gargalos que precisam de atenção da sociedade, dos agentes econômicos e do poder público é o primeiro passo para demover a segurança das instalações elétricas do patamar que se encontra para um mais elevado, alega Martinho. “Esse desafio, que prevê a disponibilidade de energia em condições ideais de acesso com instalações elétricas adequadas, previamente dimensionadas e uso de componentes certificados, é o que deve prevalecer, por representar o vetor de desenvolvimento social e econômico que é a eletricidade”, complementa.

O trabalho de conscientização realizado pela Abracopel, com a divulgação do Anuário e informações relacionadas à segurança elétrica, é acompanhado de perto por uma vasta cadeia de suprimentos com indústrias especializadas na fabricação de materiais e componentes, serviços profissionais para manutenção das instalações elétricas, órgãos certificadores e de suporte à normalização, cujas aplicações favorecem desde o dimensionamento ao funcionamento correto dos circuitos elétricos.

Um desses parceiros é o Procobre (Instituto Brasileiro do Cobre), que mantém o site Casa Segura e oferece uma experiência de navegação interativa para simular on line se as instalações elétricas do imóvel proporcionam a segurança ideal aos moradores e à propriedade. Ao visitar os cômodos de uma casa virtual e clicar nos ícones, o visitante do site http://programacasasegura.org/ tem acesso a dicas de segurança e pode conscientizar-se sobre como prevenir acidentes com eletricidade no ambiente domiciliar.

Esse esforço conjunto é um direcionamento sobre como mudar a realidade da segurança das instalações elétricas no Brasil para que nos próximos anos seja possível trilhar um caminho diverso desse que hoje representa a escalada crescente de acidentes.

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